Etiene Medeiros, referência da natação brasileira, diz que racismo está “enraizado” no esporte

Primeira nadadora brasileira campeã mundial em piscina longa (50m) e curta (25m), a pernambucana Etiene Medeiros acredita que o racismo está "enraizado" no

Etiene Medeiros -

Redação Publicado em 26/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h49

Nadadora, única campeã mundial do país em piscina longa e curta, participou de live na manha desta terça-feira

Primeira nadadora brasileira campeã mundial em piscina longa (50m) e curta (25m), a pernambucana Etiene Medeiros acredita que o racismo está “enraizado” no esporte e na sociedade do país. A atleta de 29 anos, que foi finalista nos 50m livre nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, participou de uma live promovida pelo Sesc na manhã desta terça-feira na qual expressou preocupação com a falta de conscientização geral em relação ao assunto.

– [O racismo] É muito enraizado [no Brasil]. De um diretor, de um técnico de faculdade, de um amigo. O racismo é algo muito enraizado. Tem momentos que vivo e passo nos quais transborda o racismo. É difícil porque muitas vezes a gente até duvida. Será que é isso mesmo que eu estou escutando? Que por ser negra, se eu fizer barra, vou ficar mais forte? Ainda escuto muito. Aí você tem que parar e explicar. Mas já está tão enraizado que você tem de usar outras palavras – disse Etiene.

Em novembro, a velocista deu um longo depoimento à série “Na Pele”, do ge, sobre as agruras pelas quais passou desde antes de se estabelecer no esporte de alto rendimento.

Nesta terça, durante a live, ela reiterou que passou a lidar com constrangimentos ainda pequena, sobretudo por causa de seu cabelo. E isso se estendeu ao longo de sua carreira esportiva.

– Por termos poucos atletas negras, vivemos cedo esse contato do preconceito. No meu caso, meu primeiro contato foi com o cabelo – comentou.

Desde que entrou para a seleção brasileira, no início da década passada, Etiene disse que conviveu com poucos atletas negros na equipe nacional. Entre os quais, recorda-se, os olímpicos Nicolas Nilo Oliveira e João Gomes Júnior.

Ela se lembrou de que eles tinham uma espécie de “código” interno para não serem barrados em aeroportos mundo afora nas viagens pela seleção.

– Entre a gente, teve uma época na seleção que era eu, o Nilo e o João Gomes. O Nilo sempre foi um atleta que sempre conversava muito sobre esses aspectos raciais, diálogo, começou a me mostrar esse olhar em aeroportos. Essa fala do Nilo acontecia algumas vezes: ‘Olha, vamos colocar o casaco agora porque vamos estar uniformizados de forma igual’. Era uma coisa naturalizada, mas que a gente sabia que podia acontecer. E hoje, muitas vezes, não só dentro do esporte, mas dentro da vida civil, se eu entrar com meu priminho sem camisa no shopping, já viu. Quantas vezes minha mãe não passou por isso com o meu irmão, de muitas vezes um segurança achar que meu irmão ia fazer algum mal, porque tem essa característica de que o negro sempre vai fazer alguma coisa ruim. Isso não é só no esporte, é na vida normal. O esporte eu posso estar falando via esporte, mas é algo sofrido desde quando nasce. É difícil, às vezes eu fico meio cansadinha de falar, mas as vivências são muitas – complementou a nadadora.

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