Em quase nove meses de Corinthians, o verbo mais conjugado por Marlone foi esperar. O meia-atacante chegou cheio de expectativa ao clube, teve uma lesão, voltou dela no fim da fila de concorrentes no ataque, mas, pacientemente, esperou pela sua chance. Depois dos 2 a 1 sobre o Vitória, nesta segunda-feira, na Arena Corinthians, Marlone completou sua saga até o início dessa fila. E Cristóvão Borges deve, por merecimento, dar uma sequência ao jogador.
Romero, Lucca, Rildo, Luciano, André, Guilherme, Giovanni Augusto, Marquinhos Gabriel, Rodriguinho, Alan Mineiro…Todos já tiveram, em algum momento de 2016, pelo menos três ou quatro jogos seguidos. Marlone não teve essa sequência. Esperava-se que ele tivesse oportunidade depois dos dois gols sobre o Cobresal, na Libertadores. Com Tite, não rolou.
Cristóvão Borges chegou e prometeu chances a todos, mas Marlone foi o último a tê-las. Nunca reclamou pelos cantos, nem deixou de trabalhar. Era questão de tempo. Ao entrar no lugar de Romero, no intervalo, ele pode ter sido protagonista de uma nova substituição na equipe que já havia começado com duas mudanças em relação aos jogos anteriores.
A vitória levou o time aos 37 pontos, na terceira posição da tabela. O Corinthians volta a campo no próximo sábado, contra a Ponte Preta, às 16h (de Brasília), em Campinas.
O jogo
Com Guilherme, Cristóvão iniciou o jogo com o sexto centroavante diferente do Corinthians no Campeonato Brasileiro. Com o camisa 10, o time perdeu presença de área, mas ganhou qualidade e poder de finalização. Talvez esta seja a formação mais técnica que Cristóvão tenha à disposição no momento. Rodriguinho também foi titular, na vaga de Giovanni Augusto.
Montado num 4-2-3-1, depois num 4-1-4-1, o Corinthians teve Elias e Rodriguinho como principais armadores. E Guilherme voltando muito para participar do jogo, dar passes em profundidade e abrir espaços na área adversária para as infiltrações dos meias.
– Eu gostei, pois foi a primeira vez que nós jogamos assim (no 4-1-4-1). A ideia era que a gente continuasse com uma consistência defensiva boa, e que tivéssemos volume de jogo, com variações de jogo que nós temos, pelos lados do campo. E ainda podemos evoluir dessa forma. Pretendo continuar – disse Cristóvão.
A qualidade melhorou, sim, e prova disso foi a ótima jogada que começou e terminou com Fagner, aos 14 minutos. A bola passa por Guilherme, Rodriguinho e Romero até voltar ao lateral – toques quase sempre de primeira, marcas de um time que está se entrosando.
As falhas têm sido as mesmas: nas finalizações. O Corinthians mais uma vez teve volume de jogo, maior posse de bola no primeiro tempo (56%, contra 44% do Vitória), e mais chutes a gol. Das oito tentativas, porém, apenas três levaram algum perigo ao goleiro Fernando Miguel.
A estratégia foi atrair o rival e aproveitar contra-ataques. Assim as chances apareceram. Os laterais também se mostraram mais ofensivos, inclusive Fagner, agora jogador de seleção brasileira. O problema foi deixar espaços na defesa dos dois lados.
Assim nasceu o inesperado gol contra de Yago, que, no desespero, desviou forte cruzamento de Marinho. O Vitória aproveitou a defesa desarrumada, armou um contra-ataque e, quando o atacante já se preparava para cruzar, Yago ainda estava fora da área.
A defesa mais adiantada que Cristóvão gosta de posicionar fica sujeita a esse tipo de situação. É possível jogar assim, claro, mas é preciso também maior cuidado na cobertura. O Corinthians tem 12 gols sofridos em 12 jogos sob o comando do treinador.
A mudança
Cristóvão tinha tentado variações durante o primeiro tempo. Numa delas, inverteu Romero e Marquinhos Gabriel, mandando este último para o lado direito (onde rende mais). Pela esquerda, Romero continuou perdendo no um contra um e produzindo pouco. Foi naquela faixa de campo que entrou Marlone, com liberdade para partir para cima dos marcadores.
Mais confiante, o meia-atacante superou o concorrente logo nesse quesito (o um contra um). Em um de seus primeiros lances, avançou pela esquerda, deu um corte em Diogo Mateus e acertou chute colocado no canto direito de Fernando Miguel: 1 a 1.
Há de se ressaltar também o trabalho de Rodriguinho, que se revezou entre as funções de volante, num 4-2-3-1 do início, e meia, no 4-1-4-1 do restante do jogo. Foi ele quem mais teve a bola pelo Corinthians no jogo: 49 passes certos e um errado.
No fim, com um Vitória desorganizado, o Corinthians não correu tantos riscos. Diante de uma torcida impaciente, Cristóvão Borges tem como missão encontrar logo a formação ideal. Ela passa, certamente, pela presença de Marlone entre os titulares.