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Educação sexual

Qual é a importância da educação sexual em casa?

É importante que a conversa entre adultos e crianças seja algo natural

É importante que a conversa entre adultos e crianças seja algo natural - Imagem: Reprodução/Pexels
É importante que a conversa entre adultos e crianças seja algo natural - Imagem: Reprodução/Pexels

Ana Rodrigues Publicado em 14/09/2023, às 12h28


De ínicio é muito importante reforçar que, conversar sobre sexualidade é muito diferente de falar do ato sexual.

Uma criança precisa saber, desde cedo, quem pode vê-la sem roupa (Por exemplo: o papai, a mamãe e o pediatra), e cuidar das suas partes íntimas. Além de aprender algumas coisas nas escolas, cabe principalmente à família introduzir esses assuntos de forma lúcida e carinhosa, com naturalidade. 

Segundo os psicólogos, em entrevista ao G1, é muito importante que os adultos não se desesperem. Não é necessários "grandes aulas", cheias de detalhes que as crianças nem vão entender, mas não pode haver mentiras, como a história da cegonha. 

Desde a infância, as crianças já devem aprender a:

  • Conhecer o próprio corpo e saber o nome correto de cada parte dele (mesmo que, no dia-a-dia, sejam utilizados apelidos como "pipi" e "pepeca");
  • Aprender a higienizar as partes íntimas; 
  • Entender as noções de privacidade e intimidade; 
  • Saber em quem podem confiar;
  • Perceber o que é um toque de carinho e o que é invasivo e desconfortável; 
  • Respeitar os diferentes tipos de família;
  • Dar nome aos seus sentimentos; 
  • Entender que a curiosidade a respeito do próprio corpo (ou da reprodução humana) é normal.
Falar desde cedo sobre sexualidade ajuda as crianças a se entenderem como seres únicos, donos de seus próprios corpos", afirma Angelita Wisnieski, psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe (PR), o maior hospital exclusivamente pediátrico do país.

E, ainda completou dizendo que:

Elas percebem que o corpo da irmã tem uma partezinha diferente do corpo do irmão, por exemplo. São noções que podem ser construídas na intimidade ou em histórias infantis".

 O principal fator do porque se deve falar sobre sexualidade desde cedo, é o fato de que quando a criança sabe nomear suas partes íntimas corretamente e entende noções de intimidade, ficam mais atentas e protegidas em caso de abuso sexual. Ela vai saber detectar qualquer desrespeito com relação ao seu corpo e saberá com quem falar sobre isso em segurança. 

Rita Calegari, líder da equipe de psicologia da iCareGroup, explica que os assuntos de sexualidade devem fazer parte da rotina da criança desde que ela é bebê.

Pai, mãe, avô ou avó, seja quem estiver dando banho nela, já pode explicar que nenhum estranho deve encostar naquele corpinho. São mensagens que vêm no meio de uma brincadeira, [como] colocando biquíni antes de ir à piscina. ‘Quem pode mexer aqui? Para quem você pode mostrar?’ Não é em tom de ameaça ou de medo. É com naturalidade. Na hora das cócegas, é preciso respeitar quando ela fala que é para parar. Isso tudo é educação sexual", afirmou. 

Ainda segundo a psicóloga, o assunto das conversas vai ficando mais claro à medida que a criança cresce e começa a ter capacidade cognitiva para entender conceitos. Não tem como padronizar o que deve ser dito e explicado em cada faixa etária, caso a criança tenha irmãos mais velhos ou vê TV sem supervisão, por exemplo, ela vai ter um acesso "precoce" a determinados temas e provavelmente começará antes a fazer perguntas sobre sexualidade. O importante é respeitar o ritmo de entendimento e de curiosidade da criança.

O principal segredo de como conduzir as conversas sobre sexualidade com seu filho é ouvir o que ele tem a dizer. 

Quando a criança faz uma pergunta, a gente precisa conter a vontade de dar uma ‘palestra’. É melhor explorar o que ela já sabe”, diz Rita. 

Por exemplo, caso a criança pergunte "O que é sexo?", você pode levantar outro questionamento, como "onde você viu isso, filho? Me conte, aí consigo te explicar direitinho". Pode ser que seja uma dúvida mais simples, como, campo de "masculino ou feminino" de um formulário, ou de fato, uma dúvida de relação sexual. A partir dessa sondagem, já dá para elaborar uma primeira resposta, que pode ser simples, mas deve ser verdadeira. 

Mentir para criança é ocultar uma informação importante para ela, que inclusive pode protegê-la de abusos. E ainda, quando ela descobrir a verdade, poderá pensar que seus pais não são as melhores pessoas com quem deve-se conversar sobre sexo. 

O nível de complexidade [das explicações] vai aumentando. Quando forem explicar como o bebê vem ao mundo, [pais e mães] não devem inventar nada sobre cegonha ou repolho. Já podem falar que ele veio na barriga da mãe. Depois de uns meses, talvez a criança pergunte também como o bebê entrou na barriga. Aí, já dá para dizer que papai colocou uma sementinha na mamãe. Mais um tempo se passa, e ela talvez queira saber como a sementinha foi colocada. Dá para dizer que o papai e a mamãe ficaram pelados, e o papai colocou o pipi dele dentro da vagina da mamãe.”, diz Calegari.

É claro que a explicação vai ser adaptada conforme a história da família (no caso, famílias formadas de casais homoafetivos). 

Não se pode desesperar. Quanto mais natural for o diálogo sobre sexualidade, mais à vontade os filhos vão ficar para tirar suas dúvidas em casa. Caso não saiba responder, é só pedir um tempo a mais e pesquisar. 

A regra geral é não mentir. Pode pensar com calma, desde que não deixe de responder depois. No dia seguinte, já pode dizer: ‘Aqui, filho! Descobri aquilo que você queria saber!’”, exemplifica Rita. 
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