Vai com calma. Como tudo na vida, é só a gente tentar que vai dar certo." A frase de incentivo é dita a uma menina cega que acabou de subir em um skate pela
Redação Publicado em 22/08/2018, às 00h00 - Atualizado às 11h19
Vai com calma. Como tudo na vida, é só a gente tentar que vai dar certo.” A frase de incentivo é dita a uma menina cega que acabou de subir em um skate pela primeira vez na vida. O instrutor, o voluntário Alexandre Fratini, tenta acalmá-la. Alguns minutos depois, ela perde o medo e se deixa levar pelo skate, experimentando uma sensação inédita em 8 anos de vida.
Alexandre faz parte de um grupo de voluntários que ensina skate a pessoas cegas em Sorocaba (SP).
“Cobro de quem pode pagar para conseguir estar aqui hoje e proporcionar isso às crianças. Pode ter certeza que eu sou o que mais aprendo aqui”, afirma o instrutor, que trabalha como procurador-geral do Tribunal de Justiça Desportiva na Confederação Brasileira de Skate.
Com equipamentos próprios e ajuda de voluntários, Alexandre – que anda de skate desde os 10 anos – teve a ideia de convidar alunos da Associação Sorocabana de Atividades para Deficientes Visuais (ASAC) para participar da oficina gratuita na pista de skate do Parque das Águas.
“A ideia surgiu depois de ver pessoas cegas tendo dificuldades em caminhar pelo Centro da cidade. Basta uma pequena adaptação e todos são capazes de fazer tudo”, afirma.
Sete crianças participaram da aula de skate. Destas, quatro são totalmente cegas e três têm baixa visão. A plateia que assistia às crianças subindo e descendo pequenas rampas aplaudia ao término de cada percurso.
“Fiquei com medo quando ele se propôs a fazer isso, mas todos têm muito cuidado e dão muita atenção às crianças”, disse a mãe de Alexandre, Dilena Tratini, que acompanhou o evento.
Segundo a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), existem cerca de 2,5 mil atletas cadastrados em seu banco de dados. É neste pequeno número que Alexandre luta para incluir as crianças.
Para preparar o espaço, Alexandre desenhou linhas no chão com fita crepe. A ideia é simular o piso tátil para os cegos.
Uma das crianças que mais aproveitou o treino livre foi Ana Clara Izidro. A mãe conta que ela teve um tumor e precisou passar por uma cirurgia para retirar os olhos quando tinha apenas 1 ano de idade.
“Gostei, foi tipo uma aventura! Quando desci [a rampa] deu um frio na barriga, mas vou de novo!”, comemora a menina.
A família da Ana veio da Paraíba (PB) para fazer tratamentos em Sorocaba. “Valeu a pena, hoje ela frequenta a escola, já sabe ler e escrever. As atividades da ASAC, onde frequenta de duas a três vezes por semana, também ajudam muito na mobilidade dela”, diz a mãe, Adriana Izidro.
Assim como os amigos, Elienay Pereira, de 11 anos, também nunca tinha subido em um skate. “Não vou mentir que fiquei com um pouco de medo, mas se tiver de novo, quero vir”, diz.
Durante duas horas as crianças aprenderam os passos básicos do skate. Mas, ao final do treinamento, quem sorria mais era o professor.
“Observar estas crianças sorrindo, se superando e se divertindo é o meu maior troféu”, afirma. Alexandre.
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