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Você não precisa amar o seu trabalho!  

Por Fernanda Trigueiro 

Fernanda Trigueiro
Fernanda Trigueiro

Redação Publicado em 26/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h30


Por Fernanda Trigueiro

Você não precisa amar o seu trabalho! 

Talvez o título tenha chamado sua atenção. Sim, é polêmico. Sim, pensei duas vezes antes de publicar. Mas como a coluna é democrática, aqui podemos abrir espaço para reflexões e trocas. E um fato tem me chamado atenção nos últimos tempos. 

Ando observando como o trabalho e a busca do emprego perfeito têm levado as pessoas a angústia. Se antes os poucos homens que se encorajavam a buscar uma terapia, chegavam com o objetivo de resolver problemas profissionais, hoje, o assunto não é exclusivo deles. Mulheres também sofrem com esta pressão. Em uma sociedade mais igualitária ou que busca a igualdade (um dia chegaremos lá assim espero) mulheres e homens querem ser felizes em todos os setores da vida. Querem se sentir completos e realizados. Então, abra a mente quem ainda acha que em pleno ano de 2021, no divã, as mulheres só falam de amor. 

Voltando ao que importa, já ouviu dizer por aí que se trabalho fosse bom se chamaria férias? Brincadeiras à parte, com o advento das redes sociais, vemos e acompanhamos a vida alheia sem nem querer. E é claro, que ninguém posta as reclamações, os pepinos, os problemas com chefes, fornecedores e clientes. Desta forma quem está do outro lado tem sempre a sensação que o emprego do outro é perfeito. E assim quando você pensa na sua situação entra em pânico mesmo. Está de saco cheio, conta os dias pro fim de semana, falta salário e sobra mês, às vezes tem vontade de jogar o despertador longe quando toca e se sente cada dia mais cansado das injustiças da empresa, dos superiores ou mesmo de todo o sistema. Se você se encaixou em algum dessas situações, saiba que não é o único. Inclusive é por isso que os consultórios estão cada vez mais cheios. São profissionais à procura do tão falado “propósito”. Querem saber o porquê vieram ao mundo e para fazer o quê. 

Sinto em te dizer são pouquíssimos os terráqueos como Neymar que descobrem o dom e ganham dinheiro, muito dinheiro com isso. Tem também uma minoria como Zeca Pagodinho que toca, canta, toma cerveja e ainda diz que isso é trabalho. E as digitais influencers, então. Ganham os tais “recebidos” de graça ou ainda recebem fortunas para mostrar produtos e despertar o desejo em quem trabalha duro pra poder adquirir o tal, porém em mil parcelas. Vidas surreais perto das que a gente tem aqui, não é mesmo? Uma vida que parece fácil, mas que por trás de tanto glamour pode nem ser assim, mas aos nossos olhos são. 

E aí embriagados da vida alheia vemos problemas em tudo que acontece na nossa. Achamos que temos que ser felizes durante as 24 horas do nosso dia, que temos que estar sempre realizados com o nosso cargo, com a nossa função e salário. Viver se medindo pela balança do outro é injusto com você e com a sua vida profissional. Da mesma forma que o trabalho não chama férias, emprego não é hobby. Ter um e se dedicar a ele é poder desfrutar de alegrias e de coisas que te fazem bem. E isso você pode fazer quando estiver nas suas horas livres e na sua folga. Não coloque essa responsa na sua carteira de trabalho. Pense você “sozinho” o que você ganha ou perde por estar no seu emprego. Isso também vale para empreendedores e empresários.  

É claro que em situações onde o profissional vive infeliz, em um ambiente de assédio e de desrespeito, esta reflexão deve vir abaixo.  Ai sim, como qualquer outra relação é necessário ir atrás do seu valor e sair fora. Mas como foi dito, meça pela sua balança e não por um mundo que não é seu. Se você não ganha dinheiro jogando bola, não se sinta menos. Assim como você também não recebe para estar sempre lindo e sorrindo nas fotos. Cada um na sua função tem sua importância seja lá qual a atividade for.  

Como a maioria dos trabalhadores tenho dias bons e outros ruins. Por isso, posso não viver uma lua de mel com o meu trabalho, mas quando acabo o trampo, saio de cabeça erguida. Posso não ter feito o melhor, mas garanto que o meu melhor dentro das circunstâncias possíveis, eu fiz. Pense nisso. Seja feliz diante do seu mundo real e não se cobre. Você não precisa amar o seu trabalho, mas faça com amor!

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*Fernanda Trigueiro é uma jornalista apaixonada por pessoas e suas histórias.
Repórter de TV por opção, mas uma escritora por vocação. Vê a notícia além da manchete e dos números.
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