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Você gostaria de assistir a um filme dublado em português pelo próprio Brad Pitt?

Por Reinaldo Polito

Você gostaria de assistir a um filme dublado em português pelo próprio Brad Pitt?
Você gostaria de assistir a um filme dublado em português pelo próprio Brad Pitt?

Redação Publicado em 19/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h30


Por Reinaldo Polito

Você gostaria de assistir a um filme dublado em português pelo próprio Brad Pitt?

Quando me lembro da minha época de jovem lá em Araraquara, no interior de São Paulo, os momentos que me vêm rapidamente à cabeça eram os filmes que eu assistia pela televisão – quase todos dublados pela empresa de Herbert Richers. Por coincidência, meu conterrâneo.

Ele nasceu em Araraquara em 1923. Ao visitar os estúdios da Disney, nos Estados Unidos, Richers ficou fascinado pela forma como os filmes eram dublados. Ao retornar ao Brasil na década de 1950, teve a ideia de criar um estúdio de dublagem com o seu nome. Foi um sucesso estrondoso. Com cerca de 80% das dublagens feitas no Brasil, se tornou a maior empresa no gênero da América Latina. Nos bons tempos, o estúdio fazia até 150 horas de dublagem por mês.

Várias pessoas fizeram a famosa locução de assinatura do estúdio, que era uma espécie de música para todos nós: “Versão brasileira Herbert Richers”. O mais longevo foi Mariano Dublasievicz. Sim, com esse sobrenome profético mesmo, iniciado com “dubla”, já que viria a ser um dublador. Fez essa chamada durante 18 anos. Foi substituído por outra voz marcante, de Márcio Seixas. Com a morte de Richers em 2009 a empresa afundou em dívidas, e desapareceu em 2012 por causa de um incêndio.

Hoje são centenas de empresas de dublagem. Essa proliferação proporciona alguns trabalhos de ótima qualidade. Certas dublagens são até melhores que as interpretações originais. Há casos também em que as vozes dos dubladores são praticamente idênticas às dos atores do filme. O Brasil possui dubladores excepcionais. É considerado um dos melhores centros de dublagens do mundo. O sincronismo da movimentação da boca com a voz em alguns casos é tão perfeito que chega a ser imperceptível.

De uns tempos para cá surgiram empresas especializadas em fazer dublagens usando inteligência artificial. As primeiras tentativas não apresentaram lá uma boa qualidade, mas com o tempo foram se aperfeiçoando. O deepfake, que em uma explicação simples poderia ser entendido como vídeos falsos criados por inteligência artificial a partir de modelos reais, deu origem a essa revolução tecnológica.

Os projetos para o futuro breve são impressionantes. A nova tecnologia consegue acoplar os rostos de duas pessoas num processo denominado deepfaking, e a dublagem apresenta excelente qualidade. O objetivo é usar a voz dos próprios atores nas dublagens em outras línguas. Assim, por exemplo, a voz do Brad Pitt poderia ser trabalhada para dublagens em qualquer língua do planeta. Com o aprimoramento esperado, é como se ouvíssemos o próprio ator falando em português.

O processo é extremamente complexo e sofisticado. Os dubladores profissionais são usados como base para o estudo. Na dublagem são considerados aspectos muito relevantes de cada língua como, por exemplo, a fluência da fala, as pausas, o timbre da voz, a respiração, a emoção da mensagem, o ritmo e outros pontos que podem levar a um resultado excepcional. A partir da introdução dessas variáveis, e sendo fiel à atuação original do ator, pelo emprego de IA há uma espécie de fusão com essas duas estruturas: surge o ator falando nos mais diferentes idiomas. Dessa forma, até o regionalismo de determinadas línguas pode ser considerado.

Os dubladores profissionais não perderão seu mercado de trabalho. Com a introdução dessa nova tecnologia, terão seu campo de atividade ampliado, já que será preciso contar com o talento desses profissionais para desenvolverem o processo de dublagem com a inteligência artificial. Como ocorre com quase todas as atividades, algumas portas se fecham por causa da tecnologia, mas outras se abrem pelo mesmo motivo.

É um mundo novo que se avizinha. Podemos esperar uma verdadeira revolução a partir dessas novidades tecnológicas. Imagino como seria ouvir um ator famoso de Hollywood dizendo: “Versão brasileira Herbert Richers”.

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*Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]
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