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Viva a pureza das respostas das crianças!

Por Fernanda Trigueiro

Fernanda Trigueiro
Fernanda Trigueiro

Redação Publicado em 08/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h22


Por Fernanda Trigueiro

Viva a pureza das respostas das crianças!

Gabriel foi acompanhar o pai na oficina. Depois de dias ouvindo as reclamações sobre o atraso na entrega do carro, ao ver o mecânico não teve dúvidas e perguntou: “Pai, este é o enrolado?”. Sim, era ele. O pai andava dizendo que o cara era enrolado e que dava desculpas para não entregar o veículo no prazo. Gabriel, com a maturidade dos seus quatro anos, deixou todos sem graça. O pai não sabia onde enfiar a cara e o “enrolado” descobriu que era assim que estava sendo chamado por aí.
Claudinha, um pouco mais vivida que Gabriel, no alto dos seus seis anos de idade, ganhou um presente de uma tia distante (daquela que só aparece em datas comemorativas). A senhora toda animada fez um pacote muito bem embrulhado e colorido. Os olhos da menina brilharam. Até abrir… Era uma blusa rosa. Claudinha não escondeu a decepção e na lata disse: “Eu odeio rosa. Só gosto de amarelo”. Todos caíram na risada e a mãe dela precisou trocar o presente.
As duas histórias são reais e demonstram “a pureza das respostas das crianças” como cantou o glorioso Gonzaguinha em “O que É, o que É?”. Só que os anos se passam e essa espontaneidade da infância vai sumindo… Adultos proíbem e a sociedade molda.

Todos nós já tivemos um pouco do Gabriel e da Claudinha. Eu mesma, aos três anos,  bati o pé e tirei o vestido lindo e cheio de bordados que minha mãe tinha comprado para eu usar na minha festinha de aniversário. Chorei, arranquei a roupa, joguei no chão e me vesti com a fantasia do Jiraiya (uma espécie de super-herói japonês que fazia sucesso nos anos 90). Sim, eu já era uma menina de personalidade, minha mãe desistiu e eu venci. Aproveitei a tarde sem nem me importar com o olhar estranho dos convidados. Não perdi tempo pensando na opinião deles sobre o meu traje digno de uma aniversariante.
Crianças não estão nem aí para a opinião alheia e também não medem esforços para conseguir o que querem. Por isso, se jogam no chão no meio do shopping ou do mercado e esperneiam para a vergonha geral dos pais, que diferente delas, se importam com o que os outros vão pensar.
Adultos temem ser desaprovados e, mais ainda,  julgados. Neste mundo cheio de regras e rótulos, ser autêntico é correr risco. E muitas vezes, é nessa ânsia em ser aceito que deixamos a sinceridade e a naturalidade de lado.
É claro que não precisamos ser “sem noção” como o Gabriel, a Claudinha e tantas outras crianças que você deve conhecer. Mas levar consigo pelo menos um pouco desta forma mais livre de viver, não te fará menos “gente grande”.
Crianças vivem momentos. São leves, se entregam e nos ensinam que a felicidade está mesmo nas pequenas coisas da vida. Pode ser em um sorvete, uma ida ao parquinho ou mesmo ao ver o amiguinho chegando para brincar…
Que este Dia das Crianças, para nós, adultos, seja de reflexão. Que a gente resgate aquela alegria do passado e com ela também a nossa criança interior. Que a gente também se permita mais, “se jogue”, se suje na areia ou se molhe na chuva com a certeza que depois do banho quentinho tudo fica bem de novo.
Agora para quem tem filhos ou quer ter, fica a dica: Deixe que eles cresçam sendo crianças. Eduque sem reprimir para que os pequenos se tornem adultos mais seguros do que querem e do que pensam. Que não se censurem com padrões com os estereótipos e que não sofram esperando a aprovação dos outros. Que cresçam apenas vivendo para o quê realmente vale a pena – se divertir.

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*Fernanda Trigueiro é uma jornalista apaixonada por pessoas e suas histórias.
Repórter de TV por opção, mas uma escritora por vocação. Vê a notícia além da manchete e dos números
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