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Vistos como ‘coirmãos’, refugiados ucranianos devem ter entrada facilitada em países europeus, mas futuro é incerto

A invasão da Rússia na Ucrânia forçou milhares de ucranianos a saírem do país. São pessoas que fogem da guerra para países vizinhos, como Polônia, Moldávia,

Vistos como ‘coirmãos’, refugiados ucranianos devem ter entrada facilitada em países europeus, mas futuro é incerto
Vistos como ‘coirmãos’, refugiados ucranianos devem ter entrada facilitada em países europeus, mas futuro é incerto

Redação Publicado em 27/02/2022, às 00h00 - Atualizado às 18h39


Para o especialista Alexandre Addor, da Universidade de Oslo, pessoas brancas, de olhos claros e que, fisicamente, se parecem muito com os europeus têm prioridade no que chama de “hierarquia dos refugiados”.

A invasão da Rússia na Ucrânia forçou milhares de ucranianos a saírem do país. São pessoas que fogem da guerra para países vizinhos, como Polônia, Moldávia, Hungria, Eslováquia e Romênia.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o número de pessoas que pedem refúgio da guerra na Ucrânia já chegou a 368 mil. A Guarda de Fronteira polonesa informou que, somente na Polônia, quase 200 mil pessoas já entraram desde o início da invasão russa. O governo ucraniano calcula que o número total de refugiados pode chegar a 5 milhões. O fluxo migratório ainda é incerto. Pode ser que os países vizinhos sejam apenas um ponto de partida para outros locais da Europa, como a Alemanha.

Para o especialista em Estudos de Paz pela Universidade de Oslo, Alexandre Addor, desta vez, a União Europeia terá uma política diferente na abertura de fronteiras e recepção de refugiados. Isto porque os ucranianos são vistos como “coirmãos” — pessoas brancas, de olhos claros e que, fisicamente, se parecem muito com os europeus. É o que ele chama de “hierarquia dos refugiados”.

“É um fluxo de refugiados diferente, é essa perspectiva de ser um coirmão, um europeu. Na Guerra dos Balcãs [1912 – 1913], a Europa recebeu os refugiados brancos. A xenofobia em países da Europa é enorme, mas como a cultura é parecida, é próxima, existe essa hierarquia dos refugiados. Diferente do que acontece com os africanos e pessoas que chegam do Oriente Médio.”

Ele destaca ainda que no caso da guerra na Ucrânia, a Europa se sente mais sensibilizada. Principalmente pelo fato de poderem sofrer consequências mais diretas. Como, por exemplo, o fato de países europeus como Alemanha, França e Itália dependerem do abastecimento de gás natural russo.

O acolhimento, no entanto, pode ter data de validade. Para o especialista, a posição da Europa está enfraquecida por aplicar sanções econômicas pouco efetivas contra o Kremlin. Isso faz com que, neste momento, os países estejam de portas abertas para os ucranianos, mas, a médio e longo prazo, a absorção social pode não ser tão positiva. Addor complementa que existe uma distinção “muito clara entre o europeu do leste e do oeste”

“A Europa tem capacidade de absorção dessas pessoas, mas o quanto isso vai ter impacto na sociedade? Já vimos que existe a xenofobia, racismo e o pensamento de ‘estão roubando o meu emprego’. É uma Europa que está com um discurso de portas abertas, mas que fecha a porta para a maioria dos refugiados do mundo. Tentam recuperar essa fraqueza [em combater Putin] e se mostrar forte na parte humanitária”.

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Política migratória na Europa

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Desde 2016, a União Europeia mantém um acordo com a Turquia para conter o fluxo migratório de refugiados que chegam à Grécia. Pelo documento, “todos os imigrantes irregulares que chegarem da Turquia até as ilhas gregas a partir de 20 de março de 2016 serão devolvidos à Turquia”. O custo das operações de retorno dos imigrantes irregulares é coberto pela UE.

Governos europeus também apoiam a guarda costeira da Líbia em operações de intercepção de barcos que chegam com migrantes africanos pelo Mar Mediterrâneo. ONGs internacionais que atuam na região já denunciaram a violência e violação de direitos humanos nas fronteiras marítimas.

Em sua maioria, os refugiados que buscam rotas migratórias clandestinas para chegar ao continente europeu são africanos ou pessoas que migram do Oriente Médio para fugir de conflitos, guerras, pobreza, perseguição e repressão.

Alexandre Addor acredita que o bloco europeu não terá uma política migratória unificada em relação aos refugiados ucranianos. “Esses refugiados podem ir pra Alemanha porque sabem que existe uma segurança social e por lá podem ter uma vida que não dependa do subemprego. Agora, em países como a Hungria e Croácia, com governos de extrema direita, existe um pensamento de que refugiado é ruim e não têm uma estrutura para refugiados”.

“A Angela Merkel [ex-chanceler da Alemanha] foi uma liderança fundamental na crise de refugiados de 2015. O Olaf Scholz acabou de chegar no poder, em uma situação complicada. As políticas de acolhimento serão distintas do que estamos acostumados”.

Neste domingo (27), o secretário-geral da ONU, António Guterres, telefonou para o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e afirmou que a organização vai lançar na terça-feira (29) um apelo para angariar fundos para as operações humanitárias.

Até o momento, o Fundo Central de Resposta de Emergências da ONU, Cerf, disponibilizou US$ 20 milhões (cerca de R$ 103.240.193) para o apoio humanitário.

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G1

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