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Único remador do Brasil com vaga em Tóquio se divide entre treino, estudo, balcão de loja e entregas

Ainda é noite quando Lucas Verthein põe o barco na água. Madrugar faz parte da rotina do esporte, mas para o único remador brasileiro e único atleta do

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Redação Publicado em 09/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h39


Lucas Verthein tem rotina cheia em meio à preparação para a estreia em Olimpíadas aos 22 anos

Ainda é noite quando Lucas Verthein põe o barco na água. Madrugar faz parte da rotina do esporte, mas para o único remador brasileiro e único atleta do Botafogo classificado para as Olimpíadas de Tóquio, a jornada é tão longa que também termina no escuro. Além de treinar de 4 a 6h por dia, o carioca concilia os estudos da faculdade de administração, o trabalho em uma loja de conserto de eletrônicos e faz entregas para ajudar a mãe.

A rotina corrida começou quando Lucas ainda estava na escola. Em 2014 a mãe, Luciana, perdeu o emprego e encontrou na culinária uma saída para sustentar a casa. Lucas vendia os quitutes feitos por ela. Com o tempo Luciana passou a cozinhar kits de refeições gourmet e lançou o “Empório da Lua”. Hoje Lucas dirige pela Zona Sul e pela Barra da Tijuca uma vez por semana fazendo as entregas de carro.

– Ele já no remo começou a vender brownies e doces para mim, para o pessoal do clube… Quiches… Aí foi a porta de entrada. Ele está nesses bastidores. Sempre arruma cliente. É o guerreiro da casa. Me dá muito orgulho ver que hoje ele é o único atleta do Brasil representante do remo… Só mesmo agradecer – disse a mãe.

O curso de administração é feito à distância e deve ser concluído em menos de dois anos. E estes conhecimentos o ajudam na sociedade com o amigo Arthur Sant’Anna em uma loja de consertos de eletrônicos na Tijuca.

O remador cuida da logística e do atendimento ao público enquanto Arthur cuida dos reparos em si. Os feitos em celulares são o carro-chefe, mas a dupla também tem um projeto para baratear a manutenção de equipamentos esportivos importados.

– Alguns destes aparelhos, como GPS, cronômetro, visores de ergômetros só conseguem ser consertados nos Estados Unidos. Gasta um tempo enorme, o valor também é muito acima… Às vezes apresenta um defeito simples que até mesmo um profissional de telefones e notebooks consegue resolver.

Lucas Verthein também trabalha em loja de conserto de eletrônicos na Tijuca — Foto: Helena Rebello

Se vira nos 30 também no remo

A preocupação de Lucas em baratear os custos dos equipamentos parte da própria experiência com as limitações que enfrenta no dia a dia. O ergômetro (máquina que simula o movimento do remo em terra) que usa na sede náutica do Botafogo foi comprado por ele e contrasta com os equipamentos mais antigos da sala de musculação local.

O barco no qual ele rema é emprestado pela Confederação Brasileira (CBR), mas também não é adequado ao peso de Lucas, hoje na casa dos 85kg. Ele utiliza um modelo para 110kg, pois o único barco da CBR na faixa dele hoje é utilizado por outra atleta da seleção, mais leve que ele.

Lucas Verthein treina em ergômetro comprado por ele — Foto: Helena Rebello

Lucas Verthein treina em ergômetro comprado por ele — Foto: Helena Rebello

Essas adversidades, no entanto, se tornam combustível para que ele siga batalhando com otimismo. Uma peça fundamental neste processo é o técnico Paulinho, que o orienta desde as categorias de base. Paulinho acompanhou toda a evolução de Lucas e relembra com carinho a transformação da mentalidade dele na de um atleta de ponta.

– Ele escreveu no peito “sou um campeão, tenho que treinar muito”. Isso foi após uma regata onde ele nem se classificou para a final. Ele era muito jovem. E quando ele foi medalhista no Mundial, uma medalha inédita para o país, ele me mostrou essa foto – contou Paulinho.

O evento em questão foi o Mundial Junior de Roterdã, na Holanda, em 2016. O brasileiro foi bronze e se apresentou a nível internacional. A coleção de medalhas aumentou significativamente desde então, e agora, aos 22 anos, Lucas se prepara para a primeira Olimpíada da carreira. A vaga foi conquistada em março, ao vencer o single skiff masculino no Pré-Olímpico no Rio.

– Nos últimos 250m eu não tinha mais nada, não tinha mais energia. Quando a gente foi para as últimas 10, 15 remadas eu consegui ter uma velocidade maior do que a do chileno e cruzar na frente dele, um pouco mais de um segundo, então foi uma coisa emocionante demais para mim.

Lucas Verthein treinando na Lagoa Rodrigo de Freitas — Foto: Helena Rebello

Lucas Verthein treinando na Lagoa Rodrigo de Freitas — Foto: Helena Rebello

A capacidade de resistir à dor e dar todo o gás para ser o primeiro na linha de chegada são inspiradas pelo ídolo de Lucas. Apesar de não ter visto Ayrton Senna correr pela pouca idade, ele se tornou fã assistindo a vídeos das corridas de Fórmula 1 antigas e a documentários do piloto. E idealiza um dia poder ser reconhecido pelos narradores como Senna era.

– Parece que foi ontem que comecei a remar. Faz muito pouco tempo, e eu realmente ficava sonhando em estar nesse momento agora. Ainda sonho muito além disso. Quero ser conhecido como o Lucas do Brasil.

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Fonte: Ge – Globo Esporte.

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