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Unesco propõe reconstrução em 3D de peças queimadas no Museu Nacional

A chefe da Missão de Emergência da Unesco criada para recompor o Museu Nacional, Cristina Menegazzi, disse nesta terça-feira (18), em Brasília, que o acervo

Unesco propõe reconstrução em 3D de peças queimadas no Museu Nacional
Unesco propõe reconstrução em 3D de peças queimadas no Museu Nacional

Redação Publicado em 18/09/2018, às 00h00 - Atualizado às 16h14


Último backup do acervo ocorreu em fevereiro, diz chefe de missão emergencial, Cristina Menegazzi.

A chefe da Missão de Emergência da Unesco criada para recompor o Museu Nacional, Cristina Menegazzi, disse nesta terça-feira (18), em Brasília, que o acervo pode ser reconstruído com doações de outros museus e pelo uso de tecnologias avançadas, como impressoras 3D.

“Alguns objetos do acervo são únicos, mas outros são duplicatas, ou seja, vários do mesmo tipo”, explicou. “Estes acervos podem ser reconstituídos com doações de outros museus do mundo que tenham coleções similares.”

Quanto às peças que foram completamente destruídas, a chefe da missão sugeriu o uso de tecnologias avançadas “para que o público possa voltar a ver a coleção em sua integralidade”, como as impressoras 3D.

“A ideia para as obras que são únicas, que não se podem resgatar, é utilizar as informações que já existem – no inventário ou em livros – para reconstituí-las materialmente com as tecnologias 3D, por exemplo.”

“A maioria do acervo estava inventariada, o que é muito importante, porque temos informações para, eventualmente, pensar a reconstituição da coleção”, disse Cristina. O último backup feito nos computadores do museu foi em fevereiro, segundo a equipe.

“O que importa no acervo são as informações sobre aquelas obras, e não apenas a materialidade delas.”

Cristina Menegazzi, chefe da Missão de Emergência da Unesco criada para recompor o Museu Nacional — Foto: Luiza Garonce/G1

Cristina Menegazzi, chefe da Missão de Emergência da Unesco criada para recompor o Museu Nacional — Foto: Luiza Garonce/G1

Cristina Menegazzi é a encarregada da Unesco para a preservação do patrimônio histórico e cultural da Síria e foi deslocada na última quinta (13) para coordenar, durante dez dias, a força-tarefa de recuperação do Museu Nacional.

A equipe, formada pelo especialista do Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais (Iccrom) José Luiz Pedersoli e por dois especialistas de Colônia, na Alemanha, vai atuar em duas frentes até o próximo domingo (23):

Resgatar os objetos que possam ter resistido ao incêndio: segundo Cristina, há a possibilidade de que parte das coleções, especialmente os objetos de natureza inorgânica, ainda estejam lá;
Preservar o edifício, considerado um monumento e reconhecido como patrimônio histórico e cultural pela própria Unesco.
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A equipe coordenada por Cristina é a responsável pela primeira “varredura” do prédio e do acervo. Ao longo da atuação, a equipe vai traçar o planejamento das próximas etapas.

Para garantir a segurança de quem trabalha na recuperação do museu, a equipe fez uma visita interna e externa no edifício para verificar o estado de preservação das estruturas.

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O teto do prédio foi coberto preventivamente para evitar o desgaste da chuva — uma cobertura definitiva está sendo elaborada. Também está em andamento a estabilização das estruturas.

Tapumes começam a cobrir o Museu Nacional, no Rio — Foto: Diego Sarza/GloboNews

Tapumes começam a cobrir o Museu Nacional, no Rio — Foto: Diego Sarza/GloboNews

A missão emergencial deve passar, ainda, por outros seis prédios que conservam a memória histórica, como o Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional.

Mobilização internacional
A diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Noleto, disse que a Alemanha firmou o compromisso de doar 1 milhão de euros para a reconstrução do acervo e das estruturas do Museu Nacional.

A verba faz parte de uma mobilização internacional que atrai recursos, especialistas e outros tipos de apoio de países como Canadá, Itália, Argentina, Estados Unidos e França.

“Quando morre um museu, morre parte da memória de um país e da humanidade”, disse Marlova. “Esse acidente trágico tem consequências muito sérias, não só pelo acervo, mas por ser um prédio histórico e, também, uma instituição de ensino e pesquisa.”

“Mesmo assim, temos uma visão muito otimista, porque vemos uma enorme onda de solidariedade internacional e um grande esforço do governo brasileiro de endereçar as ações com a rapidez necessária.”

Múmia Kherima, queimada no Museu Nacional — Foto: BBC

Múmia Kherima, queimada no Museu Nacional — Foto: BBC

No Brasil, quem assume a força-tarefa de recomposição do museu é a Missão de Emergência da Unesco, em parceria com o Iphan, o Ibram, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais (ICCROM).

A verba estrangeira se juntará ao montante disponível no fundo emergencial da Unesco e ao que for repassado pelo governo federal.

Guia prático
A ação da Unesco no Museu Nacional busca ajudar o Brasil a lidar com ações emergenciais e a prevenir outras perdas decorrentes de tragédias como incêndios.

Por isso, a ideia é documentar as ações e produzir, ao final, um guia prático para orientar outros países em situações semelhantes.

“Temos que criar uma cultura de prevenção de risco, em vez de só responder às consequências dos desastres”, disse o especialista do Iccrom e integrante da missão de emergência, Luiz Pedersol.

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