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Um ano após polêmica de ‘diploma falso’, ex-assessora fala sobre ter sido pivô de crise política inédita em Sorocaba

Pivô de uma crise política em Sorocaba (SP) que resultou na cassação do mandato do prefeito José Crespo (DEM) - derrubada pela Justiça 40 dias depois -, a

Um ano após polêmica de ‘diploma falso’, ex-assessora fala sobre ter sido pivô de crise política inédita em Sorocaba
Um ano após polêmica de ‘diploma falso’, ex-assessora fala sobre ter sido pivô de crise política inédita em Sorocaba

Redação Publicado em 19/07/2018, às 00h00 - Atualizado às 11h26


Ao G1, Tatiane Polis diz que foi vítima de perseguição política. Crise política desencadeou impeachment do prefeito, José Crespo, que voltou ao cargo depois de 40 dias

Pivô de uma crise política em Sorocaba (SP) que resultou na cassação do mandato do prefeito José Crespo (DEM) – derrubada pela Justiça 40 dias depois -, a ex-assessora Tatiane Polis concedeu uma entrevista exclusiva ao G1 um ano após pedir exoneração do cargo.

Ela falou sobre o processo ao qual responde na Justiça por suposto uso de diploma falso e deu sua versão sobre a confusão com a vice-prefeita Jaqueline Coutinho (PTB).

A então assessora direta do prefeito virou o centro das atenções após ser acusada por Jaqueline de usar um diploma falso para ocupar o cargo. O caso rendeu uma reunião no Palácio dos Tropeiros entre Crespo, a assessora e a vice-prefeita que se tornou pública quando a mãe de Jaqueline fez um post em uma rede social no qual acusava o prefeito de ter sido grosseiro.

No último dia 11 de julho a Justiça atendeu ao pedido do Ministério Público e quebrou o sigilo de e-mails dela, do prefeito e do um ex-corregedor municipal, Gustavo Barata.

Na companhia do advogado, Tatiane Polis recebeu o G1 em casa, na Zona Oeste de Sorocaba. Confira abaixo trechos da entrevista:

G1 – Como era a sua vida antes [confusão] e agora, um ano depois? 
Tatiane – Trabalhava e vivia como uma pessoa anônima, sempre tomei alguns cuidados por estar ligada diretamente ao prefeito. Hoje estou tentando me recuperar. Voltei a estudar e estou fazendo pós-graduação. Quanto à vida profissional, chegaram a me dizer que poderiam ser acusados de “receber propina” por me ter na equipe.

G1 – Se for inocentada no processo, voltaria à prefeitura? 
Tatiane –Não sei. Primeiro preciso provar que sou inocente, mas a situação não está descartada. Se houver um convite, preciso conversar com minha família. Isso para mim é secundário.

G1 – Qual a sua relação com o prefeito e com a vice-prefeita atualmente?
Tatiane –Com a Jaqueline, nenhuma. Na prefeitura falávamos apenas profissionalmente, e ela sempre de uma forma muito ríspida. Com ele [Crespo] não tenho nenhuma relação pessoal, mas tenho muita consideração. Ele acompanha o processo e é preocupado com a situação, mas não somos amigos.

O outro lado da reunião polêmica

Em entrevista ao G1 e à TV TEM, em junho do ano passado, Jaqueline Coutinho afirmou ter sido humilhada pelo prefeito durante a reuniãona presença da ex-assessora e de secretários.

Segundo Tatiane Polis, a situação aconteceu de maneira diferente. Antes do encontro, a vice-prefeita já teria investigado seus diplomas em uma faculdade particular – após uma denúncia anônima por telefone – enquanto Crespo estava em viagem a Portugal. (Assista ao vídeo abaixo)

“Quando ela me questionou sobre os diplomas, disse que não iria discutir isso, ela se exaltou e me chamou de ‘mulherzinha’, e que eu não deveria expor o chefe do executivo desse jeito, que eu ‘usava dos meus artifícios para convencer o prefeito’”, afirma Tatiane.

Ao G1, Jaqueline afirmou que realmente solicitou documentação da ex-assessora e que, durante a conversa, Tatiane teria se exaltado e dito que não cabia a ela entrar neste assunto. “Disse a ela que não deveria se portar como uma mulherzinha dependente de escora e respaldo masculino”, disse em nota.

Tatiane afirma também que a vice-prefeita estava nervosa porque poderiam descobrir que um funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) prestava serviços irregularmente a ela. O caso foi investigado pela corregedoria municipal e enviado ao Ministério Público.

Popularidade

Tatiane e o advogado Márcio Leme – que também defende o prefeito José Crespo no caso – acreditam que Jaqueline Coutinho queria causar uma crise afetando alguém próximo ao prefeito. Ao G1, a ex-assessora disse que seu desempenho no trabalho começou a incomodar outras pessoas.

“A única pessoa que se beneficiou com toda essa crise foi a vice-prefeita. Ela assumiu o cargo e até hoje é tida como ‘a defensora dos bons costumes, da legalidade e moralidade’. Ela ganhou destaque positivo às minhas custas, às custas da minha integridade, ela destruiu minha vida”, diz Tatiane, que afirma fazer tratamento psicológico após acontecimentos na prefeitura.

Para a ex-assessora, existem pessoas interessadas no desgoverno da cidade, e o fato de ele ser um “prefeito não tão popular precisando tomar atitudes impopulares”, ajudou para que a opinião pública ficasse ao lado da vice-prefeita.

Em nota enviada ao G1, Jaqueline Coutinho afirmou que nunca causou nenhuma crise política e afirmou que a “situação é vergonhosa e humilhante” não só para ela [Jaqueline] como também para a cidade.

Relação com Jaqueline Coutinho

A participação na polícia, segundo a ex-assessora, começou com um convite do ex-prefeito Renato Amary para que fosse pré-candidata a vereadora. Na época, Amary era o pré-candidato a prefeito de Sorocaba pelo MDB.

Após o político retirar a candidatura, Tatiane declinou ao convite para sair como candidata a vereadora, período em que conheceu José Crespo e Jaqueline Coutinho.

Tatiane disse que a relação com a ex-delegada era estritamente profissional e que “tudo estava bem até o episódio do bolo”. O atrito com a vice, segundo ela, começou durante a campanha do segundo turno. O motivo teria sido um bolo comprado para a comemoração do aniversário de Jaqueline, cena que foi gravada e exibida no horário eleitoral. (Veja acima)

Ao G1, Jaqueline disse que em respeito à população não vai entrar em “assuntos torpes e levianos”, como a discussão sobre um bolo.

Supletivo e ‘diploma falso’

Tatiane Polis explicou ao G1 o porquê de ter escolhido o Colégio Brasileiro (Cobra), do Rio de Janeiro, para terminar os estudos entre 2005 e 2007. Na época, a instituição era representada em Sorocaba por uma empresa chamada Mega Ensino Supletivo.

“Trabalhava sem horário fixo e queria melhorar de vida, e voltar aos estudos, mas o ensino para adultos na época não tinha horários flexíveis e nem em fins de semanas. Por isso escolhi essa escola. Foi pela flexibilidade, não pela facilidade”, diz.

Em julho de 2017, a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro enviou um documento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara de Vereadores informando que não reconhece o diploma de Tatiane Polis.

“Isso me causa estranheza, porque é a própria secretaria que faz a publicação dos formandos no diário oficial diz que não reconhece. A mesma secretaria manda um documento a Sorocaba onde meu nome não está correto”, afirmou ao G1.

Marcio Leme e Tatiane Polis afirmam que houve falha na investigação da Câmara de Sorocaba (SP) (Foto: Kauanne Piedra/G1)

Marcio Leme e Tatiane Polis afirmam que houve falha na investigação da Câmara de Sorocaba (SP) (Foto: Kauanne Piedra/G1)

G1 – Na opinião de vocês, houve falha na investigação [CPI e Polícia Civil]? 
Márcio Leme – Como o colégio foi extinto e a sede fica no Rio de Janeiro, a administração não teria lançado o nome dos concluintes no sistema GDAE, de São Paulo. Porém, aí está o erro, se ela conclui o ensino em outro estado, é claro que não vai aparecer no sistema de São Paulo.
Tatiane – Pesquisaram meu nome como Tatiana’ mas o certo é Tatiane. É uma falha gravíssima, essa investigação deveria ter passado por outras secretarias.
Márcio Leme – É diferente ela usar um documento falso sem saber, do que ter a intenção de usá-lo. Se formos seguir esta linha de acusação, todos os alunos que estudaram na escola falsificaram os documentos?

Para o advogado, o fato que chama atenção é que não houve perícia no documento, e a vice-prefeita alega que o certificado foi publicado em um dia após a expedição do documento. “Este simples fato não aponta ilegalidade. O delegado de educação disse, em depoimento, que isso varia para cada secretaria”, afirma Márcio.

Tatiane enviou carta com pedido de exoneração ao Chefe do Executivo em Sorocaba (SP) (Foto: TV TEM/Reprodução)

Tatiane enviou carta com pedido de exoneração ao Chefe do Executivo em Sorocaba (SP) (Foto: TV TEM/Reprodução)

A vereadora Fernanda Garcia (Psol), presidente da CPI que investigou o diploma da ex-assessora, disse ao G1 que a comissão teve acesso ao documento original de Tatiane por meio da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e, desta forma, não se fez necessária perícia no diploma.

Também por meio de nota, Jaqueline informouque “sempre agiu de forma legalista” e que, chegando ao conhecimento dela fatos ilícitos, “agirá como um agente público deve agir”.

Exoneração

Dia 17 de julho do ano passado, Tatiane Polis entregou uma carta com o pedido de exoneração do cargo público. A ex-assessora revelou ao G1que um furto a sua residência mexeu com o psicológico de toda a família.

“Fiquei por quase cinco horas depondo na CPI na Câmara e quando cheguei em casa, ela estava toda revirada. Levaram tudo. Para mim, isso foi a gota d’água”, diz.

Tatiane disse ainda que a casa era alvo de vândalos que jogavam pedras no portão e seus filhos e marido alvos de comentários maldosos sobre ela. “Aprendemos a lidar com isso. A base é saber que eu não fiz nada. Às vezes passamos por comentários maldosos e piadas. Isso ainda impacta, tem peso, mas tenho que ter fé que um dia vai passar.”

Doze meses se passaram, mas a ex-assessora afirma que foi um caminho sem volta e, citando-se em primeira pessoa, diz que “criou-se uma imagem errônea e mentirosa da Tati Polis”.

Cassação em ‘sessão bizarra’

Por 14 votos contra 6, José Crespo teve seu mandato cassado no dia 24 de agosto após quase 10 horas de sessão extraordinária na Câmara dos Vereadores. Foi a primeira vez na história da cidade que um chefe do Executivo foi afastado do cargo.

A cassação deu-se a favor do relatório da Comissão Processante que apontou que houve quebra de decoro na polêmica envolvendo o prefeito e a vice-prefeita. O documento também concluiu que Crespo cometeu crime de prevaricação ao se omitir sobre a denúncia do uso de diploma falso de Tatiane Polis.

Após horas de votação, Câmara cassa mandato de José Crespo em Sorocaba (Foto: Eduardo Jr./G1)

Após horas de votação, Câmara cassa mandato de José Crespo em Sorocaba (Foto: Eduardo Jr./G1)

Tatiane afirmou que assistiu a sessão pela televisão em sua casa ao lado da família.

“Aquilo foi uma sessão bizarra. Confesso que não acreditava que eles conseguiriam chegar àquele ponto. Ali confirmou o que eu dizia desde o início: era uma perseguição política e eu fui um bode expiatório”, declara.

A ex-assessora disse ao G1 que sente-se tecnicamente capaz de desempenhar suas funções na prefeitura e que fez o seu melhor.

“Trabalhei muito para estar lá. Me arrepender do quê? De ter trabalhado sério? De ter ocupado o lugar de uma possível indicação de vereador? É por isso que queriam me tirar”, afirma.

Tatiane Polis presta depoimento à CPI da Câmara de Vereadores que investiga confusão na prefeitura (Foto: Reprodução/TV TEM)

Tatiane Polis presta depoimento à CPI da Câmara de Vereadores que investiga confusão na prefeitura (Foto: Reprodução/TV TEM)

CPI e investigação

Na primeira audiência sobre a denúncia do uso de diploma falso, Tatiane Polis e José Crespo foram ouvidos no fórum da cidade. Na véspera, Jaqueline Coutinho depôs como testemunha de acusação.

“Eles levaram a investigação para um lado muito sério, quando não conseguiam me incriminar por uso de documento falso, começaram a dizer que eu vendia diplomas. Enfim, tudo será provado e eu só espero Justiça”, disse Tatiane.

Tatiane afirma ser inocente em acusação de uso de documento falso na Prefeitura de Sorocaba (SP) (Foto: Kauanne Piedra/G1)

Tatiane afirma ser inocente em acusação de uso de documento falso na Prefeitura de Sorocaba (SP) (Foto: Kauanne Piedra/G1)

O último episódio aconteceu na quarta-feira (11) da semana passada, quando a Justiça acatou um pedido do Ministério Público e decretou a quebra de sigilo de e-mails do prefeito Crespo, de Tatiane e do ex-corregedor da prefeitura, Gustavo Barata.

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