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Tóquio 1964: capital japonesa vai de ruína de guerra a potência futurística

Tóquio 1964 também representou a primeira vez que as Olimpíadas foram transmitidas ao vivo, via satélite, para a Ásia, América do Norte e Europa. O mundo viu

Tóquio 1964
Tóquio 1964

Redação Publicado em 18/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h18


Série do ge e do Esporte Espetacular conta, em três episódios, como Olimpíadas ajudaram no renascimento do Japão e da megalópole

O mundo aguarda com ansiedade a chegada das Olimpíadas de Tóquio, cuja cerimônia de abertura será realizada em menos de com dias, a 23 de julho. Mas quem quiser entender o que a megalópole futurista, das luzes e movimentos, vai proporcionar a atletas e espectadores pode extrair excelentes impressões do passado.

A capital japonesa já tinha cara de século 21 mesmo antes da virada do milênio, e isso ficou amplamente demonstrado na primeira vez que a cidade recebeu os Jogos Olímpicos, em 1964. O evento foi um marco da reconstrução japonesa e o encontro do país com características que o definiriam nas décadas seguintes, como a vocação para a tecnologia, engenharia e inovação.

Em uma série de três episódios, o ge e o Esporte Espetacular contam como o fato de ter se tornado uma cidade olímpica catapultou Tóquio e o Japão a uma era de modernização sem precedentes.

Tóquio é nasceu – ou renasceu – das cinzas. Entre 1923 e 1945, foi quase que totalmente arrasada duas vezes. Primeiro, por um grande terremoto. Duas décadas depois, por intensos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial que ajudaram a consumar a derrota do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) para os Aliados – as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, marcaram o fim do conflito e representam, até hoje, a destruição do Japão.

Cerimônia de abertura de Tóquio 1964 — Foto: Getty Images

Cerimônia de abertura de Tóquio 1964 — Foto: Getty Images

Os bombardeios em Tóquio, entre 1944 e 1945, fizeram com que mais de 70% da cidade queimasse. E estimativas apontam que mais de 200 mil japoneses foram mortos na campanha aérea.

– 1945 foi terrível. O Japão perdeu a Guerra e foi ocupado por uma nação estrangeira pela primeira vez na história. O país estava devastado economicamente, fisicamente, psicologicamente. Boa parte da juventude foi perdida. As pessoas passavam fome e não tinham trabalho – afirmou o escritor Roy Tomizawa.

A situação só começou a mudar após a rendição japonesa, que selou uma aliança com os Estados Unidos que possibilitou a reconstrução do país. Em pouco tempo, a terra arrasada virou canteiro de obras, e Tóquio começou a ganhar os contornos que a tornaram conhecida mundialmente.

– O crescimento econômico nos anos 1950 e início dos 1960 foi enorme, com investimentos em Tóquio incrivelmente altos. Vieram linhas de trem, rodovias, infraestrutura. O trem bala, por exemplo, cujo projeto já existia antes. Mas, quando o Japão ganhou o direito de realizar os Jogos Olímpicos, acabou sendo um feliz casamento. Tudo aconteceu na hora certa – disse Tomizawa, um americano de origem japonesa que escreveu um livro em que analisa a primeira edição dos Jogos Olímpicos na Ásia.

O ano de 1964 entrou para a história do Japão como o das novidades. O trajeto entre o aeroporto e o centro de Tóquio ganhou um monotrilho, que funciona até hoje. Outro símbolo de inovação foi o shinkansen, o trem de alta velocidade – na época o mais rápido do mundo – e que começou a circular na época dos Jogos.

Cerimônia de encerramento de Tóquio 1964 — Foto: KEYSTONE-FRANCE/Gamma-Rapho via Getty Images

Cerimônia de encerramento de Tóquio 1964 — Foto: KEYSTONE-FRANCE/Gamma-Rapho via Getty Images

– Todo mundo só falava do trem bala. Nossa equipe viajou no segundo dia de funcionamento da nova linha. Fomos de Tóquio para Nagoya e fiquei muito impressionado. Era muito mais rápido do que estávamos acostumados – contou o ex-ginasta medalhas olímpico Shuji Tsurumi.

Tóquio 1964 também representou a primeira vez que as Olimpíadas foram transmitidas ao vivo, via satélite, para a Ásia, América do Norte e Europa. O mundo viu um Japão moderno e arrojado.

Outro trunfo foram as instalações esportivas, com linhas arquitetônicas que chamavam a atenção como em ginásios como o Yoyogi, com seu telhado em forma de chapéu de samurai, e grandes parques e estádios.

Muitos dos quais, por sinal, serão reutilizados na edição de 2020 das Olimpíadas de Tóquio. Cinquenta e sete anos depois, os dois Jogos Olímpicos da capital japonesa guardam inúmeras semelhanças em inovação, pioneirismo e reconstrução, como se a história estivesse sendo reescrita.

O megaevento de 1964 marcou o deslocamento do eixo europeu da disputa. Antes daqueles Jogos, houve 14 edições olímpicas, 11 delas na Europa. Depois de Tóquio, nas 14 Olimpíadas seguintes, apenas cinco aconteceram no continente europeu.

Construção do estádio Yoyogi, com teto em forma de chapéu de samurai — Foto: Smith Collection/Gado/Getty Images

Construção do estádio Yoyogi, com teto em forma de chapéu de samurai — Foto: Smith Collection/Gado/Getty Images

As inovações foram da tecnologia à engenharia, passando, é claro, pelo esporte.

– Eu comecei a jogar em 1967, e já sabia que o Japão tinha sido campeão olímpico no [vôlei] feminino e lógico que era um esporte de elite no país. Aqui, no Brasil, o vôlei estava caminhando, engatinhando, dando seus primeiros passos – relembrou o tricampeão olímpico José Roberto Guimarães.

O vôlei foi um dos esportes introduzidos naqueles primeiros Jogos no Japão. Uma outra modalidade que se provaria vitoriosíssima no Brasil também teve sua estreia naquela edição.

– Acredito que não só pelo judô ter nascido no Japão, por meio do sensei Jigoro Kano. Mas toda a disciplina, toda a história, postura, tudo tem muito a ver com a cultura japonesa – disse a ex-judoca olímpica Vânia Ishii, cujo pai, Chiaki, um japonês, ganhou a primeira medalha olímpica do judô brasileiro.

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Fonte: GE

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