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Patrocínio máster cai pela metade desde 2017, mas Corinthians compensa e mira R$ 100 milhões

Em quatro anos, o Corinthians viu cair pela metade o valor recebido por seu patrocínio máster.

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Redação Publicado em 30/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h42


Timão aposta em participação de lucros de parceiros e novas propriedades para driblar crise

Em quatro anos, o Corinthians viu cair pela metade o valor recebido por seu patrocínio máster.

Em 2017, a Caixa Econômica Federal se despediu do clube pagando R$ 30 milhões por temporada (R$ 34,9 milhões em valores corrigidos pela inflação). Agora, para estampar a marca das Vitaminas Neo Química no espaço principal da camisa, o clube receberá R$ 17 milhõesfixos.

Causada por diversos fatores – alguns dos quais fogem do controle do Corinthians – tal redução foi compensada pelo clube com a geração de novas receitas de publicidade. Uma delas é a participação no lucro das empresas parceiras, como ocorreu no caso do Banco BMG (patrocinador máster em 2019 e 2020) e como será a partir deste ano com as Vitaminas Neo Química (os percentuais acordados não foram divulgados).

Outra alternativa encontrada pelo Timão para lucrar mais foi vender mais propriedades do uniforme, que atualmente conta com 14 estampas, considerando camisa e calção.

O saldo final, na avaliação da diretoria corintiana, é positivo. O clube mira fechar 2021 com uma arrecadação com patrocínios acima de R$ 100 milhões.

Em 2020, a previsão de receitas neste segmento era de R$ 77 milhões. Até setembro do ano passado, quando foi divulgado o último balancete financeiro, o clube havia embolsado R$ 55,2 milhões.

Em números absolutos, os R$ 100 milhões estimados em patrocínios representam um recorde. Mas, corrigindo a arrecadação das últimas temporadas pela inflação, o faturamento previsto para 2021 não irá destoar tanto em relação a anos anteriores. Compare nos gráficos abaixo:

Receitas de patrocínio e publicidade do Corinthians
Em números absolutos, sem correção inflacionária
R$ em milhões de reais47,347,344,344,366,666,660,160,163,663,666,566,571,571,578,378,342,842,873,273,277772010201120122013201420152016201720182019Previsão 2020020406080100
Fonte: Balanços do Corinthians
Receitas de patrocínio e publicidade do Corinthians
Valores corrigidos pela inflação (IPCA) até dezembro de 2020
Milhões de R$R$2010201120122013201420152016201720182019Previsão 2020406080100120140
Fonte: Balanços financeiros do Corinthians

Como fica evidente nas imagens acima, o Corinthians sofreu com a saída da Caixa. Em 2017, quando conquistou os campeonatos Paulista e o Brasileiro, o Timão ainda compensou o fim da parceria com o banco (que só ocorreu em abril) firmando patrocínios pontuais, como o da Cia. do Terno. Na temporada seguinte, porém, não houve empresa disposta a pagar o que era pedido e, então, o clube baixou a régua.

Em 2019, a diretoria alvinegra aceitou receber R$ 12 milhões do BMG, com a esperança de turbinar os ganhos com a participação no banco digital “Meu Corinthians BMG”. A parceria nunca decolou como imaginado. O ex-presidente Andrés Sanchez prometeu surpresas caso 200 mil contas fossem abertas, mas dois anos depois o número de clientes não chega nem à metade.

Mas como explicar tal queda no valor do patrocínio máster do Corinthians?

– A coisa é muito simples: como era o momento do Brasil, da economia, da sociedade e do futebol no tempo da Caixa versus o momento em 2021? Você não pode comparar patrocínios com anos de diferença sem considerar o contexto. A realidade hoje é profundamente impactada pela maior crise sanitária da história, uma recessão que só vai piorar, pois este ano não haverá auxílio emergencial do governo, desemprego recorde, uma perda de renda recorde, e o futebol tem enormes incertezas, até se vai ter futebol o ano inteiro. Sem falar que não há público no estádio – argumenta José Colagrossi, superintendente de marketing, comunicação e inovação do Corinthians.

Especialistas ouvidos pelo ge afirmam que antes mesmo da pandemia do novo coronavírus os valores dos patrocínios a clubes de futebol vinham caindo. Esse movimento aconteceu depois de 2014, passada a Copa do Mundo (que havia aquecido o mercado) e num cenário de recessão da economia brasileira. Além disso, empresas começaram a direcionar seus investimentos para as mídias digitais e também outras modalidades, inclusive os e-sports.

Além da questão macroeconômica, a forma como clubes de futebol são geridos no País também influencia.

– Isso é fato, não é minha opinião ou de qualquer pessoa: os números de patrocínio esportivo caíram. Há diversos motivos para isso, como a falta de “cases” de sucesso, que estimulem a entrada de novas empresas no mercado. Além disso, via de regra, há muita rotatividade nos departamentos de marketing e nas diretorias dos clubes, como acontece no poder público, que pode mudar a cada eleição. O fato de não ter uma continuidade do trabalho muitas vezes atrapalha a relação com patrocinador – afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da agência de marketing esportivo Wolff Sports.

– Se os clubes fossem mais profissionalizados, certamente teríamos mais interessados em firmar parcerias e, com uma demanda maior, os contratos de patrocínio teriam valores maiores. Muitas vezes as decisões são tomadas sem um cunho racional e financeiro. Já assinei contrato que quase não acreditei, de tão baixo. O dirigente fez isso só para aliviar pressão da imprensa ou dos sócios e conselheiros. Pior: depois anunciaram um número cinco vezes maior do que o real – completa Wolff.

Neste cenário de retração dos valores de patrocínio desde 2014, a Caixa foi uma exceção, mantendo um patamar elevado de pagamentos por mais alguns anos antes de deixar a camisa de diversos clubes. Alguns deles sofrem os impactos disso até hoje, como é o caso do Santos, que desde o fim da parceria com o banco estatal, em 2018, não teve mais nenhum patrocinador máster fixo.

A solução encontrada por diversas agremiações, entre elas o Corinthians, foi preencher mais a camisa, algo que a própria diretoria alvinegra admite não ser o ideal.

– O melhor modelo é aquele em que não é preciso expor diretamente a marca do patrocinador na camisa para ter retorno. Outro dia, uma marca de macarrão que patrocina a Juventus lançou um comercial com cinco jogadores cantando o jingle da empresa, entre eles o Cristiano Ronaldo. A peça publicitária não era nem bonita, mas era efetiva, juntava a marca, o clube e os jogadores. Muita gente falou dessa propaganda, e a patrocinadora não está na camisa da Juventus. Essa forma de orientar a relação agrega valor a todo mundo: o clube, que não precisa expor tantas marcas no uniforme, e a empresa, que não precisa pagar tanto para construir essa relação – explica Cesar Grafietti, economista e consultor de gestão e finanças do esporte.

– Porém, em um ambiente com pouco dinheiro, como o do futebol brasileiro, é muito difícil o dirigente recusar um patrocínio de meião, por exemplo, que vai render R$ 200 mil, quando você está com salário atrasado. Vira um ciclo vicioso – pondera Grafietti.

Atualmente, o maior patrocínio máster do Brasil é do Flamengo, que recebe R$ 35 milhões do Banco de Brasília. O Palmeiras arrecada R$ 81 milhões com a Crefisa/FAM, mas a parceria engloba todas as propriedades do uniforme – o grupo ainda paga outros bônus e premiações ao Alviverde.

Segundo Cesar Grafietti, apesar de receber menos pela exploração de seu principal espaço no uniforme, o Corinthians está no mesmo patamar destes dois rivais quando o assunto é receita de patrocínio:

– Desde o ano passado os números do Corinthians cresceram muito. O Flamengo conseguiu um máster muito bom, o Palmeiras tem um grande contrato com a Crefisa, que é único, e o Corinthians, com sua grande quantidade de patrocinadores, fez crescer muito a arrecadação. Agora, com uma equipe ainda mais profissional e um nome forte na direção, como o do José Colagrossi, isso pode melhorar ainda mais. Quando o clube tem um profissional qualificado, os patrocinadores sabem que ele vai entregar não só o espaço na camisa, mas uma serie de ações. Isso atrai gente.

Antes de assumir o marketing do Corinthians, no início deste ano, Colagrossi foi por nove anos diretor-executivo do Ibope Repucom, empresa especializada em avaliar alcance, impacto e eficiência de patrocínios em esporte, entretenimento e cultura.

Presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, e o superintendente de marketing José Colagrossi — Foto: Divulgação

Presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, e o superintendente de marketing José Colagrossi — Foto: Divulgação

Confira abaixo os patrocínios do uniforme do Corinthians e a validade de cada um deles:

  • Vitaminas Neo Química – Máster – Dezembro de 2025
  • Banco BMG – Ombros – Dezembro de 2026
  • Positivo – Barra das costas da camisa – Fim de 2021
  • Ale – Barra frontal da camisa – Abril 2021
  • Guaraná Poty – Parte traseira do calção – Dezembro de 2022
  • Galera Bet – Mangas (fora da camisa temporariamente) – Julho de 2025
  • Serasa – Ombros (realocado nas mangas) – Abril de 2021
  • Cartão de Todos – Parte da frente do calção – Abril 2022
  • Hapvida – Peito – Agosto de 2021
  • Midea – Parte superior das costas – Dezembro de 2021

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Fonte: GE – Globo Esporte.

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