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Tatuagens ressignificam cicatrizes de vítimas de violência doméstica e de cirurgias mal feitas

Como é possível esquecer um trauma, se ele está marcado na pele em forma de cicatrizes? Algumas mulheres que foram vítimas de violência doméstica, de doenças

Tatuagens ressignificam cicatrizes de vítimas de violência doméstica e de cirurgias mal feitas
Tatuagens ressignificam cicatrizes de vítimas de violência doméstica e de cirurgias mal feitas

Redação Publicado em 11/02/2022, às 00h00 - Atualizado às 06h46


Como é possível esquecer um trauma, se ele está marcado na pele em forma de cicatrizes? Algumas mulheres que foram vítimas de violência doméstica, de doenças ou de cirurgias mal feitas têm escolhido a tatuagem para amenizar a dor.

O projeto social We Are Diamonds, que já fez mais de 150 tatuagens em mulheres que queriam camuflar suas cicatrizes, fechou parcerias com o Projeto Bastê, que apoia vítimas de violência doméstica, com o Projeto Driblando o Câncer, do Instituto Brasil + Social, e com a ONG GAMA (Grupo de Amparo Momento de Amar). Com isso, as mulheres assistidas por essas instituições também podem fazer tatuagens gratuitamente.

Na última segunda-feira (7), foi a vez da funcionária pública Talita Lins, de 35 anos, dar um passo à retomada de sua vida.

Em 2017, ela foi vítima de ferimentos provocados pelo então companheiro. Ela e sua filha foram empurradas ao chão, e uma porta de vidro se espatifou contra ela. “Esta foi a última das inúmeras agressões que passei”, lembra. O resultado, além do trauma psicológico, foram as cicatrizes em seu braço.

Antes e depois de Talita, vítima de violência doméstica — Foto: Divulgação/Projeto We Are Diamonds

Antes e depois de Talita, vítima de violência doméstica — Foto: Divulgação/Projeto We Are Diamonds

“Costumo sempre dizer que minhas feridas e cicatrizes não vão me impedir de sonhar. Sempre quis ter uma tatuagem, então vou usá-la para ressignificar tudo o que passei”, diz Talita.

Momentos antes de ser tatuada, ela disse que não temia sofrer com a agulha. “A tatuagem é que vai dar um novo significado à minha dor.”

Talita sendo tatuada por Karlla Veloso  — Foto: Divulgação/Projeto We Are Diamonds

Talita sendo tatuada por Karlla Veloso — Foto: Divulgação/Projeto We Are Diamonds

Já a recepcionista Tamires Mussio Morales, de 34 anos, não esconde a ansiedade em fazer uma grande tatuagem na barriga, onde hoje estão as marcas de uma tentativa de feminicídio.

Em novembro do ano passado, o então namorado – com quem convivia havia um ano e cinco meses – teve uma crise de ciúmes e a feriu com uma faca de pão em várias partes do corpo durante um churrasco. Foram mais de cem pontos na barriga, braços, mão e pernas.

“Quero poder olhar de uma maneira mais bonita para meu corpo, não sentir tanta dor com as lembranças”, afirma Tamires.

Tamires vai ter que esperar um ano para cobrir sua cicatriz com uma tatuagem — Foto: Arquivo pessoal

Tamires vai ter que esperar um ano para cobrir sua cicatriz com uma tatuagem — Foto: Arquivo pessoal

Ela ainda terá que esperar cerca de um ano até ter sua tatuagem, pois suas feridas ainda são recentes e não estão totalmente cicatrizadas. “Vou transformar minha dor em arte”, completa.

O feminicídio é a última etapa do ciclo de de violência doméstica sofrida pela mulher. Começam com agressões verbais que escalonam até a morte.

Nos primeiros seis meses de 2021, quatro mulheres foram mortas por seus companheiros ou ex por dia no país: 666 vítimas de feminicídio de janeiro a junho, o maior da série histórica iniciada em 2017, quando as autoridades passaram a compreender melhor a Lei do Feminicídio, de 2015.

A lei também prevê que assassinatos cometidos por companheiros ou ex-companheiros da vítima sejam registrados como tal, mas quase 15% dos homicídios de mulheres cometidos em 2020, em que os autores do crime eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas, não foram registrados devidamente como feminicídio, segundo o 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho.

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G1

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