Diário de São Paulo
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Taffarel diz que rodízio de goleiros da Seleção não foi planejado e vê Ederson como o melhor com o pé

Acostumada a decisões pragmáticas e minuciosamente planejadas sob o comando do técnico Tite, a seleção brasileira optou por revezar os três goleiros

SELEÇÃO
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Redação Publicado em 02/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h34


Preparador conta como estimula a concorrência entre Alisson, Ederson e Weverton, afirma que titular será decidido jogo a jogo na Copa América e comenta evolução do treinamento na posição

Acostumada a decisões pragmáticas e minuciosamente planejadas sob o comando do técnico Tite, a seleção brasileira optou por revezar os três goleiros convocados para a Copa América de maneira casual, sem muito planejamento prévio.

É o que revela o tetracampeão Cláudio Taffarel, preparador de goleiros da Seleção desde 2014, que, em entrevista ao ge, explicou como surgiu a ideia do rodízio entre Alisson, Ederson e Weverton na meta brasileira:

– Esse novo formato, essa nova ideia partiu até dos goleiros, no sentido que devido ao alto nível em que estão jogando, o rendimento dos três nos clubes, fica muito difícil fazer uma escolha. O revezamento aconteceu num processo muito natural, sem programação, sem nada, foi acontecendo. De repente, um chega um pouco antes, um chega de uma lesão, foi acontecendo de colocar aquele que estava em melhor condições no jogo e, por isso, aconteceu esse revezamento. Nada programado, uma coisa casual, e que nos deu uma noção bem exata daquilo que a gente tem na mão, que são três ótimos goleiros.

Embora tenha ficado mais evidente na Copa América, com Tite mudando o goleiro a cada jogo, o revezamento vem desde o ano passado, nas Eliminatórias. Weverton atuou nas duas primeiras rodadas da competição, e Ederson foi o escolhido para os dois confrontos seguintes. Já neste ano, Alisson foi titular em uma partida, contra o Equador, e Ederson em outra, contra o Paraguai.

Para encarar o Chile, nesta sexta-feira, às 21h (de Brasília), no estádio Nilton Santos, em duelo válido pelas quartas de final da Copa América, o jogador do Manchester City foi o escolhido.

Sinal de que ele será fixado na equipe durante o mata-mata? Taffarel nega:

– A gente não programa nada, vive jogo após jogo, queremos que o goleiro que jogue vá bem, dê aquilo que a gente espera, assim como toda a equipe. Preparamos os goleiros para isso. Não temos nada definido para frente, são situações que, após o jogo, começamos a discutir nas reuniões a escolha do nome para o próximo jogo.

O preparador de goleiros rasga elogios ao trio da Seleção, mas dá ênfase especial na qualidade de Ederson com os pés:

– O Ederson, dos três, é quem joga melhor com os pés. Aliás, é um dos melhores goleiros que eu vi jogando com os pés, tem uma facilidade muito, muito grande. Não que o Alisson e o Weverton não saibam jogar.

Titular do Brasil na última Copa do Mundo e também na conquista da Copa América de 2019, Alisson é quem tem mais jogos (47) e convocações (61) entre os três. É também quem mais atuou depois do Mundial da Rússia (16). Ederson, porém, vem ganhando espaço e já atuou em 12 das 32 partidas neste ciclo de Copa. Campeão olímpico em 2016, Weverton corre por fora na briga, tendo cinco jogos pela seleção principal.

Responsável por treiná-los, Taffarel vê espaço para evolução dos três e diz estimular a concorrência entre eles. Nesta entrevista, o ex-goleiro também comenta as mudanças nos métodos de preparação e fala sobre o reencontro com um velho amigo na Seleção. Confira!

ge: O Ederson foi escolhido para jogar diante de adversários que pressionavam mais a saída de bola do Brasil. A escolha do goleiro também tem um componente tático?
– Essa é uma percepção muito normal, porque o Ederson, dos três, é quem joga melhor com os pés. Mas nossa escolha não é com base nisso, até porque a gente tem a consciência que o goleiro não é só jogar com os pés, tem que ser um goleiro completo, primeiro que seja um goleiro que defenda bem, lógico que tendo essa facilidade com os pés ajuda bastante. O destaque do Ederson vem muito desse jogo com os pés

Taffarel, preparador de goleiros da Seleção, durante treino — Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Taffarel, preparador de goleiros da Seleção, durante treino — Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Você estimula a concorrência entre Alisson, Ederson e Weverton?
– Sempre, a cada exercício. Tem até um exercício que a gente faz justamente estimulando isso, com chutes de fora da área. O goleiro que solta a bola ou toma o gol passa a vez para o companheiro, isso estimula muito, primeiro a fazerem a defesa com muita técnica e depois não sofrer o gol. Esse estímulo tem que existir no treinamento.

Os três goleiros da Seleção jogam em alto nível. É possível melhorar esses jogadores nos treinos ou o seu trabalho é essencialmente para mantê-los em forma?
–No futebol, mesmo que tu trabalhes com o melhor do mundo, tem que estar atento ao que ele está fazendo. A gente está muito satisfeito com o rendimento dos goleiros e temos que fazer a cada dia o melhor para que eles se sintam bem, cada bola é uma bola diferente, no treinamento, no jogo, ela fica diferente… E às vezes você dá um toque no enquadramento de corpo, na posição, é importante, o goleiro tem que ter essa atenção sempre.

A preparação dos goleiros hoje em dia é muito diferente do que era na sua época?
– Melhorou bastante. Não que os profissionais não fossem bons na época, mas era tudo limitado na época. Preparação física era limitada… E o goleiro é a mesma coisa, a gente trabalhava muito na quantidade, bola no chão, seis para um lado, seis para o outro, não tinha muitos recursos, dinamismo. Foi uma evolução que foi acontecendo, tu vai criando seus trabalhos em cima dessa evolução.

A gente tem visto vocês usando caixas, bancos e outros materiais inusitados nos treinos de goleiros. Gostaria que você explicasse o objetivo disso.
– O material sempre depende muito do que temos na mão. Nos clubes geralmente temos muito mais recursos em termos de materiais. A gente foi treinar no CT do São Paulo, e o Marquinho (preparador de goleiros) me mostrou o que ele tinha lá, realmente é muita coisa. Nós não temos na CBF porque treinamos num período curto, muitas vezes nem vamos para a Granja, nas viagens tu não pode levar um caixote, certas coisas que são utilizadas nos treinamentos. Começamos a olhar no Centro de Excelência da CBF e vimos que tem tantas coisas que dá para se utilizar num treinamento. O caixote foi uma coisa interna que passamos para o externo. Fazendo um trabalho de reflexo, ele ajuda bastante, o goleiro fica no centro, a bola bate no caixote, e ele não sabe para onde ela vai. Tem muitas coisas que a gente pode criar e que vemos em vídeo outros treinadores fazerem. Não tem problema copiar aquilo que é bom, que dá resultado, a gente vê muitos trabalhos na internet e acaba transferindo para cá.

Você mencionou o Marquinho. Gostaria que você comentasse um pouco sobre a relação de vocês, que já vem de longa data, e também contasse como está sendo voltar a trabalhar com ele.
– São muitos, muitos anos de relação. Nossa relação começou em 1990, quando ele veio para o Internacional. Ele era um jogador do Novo Hamburgo, foi contratado pelo Inter para ser um dos goleiros, trabalhamos juntos e eu sempre gostei do perfil dele, um cara bacana, muito companheiro. E logo ele seguiu nessa função de treinador de goleiros, ainda bem jovem. Ele tem uma experiência muito grande. Em 2005, quando o (Gheorghe) Hagi voltou ao Galatasaray como treinador, ele me convidou para ser treinador de goleiro. Na época, eu nem sonhava com isso, mas por ter uma relação muito forte com o Hagi eu disse que iria, mas que teria de levar um professor mesmo, não um auxiliar, e aí convidei o Marquinho. Ficamos dois meses, fizemos um bom trabalho, na época o goleiro do Galatasaray era o Mondragón, colombiano. O Marquinho voltou, continuou o seu trabalho, eu fui para um outro lado. A gente sempre manteve uma relação, mas acabamos nos reencontrando agora, teve a oportunidade, junto com o Juninho (Paulista, coordenador), de trazer um auxiliar para a Seleção para qualificar mais o trabalho, não que isso me canse, mas qualifica o trabalho. Hoje em dia as seleções e clubes trabalham com dois treinadores para qualificar o trabalho, dar dinamismo. O Marquinho, com toda experiência e bagagem dele acrescenta bastante, assim como foi com o Mauri (Lima) e o (Rogério) Maia. Estou muito feliz.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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