Diário de São Paulo
Siga-nos

Só o povo

Rodrigo Constantino

Só o povo
Só o povo

Redação Publicado em 08/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 19h53


Rodrigo Constantino

Só o povo

Alguém tinha esperança de que uma multidão nas ruas seria suficiente para colocar um freio no arbítrio supremo? Se sim, lamento ser o estraga-prazeres, mas é pouco provável que ocorra algum recuo por parte do Xerife. O ministro está mergulhado demais no ativismo para ceder agora. A ruptura já ocorreu, quando o STF criou inquérito ilegal chancelado no plenário, colocou o ex-tucano como relator sem sorteio, e desde então passou a perseguir bolsonaristas ao arrepio da lei.

Enquanto milhões de brasileiros cantavam o hino nacional, pediam liberdade e respeito a Constituição nesse feriado do 7 de setembro, o jornalista Oswaldo Eustáquio recebia uma vez mais ordem de prisão, e o CEO da rede Gettr, Jason Miller, era detido no aeroporto para interrogatório ilegal. Miller estava no Brasil para o CPAC, o maior evento conservador do mundo. O americano foi detido de forma irregular e com base em acusações esdrúxulas, como apoiar “atos antidemocráticos”.

Funciona assim: o ministro Alexandre, junto da imprensa militante, decidiu que os milhões de brasileiros nas ruas em apoio ao governo ou contra o ativismo judiciário são golpistas. A narrativa é criada e os fatos não mais importam. Falaram em violência, bolsonaristas armados, golpe, mas tudo que vimos foi o costumeiro ato patriótico ordeiro, pacífico e civilizado, clamando por liberdade. Faixas isoladas pediam intervenção militar, mas usá-las para configurar a manifestação toda como “antidemocrática” é simplesmente bizarro.

A imprensa, por sua vez, enaltecia os atos da oposição, com bandeiras vermelhas pedindo a ditadura do proletário. Ali sim, tinha democrata pedindo vacinas, empregos e respeito à Constituição, segundo nossos jornalistas. Não importa que tenham sido apreendidos pela polícia armas brancas e coquetel Molotov, ou que as manifestações da esquerda costumem terminar em vandalismo. A narrativa precisa prevalecer.

Eis o que temos na prática: os representantes do establishment não admitem a simples existência da direita conservadora como um player político. Eles querem voltar ao status quo ante, à vida antes de Bolsonaro, quando PT e PSDB disputavam o poder fingindo existir pluralidade, disputa entre esquerda e direita, quando na verdade era uma briga em família para comandar o país – com muitos escândalos de corrupção. Estão todos unidos para expelir a areia da engrenagem, e contam com o apoio cúmplice de uma imprensa saudosista das gordas verbas públicas.

Só há um detalhe: o povo. Este insiste em ficar no caminho dos anseios da elite esquerdista, como vimos nesta terça. A “democracia de gabinete”, uma “democracia” sem povo, precisa extirpar antes qualquer reação popular. Bolsonaro está isolado, dizem, e em parte é verdade. Ele não tem sindicatos, ONGs, banqueiros, sequer um partido. Ele “só” tem o povo.

Compartilhe  

Tags

últimas notícias