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Simone Biles: “Deveria ter desistido muito antes de Tóquio”

Simone Biles acredita que deveria ter desistido das Olimpíadas de Tóquio bem antes do evento. Dona de sete medalhas olímpicas, sendo quatro de ouro, a ginasta

Simone Biles: “Deveria ter desistido muito antes de Tóquio”
Simone Biles: “Deveria ter desistido muito antes de Tóquio”

Redação Publicado em 28/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h36


Maior ginasta de todos os tempos afirma que viveu um turbilhão mental nos últimos sete anos por conta das investigações dos abusos feitos por Larry Nassar

Simone Biles acredita que deveria ter desistido das Olimpíadas de Tóquio bem antes do evento. Dona de sete medalhas olímpicas, sendo quatro de ouro, a ginasta americana era considerada a grande estrela dos Jogos. No Japão, porém, desistiu de cinco de suas seis finais olímpicas. Em entrevista à revista “New York”, ela afirma que o desgaste mental por conta da investigação dos abusos cometidos pelo ex-médico da seleção americana Larry Nassar foi muito grande.

– Se você olhar para tudo que eu passei nos últimos sete anos, eu nunca deveria ter feito parte de outro time olímpico. Eu deveria ter desistido muito antes de Tóquio, quando Larry Nassar estava na mídia por dois anos. Foi muito. Mas eu não ia deixá-lo tirar de mim algo pelo qual eu trabalhei desde os meus seis anos de idade. Eu não iria deixá-lo tirar de mim toda aquela alegria. Então, eu empurrei o passado para trás o máximo que minha mente e meu corpo deixaram – afirmou.

Simone Biles dá depoimento no Senado dos EUA — Foto: Graeme Jennings-Pool/Getty Images

Simone Biles dá depoimento no Senado dos EUA — Foto: Graeme Jennings-Pool/Getty Images

Nos Jogos, Simone Biles afirmou sofrer com “twisties”, um bloqueio mental que faz com que as ginastas percam a orientação no ar. A ginasta tem feito terapia mesmo antes dos Jogos, mas que suas crises de ansiedade começaram assim que pisou em Tóquio. Muito, também, pelas restrições impostas pelo coronavírus.

– Por conta disso, eu fiquei mais e mais nervosa. Eu não me senti tão confiante quanto deveria depois de ter treinado tanto quanto treinei. Isso é algo que eu devo trabalhar pelos próximos 20 anos. Não importa o quanto eu tente esquecer. É um trabalho em andamento.

Simone também afirma que a questão racial também tem um impacto grande sobre seu estado mental.

– Como uma mulher preta, nós temos que ser as melhores. Porque, mesmo quando você quebra recordes ou algo do tipo, as pessoas tentam menosprezar, como se fosse algo normal – afirmou.

Simone Biles na final da trave nas Olimpíadas — Foto:  REUTERS/Lindsey Wasson

Simone Biles na final da trave nas Olimpíadas — Foto: REUTERS/Lindsey Wasson

No dia 15 deste mês, Simone Biles testemunhou em um painel do Comitê Judiciário do Senado dos Estados Unidos sobre os erros do FBI, a agência americana de investigação, na apuração dos abusos sexuais cometidos por Larry Nassar. Uma das centenas de mulheres molestadas pelo ex-médico da Federação Americana de Ginástica (USA Gymnastics), a ginasta de 24 anos responsabilizou o FBI e as entidades que gerenciam sua modalidade no país pelos crimes de Nassar.

– A USA Gymnastics e o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos (USOPC) sabiam que fui abusado por seu médico oficial da equipe muito antes de eu saber do conhecimento deles. Sofremos e continuamos sofrendo, porque ninguém no FBI, USAG ou USOPC fez o que era necessário para nos proteger. Falharam conosco. Eu culpo Larry Nassar e também culpo todo um sistema que permitiu e perpetrou seu abuso. As organizações criadas pelo Congresso para supervisionar e me proteger como atleta… falharam em fazer seu trabalho – disse Simone, que chorou durante seu depoimento.

A investigação começou em 2015, e os vários passos em falso incluíram esperar cinco semanas para conduzir uma entrevista por telefone com uma das atletas vítimas, segundo o relatório, além de não entrevistar outras vítimas. Os numerosos erros, concluiu o relatório, permitiram que o abuso sexual continuasse por meses.

Em fevereiro de 2018, Larry Nassar foi condenado a até 360 anos de prisão por ter molestado 265 mulheres. As vítimas ainda buscam reparação da USA Gymnastics e do Comitê Olímpico Americano.

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Globo Esporte

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