'Estou indignado. Em 10 anos de profissão nunca passei por isso. O sentimento é de impotência". Assim o repórter Márcio Adalto, da equipe de jornalismo
Redação Publicado em 04/08/2017, às 00h00 - Atualizado às 09h17
‘Estou indignado. Em 10 anos de profissão nunca passei por isso. O sentimento é de impotência”. Assim o repórter Márcio Adalto, da equipe de jornalismo agredida por policial durante cobertura de audiência em Urânia (SP), na terça-feira (1º), desabafou nas redes sociais sobre o episódio em que teve o celular quebrado.
A audiência era para testemunhas de acusação, inclusive policiais federais, contarem à Justiça sobre as investigações de desvios de verbas federais feitas pelo ex-prefeito de Urânia, Francisco Airton Saracuza.
A equipe de reportagem do SBT Interior, que cobre a região noroeste paulista, foi impedida de filmar, na rua, a chegada dos réus ao Fórum. (VEJA VÍDEO ABAIXO)
Em nota, a Polícia Militar disse que havia uma ordem verbal da Justiça para que a PM impedisse que a imprensa fizesse imagens no local e que a rua estava interditada. O comando diz que vai apurar a conduta do policial.
A equipe registrou boletim de ocorrência já que confiscar aparelho de jornalista com MTB é crime de constrangimento ilegal, de acordo com o artigo 222 do Código Penal Militar (CPM). “Fora o dano material e o abuso de autoridade”, diz Márcio Adalto. Ele e o departamento jurídico da emissora devem se reunir nesta sexta-feira (4) para resolverem o que será feito judicialmente.
Adalto contou ao G1, nesta quinta-feira (3), que ele e o cinegrafista Ever Centurion eram os únicos da imprensa no Fórum para fazer a cobertura da audiência e que em nenhum momento ninguém os alertou sobre a proibição de filmagens ou entrevistas.
“Quando chegamos havia dois cavaletes que impediam o trânsito de veículos, mas nenhuma faixa que impedisse a passagem de pessoas ou aviso que não poderíamos estar ali. Além disso, antes do ocorrido, entrevistamos o advogado de defesa e fizemos imagens da fachada. Os policiais estavam lá, eu os cumprimentei, eles viram a gente gravando e não falaram nada.”
O repórter diz que não recebeu nenhuma notificação por escrito da Justiça nem da Polícia Militar. “Se tivesse alguma proibição formal eles teriam nos impedido antes, mas só quando chegou a viatura que carrega presos é que, do nada, veio o sargento dizendo que não podia fazer imagens”, lembra.
Ele diz que o policial segurou a câmera do cinegrafista e sua reação foi filmar com celular. “No ímpeto peguei meu celular para gravar o flagrante, aquele abuso. Comecei a gravar e foi aí que tudo aconteceu. Foi muito rápido, questão de 10 segundos, difícil descrever com palavras, mas fiquei indignado demais. A calma do cinegrafista me trouxe uma calma que não tenho, caso contrário poderia estar preso, com certeza.”
Adalto agradeceu a solidariedade da imprensa, dos órgãos ligados a ela e aos colegas de profissão. “Agradeço aos colegas de profissão que repudiaram o ato, em especial aos amigos da imprensa de Santa Fé do Sul, Brasília, e ao importante gesto da TV TEM. Essa união é o que nos motiva a prosseguir. Sempre”, escreveu.
Saracuza e funcionários de confiança da prefeitura foram presos no início deste ano depois de os agentes descobrirem a falta de dinheiro dos cofres da prefeitura.
Na primeira audiência do caso, na terça-feira (1º), um policial que fazia a escolta dos réus na chegada ao Fórum impediu que o repórter cinematográfico fizesse imagens, na rua, da chegada do carro da polícia. O PM segurou o equipamento do cinegrafista durante todo o tempo.
Com o cinegrafista impedido pelo policial, o repórter, então, começou a filmar pelo celular. O policial pegou o celular dele e jogou no chão. O aparelho quebrou.
O SBT Interior disse que repudia qualquer ato violento que interfira na liberdade de imprensa de qualquer veículo de comunicação.
A Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) emitiu nota em que diz que é inaceitável que profissionais de comunicação sejam agredidos e intimidados por policiais militares durante cobertura jornalística e pede às autoridades rigorosa apuração dos fatos.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) publicou nota em que lamenta o ocorrido, que condena a atitude do policial e que a violência contra jornalistas é também um atentado ao direito à informação.
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