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Sem empresas, partidos apostarão em redes sociais para arrecadar

Com o veto do Supremo Tribunal Federal (STF) à doação empresarial para campanhas eleitorais, partidos ouvidos pelo G1 informaram que devem priorizar o uso de

Sem empresas, partidos apostarão em redes sociais para arrecadar
Sem empresas, partidos apostarão em redes sociais para arrecadar

Redação Publicado em 30/07/2016, às 00h00 - Atualizado às 08h36


Há um ano, STF proibiu doação de empresas para campanhas eleitorais.
Siglas também delegaram estratégias de arrecadação a diretórios estaduais.

Com o veto do Supremo Tribunal Federal (STF) à doação empresarial para campanhas eleitorais, partidos ouvidos pelo G1 informaram que devem priorizar o uso de redes sociais para incentivar doações de militantes na disputa municipal deste ano.

Nesta semana, a reportagem procurou os cinco partidos com maior número de parlamentares no Congresso Nacional – PMDB, PT, PSDB, PP e PR – para saber quais  estratégias adotarão para arrecadar recursos na eleição de outubro.

Além das campanhas na internet, as direções das legendas decidiram delegar aos diretórios estaduais a definição sobre outras estratégias para garantir recursos para os candidatos.

Além da proibição da doação empresarial às campanhas pelo STF, outros temas relacionados às disputas eleitorais foram modificados no ano passado, quando a presidente Dilma Rousseff, atualmente afastada em razão do processo de impeachment, sancionou a Lei da Reforma Política.

O período da campanha, por exemplo, caiu de 90 para 45 dias – com isso, a propaganda eleitoral terá início no dia 16 de agosto deste ano.

Em entrevista ao G1 nesta semana, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, disse que o Supremo Tribunal Federal (STF) colocou “o carro na frente dos bois” ao proibir que empresas façam doações eleitorais.

“Porque nós discutimos primeiro o financiamento, sem prestar atenção ao sistema eleitoral. Não alteramos nada no sistema eleitoral e decidimos mudar o financiamento”, disse o magistrado. “Nós temos agora que aguardar o resultado dessa campanha e ver também se na reforma política haverá a revisão do sistema eleitoral”, concluiu.

Estratégias de arrecadação
No caso do PT, o secretário de Finanças do partido, Márcio Macêdo, disse que a cúpula do partido estuda campanhas de arrecadação que utilizem vídeos no YouTube, principalmente em razão do “baixo custo” para produzir as gravações.

Ao G1, ele disse também que campanhas no Facebook e no Twitter deverão ser utilizadas pelos candidatos petistas às prefeituras.

Segundo Macêdo, “dentro das possibilidades”, o partido contribuirá com os candidatos, mas os políticos precisam estar prontos para campanhas “mais simples” neste ano.

“A principal estratégia para as campanhas deste ano é o candidato entender que serão campanhas mais simples, com foco no corpo a corpo. Nós vamos estimular o uso das redes sociais para os candidatos arrecadarem, assim como a campanha ‘Seja Companheiro’ que, por meio dela, os militantes podem doar para o partido por meio do nosso site”, disse o secretário.

Sem empresas, partidos apostarão em redes sociais para arrecadar

Na mesma linha, o tesoureiro-adjunto do PMDB e ex-presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), afirmou que não há uma determinação oficial do PMDB sobre as estratégias de arrecadação, mas que, em sua avaliação, com o fim das doações empresariais, os candidatos terão que focar principalmente nas inserções de rádio e TV e nas redes sociais para arrecadar.

“Com base no quadro que estamos imaginando, 90% da arrecadação das campanhas virão com base no que os eleitores ouvirem no rádio, virem na TV e, claro, acessarem nas redes sociais. Os outros 10% virão com o que os candidatos fizerem nas ruas. Mas o foco do candidato deve ser se tornar conhecido nas redes sociais, e conseguir que os usuários o conheçam e façam as doações”, disse.

Para Raupp, a “vantagem” de redes sociais como Twitter e Facebook é o baixo custo para os candidatos criarem suas campanhas de doação.

“E isso é muito interessante. E posso dizer, sem dúvida, que ficou ainda mais importante o uso das redes sociais pelos candidatos após a campanha do Obama em 2008. Aquilo foi um aprendizado e fez com que todo mundo no meio político passasse a utilizar essas redes. E isso não vai parar, pelo contrário, só tende a crescer”, completou.

Segundo explicou ao G1 o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), o partido também utilizará as redes sociais para divulgar um programa que estará disponível no site da legenda a partir da próxima semana chamado “PMDB mais que voto”.

Conforme Jucá, por meio desse sistema, o eleitor poderá fazer a doação ao candidato que quiser – o candidato pagará R$ 400 para ter um perfil nesse sistema.

A cada 72 horas, explicou, o próprio sistema enviará para o TRE do estado do candidato o relatório com a doação para que a prestação seja de contas seja on-line.

Foco em municípios maiores
O secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), disse que o diretório nacional da legenda decidiu contribuir com as campanhas municipais por meio de recursos do Fundo Partidário, mas que o “foco especial” dos recursos do fundo serão os municípios com mais de 100 mil habitantes.

Embora diga que a direção nacional da legenda ainda não tenha definido uma campanha específica na internet para arrecadar recursos, Silvio Torres disse que o uso das redes sociais “está sendo estudado neste momento”.

Na avaliação do secretário-geral do PSDB, o partido soube utilizar páginas no Twitter e no Facebook na campanha de 2014, e, por isso, é preciso “alimentar essa estratégia na campanha deste ano”.

“Na campanha [presidencial] do [senador] Aécio [em 2014], o PSDB já fez isso, investiu nas redes sociais e o trabalho neste ano é no sentido de alimentar isso. O importante é garantir que haja interatividade entre o candidato e o eleitor, e teremos equipes trabalhando nesse sentido para ajudar os candidatos”, declarou o tucano.

‘Vaquinhas’
O TSE barrou a “vaquinha” na internet, doação por meio de sites de financiamento coletivo ou “crowdfunding”. Ao proibir o sistema de arrecadação, os ministros entenderam que, por cobrar uma fatia das doações, os sites seriam um “intermediário”, o que não é permitido pelas novas regras.

Consultado por deputados sobre se os sites poderiam captar as doações sem cobrar, o TSE entendeu que a legalidade seria difícil de ser garantida e que empresas poderiam se utilizar dos sites para burlar a lei eleitoral.

Diretórios estaduais
Além de utilizar as redes sociais como ferramenta para arrecadar recursos, as direções nacionais de algumas legendas decidiram repassar aos diretórios estaduais as decisões sobre estratégias de arrecadação.

O PR, por exemplo, disse à reportagem que chegou à conclusão de que os diretórios estaduais precisam estabelecer algumas estratégias porque, na avaliação da legenda, as “peculiaridades” de cada estado fazem com que seja “muito difícil” estabelecer uma regra geral para arrecadação.

“Numa cidade como São Paulo, por exemplo, o candidato pode investir em grandes jantares e almoços para arrecadar, o que é muito efetivo. Já numa cidade do extremo Norte do país, por outro lado, a gente avalia que isso tende a não funcionar, porque o corpo a corpo entre os próprios militantes dá mais resultado e os candidatos podem focar nas campanhas [de doação] nas redes sociais, o que deverá atingir grande parte dos eleitores”, relatou ao G1 um dirigente do partido.

Por meio de nota enviada pela assessoria, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse que cada diretório estadual terá “autonomia” para definir as estratégias de arrecadação, assim como as alianças que os candidatos farão, “considerando os cenários locais”.

Em razão da proibição das doações empresariais e da redução do tempo de campanha, a cúpula do PP decidiu ainda que, os candidatos deverão ter “atuação mais intensa” junto às bases de eleitores.

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