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Samuel Emílio: Pode ser que me cancelem, mas eu prefiro fazer política real ao em vez de ser patrulha moral na internet

O debate que vou abrir aqui não é novidade, mas tem que ser mais falado. A política de cancelamento está exaurida e acabada e deve ser enterrada. A prática é

Samuel Emílio: Pode ser que me cancelem, mas eu prefiro fazer política real ao em vez de ser patrulha moral na internet
Samuel Emílio: Pode ser que me cancelem, mas eu prefiro fazer política real ao em vez de ser patrulha moral na internet

Redação Publicado em 11/10/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h13


Pode ser que me cancelem, mas eu prefiro fazer política real ao em vez de ser patrulha moral na internet

O debate que vou abrir aqui não é novidade, mas tem que ser mais falado. A política de cancelamento está exaurida e acabada e deve ser enterrada. A prática é excludente, não abre diálogo é baseada em um espírito de vigilantismo e passa por cima de direitos humanos fundamentais como presunção de inocência e direito de defesa.

O mais triste é que esse é um jogo jogado principalmente pela esquerda e um pouco pela centro-esquerda, espectro ideológico onde me encontro. A lacração divide, instaura uma patrulha moral e como resultado produz pessoas com medo de se exprimirem e supressão do livre diálogo e troca de ideias.

Vale dar alguns exemplos do tema. O ex-ginasta Diego Hypólito recentemente fez uma declaração pública afirmando sua homossexualidade e denunciando casos de assédio moral durante a carreira. A esquerda o abraçou. Tempos depois, foi a uma reunião no Palácio do Planalto falar formalmente sobre um projeto para esportes. Uma foto com Bolsonaro bastou para ser cancelado. Não importa ele ter declarado que não concorda com nada do que o presidente diz.

A jornalista Glória Maria sempre foi tida como um exemplo de mulher negra em posição de destaque na sociedade. Recentemente, disse que não gosta do que chama de “politicamente correto” e que “hoje é tudo racismo e assédio” e que isso “é um saco”. Cancelada.

Eu também senti um pouco do veneno. No ano passado declarei apoio ao texto final da reforma da Previdência, após ler e entender que seria a melhor saída legislativa naquele momento. Fui ridicularizado por algumas pessoas. E quando a deputada federal Tábata Amaral declarou apoio a minha candidatura, esse mesmo movimento apareceu. Sem diálogo, sem respeito, na base da ironia e da agressão.

Poderia escrever mais dezenas de casos de cancelamento, mas não é necessário. A política real, que muda a vida das pessoas, afeta o cotidiano da cidade, é feita bem longe do cancelamento. É feita com diálogo com quem você não gosta e concorda. É feita com concessão, com sapos engolidos. Isso é a democracia. Eu luto nesse campo, meu objetivo é fazer política que interfira diretamente na cidade e não apontar dedo na internet.

Pode ser que me cancelem. Enquanto isso gasto a sola do sapato falando ao vivo com as pessoas e fazendo política real.

Samuel Emílio é ativista do movimento negro, formado em engenharia, conselheiro do Acredito e de diversidade e inclusão. Fundou a plataforma Engaja Negritude, da Educafro, foi embaixador do Ensina Brasil (Teach For All no Brasil), é Fellow do Programa ProLíder, do Guerreiros Sem Armas e da Arymax, além de Bolsista do ID_Br.

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