Roger Waters arrancou uma reação vibrante dos 45,5 mil presentes no Allianz Parque, em São Paulo, na noite desta terça-feira (9). Foi o início da turnê "Us +
Redação Publicado em 10/10/2018, às 00h00 - Atualizado às 08h45
Roger Waters arrancou uma reação vibrante dos 45,5 mil presentes no Allianz Parque, em São Paulo, na noite desta terça-feira (9). Foi o início da turnê “Us + Them” no Brasil (veja as próximas datas no final do texto). A reação foi intensa por dois motivos:
Tudo isso foi ampliado por um telão de 70 metros de altura por 14 de largura, a segunda principal peça de de um show de alta qualidade técnica. A primeira peça principal ainda é o senhor de 75 anos que resiste suado após quase 3 horas no meio do palco.
Outro fator “uau” são as quatro torres de som pelo estádio, com funcionamento independente e efeito de profundidade – te colocam “dentro” da música, não diante dela. A parafernalha tecnológica dá algum ar de novidade ao repertório tão antigo quanto imbatível.
O mais legal é quando telão e um porco voador fazem do estádio uma versão viva da capa do disco “Animals” (1977). Ah, e quando luzes sobre o público reproduzem o prisma da capa de “The dark side of the moon” (1973).
A banda liderada pelo vocalista e baixista cai um pouco às vezes no automático de um “Pink Floyd cover oficial”. O que mais salva para dar uma cara original são as duas boas vocalistas de apoio, meio teatrais e brilhantes em “The great gig in the sky”.
Entre os guitarristas, Jonathan Wilson exagera no cosplay de David Gilmour, enquanto Dave Kilminster mostra mais personalidade nos solos.
O reforço no teor político desta turnê de Waters vem do disco solo mais recente dele, ” Is This the Life We Really Want?”. Em “The last refugee” e “Picture that”, ambas no meio do show, ele pinta um cenário pessimista do mundo.
O presidente dos EUA, Donald Trump, foi alvo desde o início da turnê. Durante “Pigs”, o telão mostra em português mesmo: “Donald Trump é um porco”. “Money” segue na crítica a Trump e também mostra líderes europeus como Theresa May e Emmanuel Macron.
Outro momento da turnê com críticas políticas é um longo intervalo após “Another brick in the wall”. Essa música termina com um coral de crianças com camisas escritas “resist” (resista).
O telão da turnê sempre mostra, em seguida, coisas às quais Roger Waters pede para os fãs resistirem: anti-semitismo, destruição do meio ambiente, tortura e outros.
Uma destas imagens dizia: “resista ao neofascismo”. Em seguida, o telão dizia que “o neofascismo está crescendo pelo mundo”, e listava políticos de vários países. Na lista que já tinha aparecido em outros shows da turnê, Roger Waters acrescentou em São Paulo o nome de Jair Bolsonaro.
Mesmo antes de aparecer o nome de Bolsonaro no telão, o público já havia reagido à palavra “resistir” que era destacada após “Another brick in the wall”.
Primeiro, uma parte do público cantou duas vezes o coro de “ele não”, contra Bolsonaro. Depois, uma parte do público cantou um coro de “fora PT”, partido do opositor de Bolsonaro no segundo turno das eleições, Fernando Haddad.
Só depois disso apareceu a tela sobre o neofascismo com o nome de Bolsonaro. O público reagiu com gritos, aplausos e vaias. Logo depois, veio outro coro de “fora PT”.
As referências e gritos sobre política voltaram a aparecer no final do show. No final da música “Eclipse”, o telão mostrou a expressão #EleNão, usada em redes sociais para criticar Bolsonaro.
O público respondeu com quatro minutos seguidos de vaias e aplausos. Waters encarou a plateia e, quando conseguiu falar, fez um agradecimento genérico:
“Eu sabia que isso ia acontecer porque em São Paulo, e na América do Sul em geral, vocês têm a fama de terem muito amor no coração”, ele disse, agradecendo a público mesmo ainda sob algumas vaias.
Depois, ele fez um novo discurso, dessa vez mais longo e específico. Primeiro, falou sobre Direitos Humanos. “Eu sempre menciono os Direitos Humanos porque acredito neles”. Ele defendeu o povo palestino, tema que o músico sempre aborda. Depois, falou sobre o Brasil:
“Vocês têm uma eleição importante em três semanas. Vão ter que decidir quem querem como próximo presidente. Sei que não é da minha conta, mas eu sou contra o ressurgimento do fascismo por todo o mundo. E como um defensor dos Direitos Humanos, isso inclui o direito de protestar pacificamente sob a lei. Eu preferiria não viver sob as regras de alguém que acredita que a ditadura militar é uma coisa boa. Eu lembro dos dias ruins na América do Sul, e das ditaduras, e foi feio”, disse Roger Waters.
Na música seguinte, o #EleNão voltou a aparecer no telão, recebido de novo com aplausos de uma parte e vaias de outra.
O público só se uniu mesmo no final, em “Confortably numb”, com todo mundo jogando as mãos para cima e cantando junto, desta vez um mesmo refrão, do clássico do Pink Floyd.
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