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Revolta na Argélia maior produtora de petróleo e gás da África

O Globo

Revolta na Argélia maior produtora de petróleo e gás da África
Revolta na Argélia maior produtora de petróleo e gás da África

Redação Publicado em 08/03/2019, às 00h00 - Atualizado às 14h16


Manifestantes desafiam presidente que representou estabilidade depois de guerra civil com 200 mil mortos

O Globo

Argélia se encontra diante de um possível momento de divisão de águas na sua história recente. Dezenas de milhares de pessoas têm saído às ruas contra a tentativa do presidente Abdelaziz Bouteflika de concorrer a um quinto mandato nas eleições de abril, depois de 20 anos consecutivos no poder. O chefe de Estado de 82 anos, que não aparece em público desde 2013, quando sofreu um derrame, parece determinado a não retroceder, embora já tenha prometido que, se reeleito, não terminará seu mandato.

Caso os manifestantes sejam bem-sucedidos, o país que é o maior produtor de gás e petróleo da África passará pela primeira grande mudança política desde a guerra civil dos anos 1990, quando morreram estimadas 200 mil pessoas. Embora os protestos sejam proibidos no país, quase todos os dias há marchas na capital desde 22 de fevereiro.

Bouteflika, eleito em 1999 com apoio dos militares, era visto como uma garantia de estabilidade depois da guerra civil, iniciada por uma insurgência islâmica quando um golpe militar cancelou as eleições parlamentares de 1991, vencidas pela Frente Islâmica de Salvação.As eleições canceladas haviam sido as primeiras multipartidárias desde a independência da Argélia da França, em 1962, conduzida pela Frente de Libertação Nacional (FLN). A FLN, partido de Bouteflika, governa o país desde a independência, e os militares têm grande influência desde que depuseram o primeiro presidente argelino, Ahmed Ben Bella, em 1965.

Os jovens compõem a grande maioria dos manifestantes, em um país onde 54% dos 42 milhões de habitantes têm menos de 30 anos, dos quais mais de 25% estão desempregados. O país foi fortemente afetado pela queda dos preços do petróleo, a partir de 2014, apesar de manter-se como terceiro maior fornecedor de gás para a Europa.

Com as manifestações, a base de sustentação do presidente — composta pela cúpula militar, pela elite econômica beneficiada pelos petrodólares e pela cúpula política do regime — começou a demonstrar sinais de erosão. Parlamentares da FLN renunciaram e se juntaram aos protestos. Na última terça-feira, veteranos da guerra de independência pediram a saída de Bouteflika e do seu círculo político mais próximo. “É dever de todos os segmentos da sociedade argelina ir para as ruas”, afirmou a influente Organização Nacional dos Mujahedin.

Entretanto, altos dirigentes, como o premier Ahmed Ouyahya, vêm tentando conter as manifestações, evocando as lembranças traumáticas dos anos 1990 e alertando para a possibilidade de “caos”. O chefe do Estado-Maior do Exército, o general Gaed Salah, afirmou nesta semana que as Forças Armadas “não admitirão ameaças à segurança e integridade das eleições”.  À agência Reuters, um general disse que o “Exército não vai interferir por enquanto, porque cabe à elite civil no governo limpar a bagunça”, mas “não vai tolerar uma nova edição do cenário dos anos 1990”.

Um desafio aos manifestantes é o fato de Bouteflika ter poucos desafiantes críveis, depois que anos de autoritarismo enfraqueceram a oposição e limitaram as alternativas de grupos políticos que poderiam ocupar o poder.

A Argélia passou por uma onda de protestos durante a chamada Primavera Árabe, em 2011, mas  a proximidade da guerra civil e a situação econômica mais favorável, que permitiu ao governo aumentar as despesas sociais, evitaram a queda do governo como aconteceu em países como Egito e Tunísia.

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