Redação Publicado em 24/05/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h49
Sempre fui um admirador do trabalho desenvolvido pelo Canil da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo e, recentemente, por meio do Projeto “Leis e Bichos”, tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre as peculiaridades desse trabalho e as várias facetas de seus cães e instrutores.
Recebido pelo Comandante Regional do Canil, ID Manoel Arlindo Barbosa, descobri que o embrião do Canil da Guarda começou em 1988, porém foi oficializado somente no ano de 2000. O Canil conta hoje com vinte cães, que desenvolvem variadas funções, divididas basicamente em: policiamento, faro, cinoterapia e serviço social.
Com foco no policiamento preventivo e comunitário, os cães auxiliam na proteção de bens, serviços e de toda população paulistana. Costumam ter participação efetiva em distúrbios, aglomerações e, também, atuam junto ao Projeto Redenção na região conhecida por “Cracolândia”. Para que um cão possa desenvolver o trabalho de policiamento é necessário cerca de um ano de treinamento.
No que se refere ao faro, inicialmente os cães foram treinados para o encontro de pessoas desaparecidas, o que acontece por meio da entrega de um objeto pessoal do desaparecido para o cão. Posteriormente, devido ao sucesso e a demanda, alguns cães foram treinados para desenvolver o faro visando à busca de substancias entorpecentes (drogas), armas e também pessoas mortas. Esse trabalho propiciou um estreitamento com a Defesa Civil e unidades da Polícia Civil. Hoje muitas Delegacias de área, além de Departamentos como DEIC, DENARC e DHPP socorrem-se dos cães da Guarda Municipal como parceiros em atividades investigativas, como procura por substâncias entorpecentes e corpos em cemitérios clandestinos.
Outro trabalho desenvolvido por nossos heróis de quatro patas, mas pouco conhecido, é a cinoterapia. A Pet terapia ou cinoterapia é um método que utiliza cães como coterapeutas em diversos tratamentos de saúde, sejam físicos, psíquicos ou emocionais. O trabalho é realizado em hospitais e asilos, sempre acompanhado de um instrutor e um profissional da saúde. Qualquer paciente pode ser submetido à técnica, que é muito utilizada com crianças, idosos e pessoas com problemas psicológicos. Os instrutores contaram que os resultados são surpreendentes, além da boa receptividade pelos pacientes, a técnica proporciona uma sensação de bem estar, o que faz com que o tratamento seja menos doloroso e alcance resultados mais eficazes.
O serviço social de nossa patrulha canina é realizado em creches e escolas, é denominado atividade assistida por animais e consiste em apresentações de agilidade e simulação de ocorrências. É um trabalho muito requisitado, uma vez que o contato entre os cães e as crianças auxilia no processo educacional, reforçando noções de companheirismo e dever de respeito com todos os seres vivos.
A fim de saber qual função é mais adequada para cada cão, os instrutores explicaram que assim que um cão chega à unidade começa a ser observado. Os cães, assim como nós, precisam ter aptidão para desenvolver determinadas tarefas. No caso das atividades assistidas por animais e na cinoterapia, por exemplo, os cães devem ter o que se chama “atração social”, ou seja, devem gostar do contato com pessoas, devem ser sociáveis.
Depois de conhecer a diversidade de trabalhos desenvolvidos por cães, me surgiu a seguinte dúvida: eles têm direito à aposentadoria? Os instrutores explicaram que há uma diretriz mundial no sentido de que os cães só devem trabalhar nessas funções por cerca de oito anos. Após esse período eles devem se aposentar e são destinados à adoção. Em tese qualquer pessoa pode adotar um cão aposentado da Guarda Municipal, no entanto, a prioridade é que o animal fique com seu instrutor, seguido de outros integrantes do Canil ou da Guarda Municipal.
Há protetores de animais que criticam atividades como essa, sob a alegação de que os animais seriam explorados.
Contudo, conhecer um pouco desse trabalho e vivenciar a relação entre instrutores e cães, entre pacientes e seus Pets terapeutas, só me faz concluir que a evolução do homem, seja no tocante a vida em harmonia no ecossistema seja quanto sua evolução ética e moral, é absolutamente indissociável da real compreensão de suas relações biológicas, afetivas e de cooperação com outras espécies animais.
Renzo Angerami é Chefe dos Investigadores da Delegacia de Polícia do Meio Ambiente de Santo André e idealizador do Projeto Leis e Bichos
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