Reinaldo Polito: Discursos prontos para todas as ocasiões

Discursos prontos para todas as ocasiões.

– Rapaz, não sei como resolver. Fui incumbido de fazer uma homenagem ao Dr. Garcia, por causa da promoção dele, e não sei nem por onde começar. Já pensei em tanta coisa, mas parece que a cabeça está vazia.

– Por que não pega um daqueles modelos do livro “Discursos prontos para todas as ocasiões”? Lá tem sugestão para todo tipo de homenagem.

– Mas existe isso? E não sai todo mundo fazendo o mesmo tipo de discurso? Se o modelo é idêntico para todas as situações, alguém já deve ter ouvido em algum lugar.

Dada como morta, atriz global solicita ao INSS o pagamento de R$ 334 mil

Preparativos de um sacrifício marcam a construção do Terceiro Templo, sinalizam cumprimento das profecias bíblicas e a vinda do anticristo

– Bem, você muda uma coisinha aqui e ali, conta uma história diferente como exemplo e ninguém vai notar que saiu de uma forma.

– Ah, não gosto disso não, mas parece que não há outra saída. Se puder me arrumar um exemplar, eu agradeço.

Esse diálogo hipotético já deve ter ocorrido inúmeras vezes. As pessoas torcem o nariz para essa literatura rasteira, mas na hora do desespero se fecham num quarto e vão em busca de um modelinho que resolva a sua emergência. Afinal, com essa vida corrida do dia a dia, quase ninguém tem tempo de se debruçar à frente de uma tela de computador para preparar discursos. É consequência dos tempos modernos.

Na verdade, não tem nada a ver com a correria da “modernidade”.  Você acredita que livros com discursos para todas as ocasiões transitam no nosso meio há pelos menos uns 150 anos? Como coleciono livros antigos de oratória, tenho alguns deles em meu acervo. Por exemplo, “Orador popular”, escrito por José Alves Castilho, publicado pela Garnier em 1888, e “Orador do povo”, de autoria de Aníbal Demóstenes, editado pela Quaresma em 1892.

É evidente que algumas atividades impedem que as pessoas produzam suas próprias peças oratórias. Ou alguém acha que um presidente da República, um governador de Estado escreve seus próprios discursos? Exceto raríssimas exceções, essas personalidades são muito ocupadas para escrever o que vão dizer. Alguém redige, e esses mandatários concordam ou não com o que foi produzido. Depois que dão o aval ao texto, assumem a responsabilidade pelo conteúdo da mensagem. Nem todo mundo, entretanto, pode contar com o auxílio de um ghostwriter. Por esse motivo, muitos procuram receitas prontas para suas apresentações em público.

Nessas obras você encontra discursos prontos para todos os eventos. E cada tipo é subdividido em diversos outros. Para se ter uma ideia, na parte dedicada a casamentos há discursos para saudar o noivo, a noiva e os noivos. O autor dá diversas sugestões para que a pessoa possa usar o modelo mais adequado ao seu caso.

O fato curioso é que se fizermos uma enquete para saber a opinião das pessoas sobre esse tipo de literatura, praticamente todas dirão que condenam a prática. Onde já se viu usar discursos feitos como se fossem um carimbo?! Ocorre que, reservadamente, sempre fui procurado para indicar livros que trazem essas fórmulas prontas. Indico as obras que ensinam como elaborar as peças oratórias, mas quase todos insistem que gostariam de ter os textos já finalizados. Ou seja, não querem pensar.

Com esses longos anos dedicados ao ensino da oratória, estou convencido de que qualquer pessoa, independentemente da sua formação cultural ou experiência de tribuna, poderá aprender como elaborar discursos de qualidade. Basta seguir alguns caminhos simples e deixar que as próprias palavras sirvam para externar seus pensamentos.

Como exemplo, vou sugerir alguns passos para que você faça uma homenagem: 1 – Cumprimente os ouvintes. 2 – Agradeça a oportunidade honrosa de falar em nome do grupo ou da organização que esteja representando para fazer a homenagem. 3 – Fale sobre a atividade do homenageado – se for médico, fale da importância da medicina; se for professor, fale da educação. Destaque que essa profissão é elevada graças a profissionais como o que recebe a homenagem. 4 – Enalteça o homenageado como chefe de família – aqui caberiam algumas palavras sobre a esposa, o marido, os filhos; como companheiro dedicado – poderia dar algum exemplo dessa dedicação; como profissional – é interessante contar sobre a sua trajetória, principalmente enaltecendo os momentos de superação. 5 – Se ainda não disse quem é o homenageado, revele agora de quem se trata e qual é o motivo da homenagem. 6 – Finalmente, deseje tudo de bom ao homenageado. Que continue sendo o amigo, o chefe de família e o profissional que sempre foi.

Com esse modelo você poderá preparar qualquer tipo de discurso para prestar homenagens. É só fazer uma ou outra adaptação para certas circunstâncias, mas a sequência poderá seguir essas etapas sugeridas.

Dessa forma, você não precisará recorrer aos manuais de discursos prontos. Como curiosidade, entretanto, vale a pena dar uma olhada em alguns desses livros, só para ver como são os modelos de discursos que eles apresentam.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected] .