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Reforma geral

Por Fernanda Trigueiro*

Fernanda Trigueiro
Fernanda Trigueiro

Redação Publicado em 19/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h14


Por Fernanda Trigueiro*

Reforma geral

Hoje, o marceneiro foi em casa. Fez tudo como eu tinha planejado. Não sou arquiteta e estou longe de ter qualquer habilidade para isso. Mas projetei (na minha cabeça) uma cômoda. Cada gaveta e cada divisória, exatamente, do tamanho da minha necessidade. Enquanto ele montava, reparei no meu quarto, no corredor, na sala… Todos os ambientes estavam de pernas para o ar (eu sei que casa não tem pernas, mas deu pra entender).

Tinha peças espalhadas para todos os lados, serragem e pó pelo chão.  O meu lado perfeccionista e metódico quase falou mais alto e eu já estava arrependida de ter inventado aquilo. Mas respirei fundo e falei pra mim mesma: “Deixa! Não vou me abalar. Daqui a pouco acaba. A poeira baixa, cada roupa vai ser dobrada e colocada no móvel novo. Vai ficar tudo perfeito. Tenha paciência!”.

Nessa hora, que eu olhava pra tudo aquilo, o Francisco, o criador da minha criatura, me disse: “Uma zona, né?”. Não sei se ele leu meus pensamentos ou se era o desespero estampado na minha cara, então, me veio um pensamento louco de que o meu quarto era naquele momento o retrato de uma coisa bem maior e bem mais importante. Voltei ao Francisco e respondi que estava tudo bem e que às vezes precisamos da desordem para depois organizar tudo como se deve. E assim é a vida!
Tem hora que estamos tão confusos em meio à bagunça (que não é a sujeira da madeira e nem os pedaços dos móveis espalhados), que nos sentimos definitivamente perdidos. Não sabemos pra onde correr ou como dar aquele reset para começar de novo e colocar tudo no lugar.  O problema parece não ter solução e não dá nem pra enxergar a luz no fim do túnel. São sentimentos, pensamentos, medos, planos… fica tudo junto e misturado e assim como no meio de uma casa em obras, o desespero também bate. Também dá vontade de sair correndo e só voltar quando tudo estiver arrumado.

Mas na vida não adianta marceneiro e nem contratar profissionais de organização como esses que hoje são pagos pra colocar a sua bagunça em ordem. Na sua vida, é você que tem que colocar as mãos à obra. Infelizmente ou felizmente, ninguém fará isso por você. Você é “eternamente responsável por aquilo que cativas”, já dizia o Pequeno e Sábio Príncipe.
Mas voltando ao furacão que parecia ter passado no meu quarto. Sentei na cama, olhei todas as peças de roupa que tinha. Deixei tudo dobradinho. Separei por cor. Coloquei o que mais uso na frente. Doei o que não me agradava e só guardei o que hoje faz sentido.
E assim espero que aconteça com os meus dias e com os seus dias. Com a minha vida e com a sua. A bagunça incomoda, mas é necessária. É no meio dela que a gente se encontra e que vem a mudança tão esperada. As ideias se assentam, reorganizamos os sonhos e planos. No meio do caos, aquela tão sonhada resposta pode aparecer. Agradeça a bagunça da sua vida, se mexa para resolvê-la e saiba que com ela pode vir a oportunidade de crescimento e uma chance de se recriar.
Deixe o coração aberto, esteja confiante que as coisas vão se encaminhar. Tudo vai entrar nos eixos assim como está agora o meu quarto, o meu velho-novo quarto!

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*Fernanda Trigueiro é uma jornalista apaixonada por pessoas e suas histórias.
Repórter de TV por opção, mas uma escritora por vocação. Vê a notícia além da manchete e dos números.
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