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Reforços, saídas, Arena… Duilio prevê Corinthians “sem grandes investimentos” e detalha planos

Duilio também pretende levantar o debate sobre o voto do Fiel torcedor. No modelo atual, apenas os sócios do clube têm direito a voto nas eleições.

Corinthians
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Redação Publicado em 08/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 18h06


Em primeira entrevista exclusiva, novo presidente quer estender legado do pai, diretor na Democracia; veja ideias e impressões do novo comandante do Timão

Em uma tarde movimentada no Corinthians, Duilio Monteiro Alves para, olha e aponta com orgulho o nome do pai na sala da presidência. Com um cigarro na mão, vício que pretende deixar em 29 de janeiro por uma promessa à esposa, o novo presidente do Timão, cercado de seus vices e novos diretores, atendeu a reportagem do ge por cerca de 40 minutos para detalhar os planos de um mandato que acaba de começar.

Serão três anos ocupando o cargo que seu pai, o ex-diretor de futebol Adilson Monteiro Alves, não conseguiu ter. Com chance de escrever o mais importante capítulo da história de seu sobrenome no clube, o presidente fala sobre contratações, vendas, voto do Fiel torcedor e mais.

É a primeira entrevista exclusiva de Duilio após a posse, realizada no último dia 4 de janeiro, no Parque São Jorge.

Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians, em entrevista ao ge — Foto: ge

Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians, em entrevista ao ge — Foto: ge

Vendas e investimentos

Um dos pilares da gestão de Duilio será a austeridade. Ciente da necessidade da redução de gastos no clube, cuja dívida ultrapassa a casa dos R$ 920 milhões, o novo presidente admitiu a chance de vender jogadores para reforçar o caixa. O orçamento de 2021 prevê investimentos, mas também a obrigação de abrir mão de alguns jogadores em troca de dinheiro.

– Infelizmente, o futebol brasileiro ainda depende disso para ter superávit. Hoje, não temos proposta oficial para nenhum atleta. As janelas abriram só neste mês. Esperamos nos próximos dias algum contato ou procura por alguns jogadores e que algo se concretize. Nosso compromisso é com a transparência a partir do próximo mês. Temos previsão de investimento, nada muito alto. O momento não é de contratação em função do alongamento do calendário. Não pretendo realizar grandes investimentos. É possível que a gente segure até o meio do ano ou 2022 – disse Duilio.

Duilio ao lado de seu pai, Adilson Monteiro Alves, durante posse no Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Duilio ao lado de seu pai, Adilson Monteiro Alves, durante posse no Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Contratações

Embora não pretenda fazer grandes investimentos, na cabeça de Duilio o Corinthians ainda precisa de um atacante de beirada, posição buscada pela gestão no mercado há bastante tempo. O presidente também admitiu monitorar a situação do zagueiro Pablo, hoje no Bourdeaux, da França.

– Pablo é um jogador que passou por aqui com muito sucesso. Nunca escondeu a vontade de voltar ao Corinthians. Conversei algumas vezes com o empresário. Mas era operação inviável. Salário fora da realidade. Segue a mesma linha. Se existir o interesse dele, técnico requisitar, posição nos ajudar e encaixado em política de salário, a porta vai estar aberta. A gente vem sempre procurando um atacante de velocidade, bom no um contra um, jogando pelo lado. Trouxemos alguns de volta nossos, outros melhorando, outros ainda não, mas é tudo uma questão do treinador. Alguns jogadores que não vinham bem passaram a entregar. Encaixou. Agora, vamos sentar e fazer estudos do que é possível. Com isso, vamos ter a ideia se precisa ou não – completou.

Pablo está no Bordeaux e não descarta retornar ao Timão — Foto: AFP

Pablo está no Bordeaux e não descarta retornar ao Timão — Foto: AFP

Fiel torcedor

Duilio também pretende levantar o debate sobre o voto do Fiel torcedor. No modelo atual, apenas os sócios do clube têm direito a voto nas eleições. Futuramente, a ideia é que o sócio do futebol também possa participar do pleito.

– O que entrou em discussão, é o negócio do Fiel Torcedor. Quero propor a discussão no Conselho (Deliberativo), que a torcida apresente formatos. Tem que ser discutido. A decisão não é do presidente, mas está na hora de a gente falar disso. Se vai passar ou não, o formato que vai ser feito, se é viável ou não eu não sei. Mas a gente tem que falar, né? Não só disso, mas muitas coisas que foram pedidas por sócios durante a campanha, outras que são necessárias para o bom andamento do dia a dia do clube, é importantíssimo formar isso, e depois é o Conselho e a Assembleia Geral que resolvem – analisou.

Eleição do Corinthians apenas com voto dos associados — Foto: José Manoel Idalgo/Agência Corinthians

Eleição do Corinthians apenas com voto dos associados — Foto: José Manoel Idalgo/Agência Corinthians

Confira outros trechos da entrevista exclusiva com Duilio Monteiro Alves:

ge: Qual a previsão da assinatura de contrato do acordo com a Caixa? Os valores do acordo são os mesmos revelados pelo ge em novembro?
Duilio Monteiro Alves
: – O primeiro pagamento vai ficar para novembro de 2022. A matéria da Globo resume tudo. Não vejo ali nada diferente do que está e foi tratado. Estamos aguardando a mudança de gestão, a troca no jurídico (Herói Vicente será o diretor). Já estamos trabalhando em cima de contrato. É um contrato muito complexo, pode demorar um mês, 40 dias, 50 dias. Vou poder responder nos próximos dias com mais detalhes. A parte burocrática não é simples. Contrato está sendo feito. O caminho é bom, nos próximos dias podemos passar.

Com isso, o Corinthians voltará a ter receita com a bilheteria da Arena. Já tem planos para esse dinheiro tendo em vista que não fará grandes contratações?
– Na média, o Corinthians vai ficar com uma boa parte, não sei se chega a metade. Estamos trabalhando em novas atrações para que ela, a Arena, seja totalmente o centro da paixão corintiana e seja frequentada 24 horas por dia. Teremos acréscimo de receita, mas ainda não dá para cravar o que virá. Vai nos ajudar no dia a dia.

Neo Química Arena, do Corinthians, com a nova fachada — Foto: Corinthians/Divulgação

Neo Química Arena, do Corinthians, com a nova fachada — Foto: Corinthians/Divulgação

Você diz que não fará grandes contratações. Mas o que pensa sobre aquelas que também favorecem o marketing do clube, como foi com Ronaldo, por exemplo. Cogita esse tipo de negócio?
– Temos duas formas de trabalho: uma é fazer aposta em promessas, com futuro pela frente, é o que a maioria dos clubes fazem. Compra com 20 anos e pagando valores altos, se falarmos em Europa. E o Corinthians conseguiu fazer isso muito tempo aqui com venda em mercado interno. Existe chance de termos apostas, como tivemos muitas. Bruno Méndez é uma grande revelação do futebol uruguaio. Pensando em venda futura, com a idade que tem, pode-se pensar em valor bom no futuro mesmo sendo caro agora. Em relação a marketing, tivemos grande sucesso e uma virada com a chegada de Ronaldo. Mas Ronaldo só tem um. Não há potencial de marketing hoje igual ao dele. Temos que avaliar muito bem isso junto ao marketing. Se houver oportunidade, com apelo e que traga receita e não nos custe demais, pode ser. Hoje não vejo assim.

Dos jogadores com os quais trabalhou, pensa em trazer quem de volta? A Fiel pede sempre alguns nomes como Renato Augusto, Paulinho…
–Há muitos atletas que passaram e além de terem conquistado muito e grandes campeonatos, também se tornaram amigos, pessoas próximas, Paulinho, Renato Augusto, Gil que retornou na última gestão. Claro que há carinho e identificação. Se houver essa chance, vamos olhar com todo carinho. Hoje não tem negócio em andamento. A gente vem iniciando um planejamento. Alguns retornando de empréstimo, outros só no fim de fevereiro. Não teremos pré-temporada. É uma temporada um pouco diferente. Estamos dentro do tempo. Fazer estudo do que o treinador pretende contar, os jogadores que estão emprestados se vai poder quer contar ou não. Jogadores do sub-23 também. São muitas variantes.

Você também fala em fazer mudanças no sub-23. Pretende reformular as diretorias dessa categoria e base?
– A ideia é trazer novos profissionais tanto para o sub-23 e base para que haja um caminho mais harmônico na transição entre categorias. É tudo Corinthians, faz parte de um processo, depende da maturação. Mas, sim, vamos melhorar tudo em termos de comissão, estrutura e tudo. Sub-23 é importante para o clube. Tivemos em 2019 um ano com as coisas sendo feitas na correria. Não tinham jogadores para todas as posições. A ideia agora é trazer cada vez menos jogadores. Emprestados, no sub-20 ou até mesmo no profissional. É importante para o ritmo de jogo. Um sub-23 bem montado vai ser bem útil.

Essa reformulação vai se estender a todos os setores?
–Vai sim. Não estamos repetindo diretoria. O caso do Roberto (de Andrade, diretor de futebol) foi um retorno, Alessandro (Nunes, gerente) é um profissional. Mas no clube a ideia é trocar. Não por incompetência, jamais, todos fizeram excelentes trabalhos, mas para mudar. Temos que dar chance para mais gente ajudar o clube. Os que passaram podem nos ajudar com experiência, ideias e com o que aprenderam. Corinthians só ganha com mais dirigentes que possam nos ajudar. Isso sim vai acontecer. Existe, sim, a previsão de reduzir despesas. Mas estamos estudando departamentos, vendo planejamento e se encaixa com o que a gente pretende. Redução de custo sempre afeta pessoal. Vai ser estudado. Tem questão de estabilidade. A maioria de funcionários ficou em casa, home office, isso nos obriga a dar estabilidade.

Alessandro Nunes, Duilio Monteiro Alves e Roberto de Andrade formam a cúpula de futebol do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Alessandro Nunes, Duilio Monteiro Alves e Roberto de Andrade formam a cúpula de futebol do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

O futebol feminino do Corinthians tem enorme potencial de marketing e é extremamente vitorioso. Os gastos aumentaram de 2019 para 2020. Como pretende trabalhar a categoria?
– O clube todo a gente trata com o mesmo peso. Nosso feminino é o maior do Brasil e um dos maiores do mundo. Dá show, espetáculo e está ajudando no crescimento da modalidade no Brasil. Investimento, estrutura, atletas, Corinthians montou excelente grupo, excelente diretoria e deu condições para que as atletas tenham tudo que os homens tenham. Dentro do possível, sem fazer loucuras, com carinho especial por tudo que foi feito e pensando na modalidade. Vamos tentar manter o máximo de atletas. Estamos anunciando renovações. Pés no chão, é produto que vem crescendo, atraindo mais patrocinadores, mais visibilidade. (José) Colagrossi (superintendente de marketing) tem um trabalho legal de arrumar dinheiro para as minas, e ele está correndo atrás.

Corinthians é campeão brasileiro feminino — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Corinthians é campeão brasileiro feminino — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

A informação que temos é que o Corinthians recebeu apenas 4 dos 18 milhões de euros pela antecipação do valor da venda de Pedrinho ao Benfica. Houve algum problema?
– A antecipação foi feita com o mesmo fundo, mas são bancos diferentes. É o trâmite. Foi feita a primeira parte, a outra por documentação está sendo feita. Isso está próximo de acontecer, espero que aconteça para ontem, estamos desde março trabalhando em cima disso. A pandemia atrapalhou demais, depois a mudança de cambio, problema com Benfica, que foi resolvido, espero que aconteça para ontem. Corinthians nunca vendeu Pedrinho antes, foi a primeira vez, nossa maior venda. Mas não vem vendendo jogadores desse valor nos últimos anos e construiu estádio, CT, ganhou campeonatos, se tornou o maior clube da década no Brasil… Existe a necessidade, mas a vida tem que continuar, não é todo dia que você vai vender o Pedrinho. Lógico que é um dinheiro que faz diferença, a gente está trabalhando, a nova diretoria financeira também, junto com profissionais que estavam no clube e estão focados exclusivamente para ter uma solução o mais rápido possível, espero que seja breve.

O clube tem conseguido honrar seus compromissos?
– O Corinthians vem conseguindo cumprir seus compromissos. Temos muitos compromissos, coisas atrasadas que a gente vem renegociando. Em relação a salários, o quinto dia útil desse mês de janeiro, dia 8, não estamos com nada atrasado, e estamos trabalhando arduamente para que a gente não tenha esse tipo de problema. A gente vai ter dificuldades, isso não é segredo, não está as mil maravilhas, mas tem muita coisa a ser feita, novos patrocinadores para anunciar, dinheiro novo para entrar, vamos trabalhar. O torcedor pode ter certeza de que vem muita coisa boa pela frente.

Você se compromete a entregar o alojamento da base? Terá recursos para isso?
– A gente já vem fazendo com recurso próprio desde o início da gestão do Andrés. Agora falta o alojamento. Uma boa parte de fundação já foi feita, é um prédio de pré-moldados, então tem muito material encomendado e sendo feito para que a gente possa começar a subir os alojamentos. Sobre recursos, temos que buscar novas receitas, tenho isso claro e todos os membros da nova diretoria. Isso envolve novos patrocínios e receitas. Envolve até parte do dinheiro do Pedrinho que está para entrar e será colocado para a obra, então a gente entende que isso é muito importante, é uma prioridade, para que a gente tenha vantagens na captação dos jogadores que moram fora da cidade.

Vai haver uma revisão do contrato de patrocínio com o BMG?
– Existem algumas opções, a gente vem conversando em termos de melhorias, não só valores. Abertura de contas… tem muita coisa que pode ser feita de forma diferente. Não quero me antecipar, especular, são conversas que a gente vem tendo há alguns dias […] Estamos vendo licenciamentos, patrocinadores, tudo o que pode ser melhorado. A entrada de receitas, assim como a redução de despesas, são fatores que a gente tem que atacar.

Os demais patrocínios seguem a mesma linha?
– Mais uns dias, vai. Com Colagrossi, vamos fazer alguns anúncios nos próximos dias. Estamos conversando com várias empresas. Midea, BMG, todos que estão e alguns novos que surgiram. Mais alguns dias, espero que bem rápido, a gente consiga anunciar quem vai permanecer. Como só temos o próximo jogo dia 13, tem negociações que não estão finalizadas.

Você prega um discurso de união e trouxe Herói Vicente, um de seus opositores, para a gestão. O que mais pretende para unir a oposição no clube?
– Como falei em toda a campanha, e não só pensando em voto, farei o que é melhor para o Corinthians. Pra gente conseguir fazer a transformação que o Corinthians precisa, precisamos de união no clube. Todos são corintianos, querem o bem do Corinthians, conversei com várias pessoas que hoje não considero oposição. A oposição que existia era a uma outra diretoria. A nossa está começando hoje, os que têm boas ideias e que querem o bem do clube não vão ter motivo para fazer oposição. Eles podem vir e ajudar o clube, as portas estão abertas. O primeiro que trouxemos foi o Heroi Vicente, diretor jurídico, que pode nos ajudar. Tudo o que tínhamos de planejamento na área jurídica, de compliance, de gestão, tudo que a gente entende que tem que ser feito é o entendimento dele e do grupo dele, que hoje estão pensando no bem do clube, não são oposição ou situação, podem nos ajudar bastante. Existem juízes, advogados, desembargadores, corintianos frequentadores do clube… Corintianos, conselheiros, que estão no clubes há muitos anos, que podem ajudar o Corinthians, independente do lado em que estiveram.

Herói Vicente é conselheiro e será diretor jurídico do Corinthians — Foto: Reprodução / Facebook

Herói Vicente é conselheiro e será diretor jurídico do Corinthians — Foto: Reprodução / Facebook

Recentemente, o Corinthians inaugurou alguns bustos em homenagens a ex-jogadores e ídolos. Você pretende dar sequência a esse trabalho?
– Eu acho importante o Corinthians valorizar sua história, seus ídolos, todos que fizeram esse clube gigantesco, essa nação. Se o Corinthians tem hoje o tamanho que tem, todos os jogadores, torcedores, dirigentes, treinadores têm participação nisso. O Andrés sempre tratou bem os ex-atletas, deu oportunidade de trabalho a muitos, homenageou aqueles que tinham que ser homenageados… Vamos valorizar a história do Corinthians sempre que possível, seja com busto de jogador ou treinador, mas sempre vamos valorizar. Acho legal fazer homenagens em vida, Ronaldo, Marcelinho… temos que pensar tudo o que pode ser feito, os atletas que estão na fila para serem homenageados. Vamos valorizar a história dos atletas do Corinthians, mas não sei de que forma.

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GE – Globo Esporte.

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