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Raulzinho promete agressividade para não deixar dúvidas ao técnico dos Wizards

O Brasil chegou a ter nove jogadores na NBA entre 2015 e 2017, mas inicia a nova temporada regular da maior liga de basquete do mundo, nesta terça-feira, com

Raulzinho promete agressividade para não deixar dúvidas ao técnico dos Wizards
Raulzinho promete agressividade para não deixar dúvidas ao técnico dos Wizards

Redação Publicado em 18/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 15h33


Armador inicia sua sétima temporada na maior liga de basquete do mundo, a segunda no time da capital dos Estados Unidos

O Brasil chegou a ter nove jogadores na NBA entre 2015 e 2017, mas inicia a nova temporada regular da maior liga de basquete do mundo, nesta terça-feira, com apenas dois representantes em quadra. Ou tentando. O ala Didi, de 22 anos, brigará por minutos e oportunidades em seu primeiro ano completo no New Orleans Pelicans. Mais experiente, Raulzinho, ou Raul Neto, como é conhecido internacionalmente, chegou a ser titular nos últimos playoffs pelo Washington Wizards. Mas, com as mudanças no time, o armador de 29 anos terá de lutar por espaço mais uma vez. Ele promete ser agressivo para não deixar dúvidas ao técnico.

Quando Raulzinho chegou à NBA, em 2015, a geração de Nenê, Leandrinho, Anderson Varejão e Tiago Splitter era a referência brasileira na liga e na seleção. Bruno Caboclo, Lucas Bebê, Cristiano Felício e o jovem armador eram as esperanças de troca de guarda em alto nível, que aconteceu apenas parcialmente. Dos quatro, só restou Raulzinho para a campanha de 2021-2022. Em negociações para assinatura de novo contrato – que acabou sendo de um ano, pelo mínimo de veteranos -, o jogador pediu dispensa do Pré-Olímpico de Split, na Croácia. O Brasil não se classificou para os Jogos Olímpicos de Tóquio, após duas participações consecutivas.

Raulzinho vai para a segunda temporada nos Wizards — Foto: G Fiume/Getty Images

Raulzinho vai para a segunda temporada nos Wizards — Foto: G Fiume/Getty Images

Nos Wizards, Russell Westbrook foi trocado com o Los Angeles Lakers, mas dois outros armadores chegaram para disputar minutos com o brasileiro: Spencer Dinwiddie e Aaron Holiday. A franquia trocou de técnico e Wes Unseld Jr., filho da maior lenda do basquete de Washington, continua seus testes. Nesta entrevista, Raulzinho fala de seleção, da presença brasileira na NBA, da expectativa para a temporada que se inicia e da polêmica com os jogadores que não tomara a vacina para a covid – o assunto da pré-temporada nos Estados Unidos -, entre outros temas.

Raulzinho fala de nova temporada pelo Wizards na NBA e Seleção Brasileira

Técnico brasileiro na seleção

Acho legal que, depois de muito tempo, o Brasil tem um técnico brasileiro. Acho que mostra o desenvolvimento nessa área. Por muitos anos, técnicos de fora foram os melhores que a gente poderia ter. Mas fiquei muito feliz com a decisão da CBB de ter o Gustavinho. Trabalhei com ele na categoria de base, sei do potencial que ele tem. Ele vem mostrando resultados no basquete brasileiro já há muitos anos, desde a época do Paulistano.

Ainda não [cheguei a falar com o Gustavinho]. Eu troquei ideia com o Diego Jeleilate, que é o diretor técnico da seleção. Bati um papo com ele antes de ele ser anunciado como técnico, mas ainda não cheguei a conversar com o Gustavinho. Vai ser muito bom para a seleção. Ter comissão técnica brasileira vai ser muito importante.

Presença na seleção

Espero poder estar com a seleção se as coisas da minha carreira deixarem. Desde os meus 16, 17 anos, represento a seleção. Tive alguns anos que [por causa de] lesões e temas contratuais, não pude estar presente, mas espero poder ajudar nos próximos anos em Mundiais e Olimpíadas.

Polêmica da vacina na NBA

Tomei a vacina logo antes de começar a temporada. Cada um tem o seu motivo para tomar ou não. Nesse momento, a gente tem muitas informações. Cada um tem as informações de médicos, de especialistas, de pessoas que são contra, são a favor. Cada um toma a decisão que se sente melhor e eu respeito. Para muita gente, não é uma decisão fácil. Faz parte.

Mas acho que a liga está tentando se proteger, proteger os fãs, os atletas, e também tem o seu lado de colocar todos esses protocolos. Eles tentam dar essa informação para a gente e falar “Olha, é tudo bem tomar a vacina”. Tem o seu lado negativo, mas também tem muito lado positivo.

A Associação de Jogadores está apoiando as decisões, mas também tem as leis de cada estado, de cada cidade, que também vão interferir. No caso do Kyrie Irving, ele joga numa cidade que, sem a vacina, não pode estar em nenhum evento fechado. Isso influencia muito na decisão. Acho que vai chegar um ponto em que… Não sei se a NBA pode forçar os jogadores a tomarem, mas acho que esses jogadores vão ter que tomar uma decisão definitiva.

Relacionamento com colegas não-vacinados

No máximo, a gente pergunta quem está e quem não está vacinado, mas acho que não muda nada a relação entre os jogadores. Não quer dizer que, se ele não está vacinado, não vou chegar perto. Não tem nada desse tipo. Todo mundo ali já teve o contato com esse vírus. A maioria já foi infectada. O Bradley Beal mesmo ficou fora das Olimpíadas por ter pegado o covid logo antes de eles embarcarem para o Japão.

Então, acho que isso pode influenciar na decisão deles. “Já peguei, não senti nada, por que vou colocar uma vacina no meu corpo que não teve tempo suficiente de estudo?” Não sei. Cada um tem o seu motivo. Não vou entrar em muitos detalhes. Tem essa conversa, mas nada que entre em muitos detalhes do porquê cada um tomou ou não.

Disputa por espaço nos Wizards

Ano passado, foi muito bom para mim. Tive oportunidade, joguei muitos minutos, tive ótimos jogos. Mas cada ano na NBA é um ano novo. Mesmo sendo o mesmo time, os jogadores e o técnico são diferentes. Tem muita coisa que não sei como vai ser, minutos, a rotação. Até agora, ele está testando rotações diferentes. Nos jogos que a gente teve, o [Aaron] Holiday entrou primeiro em um, eu em outros. Joguei com alguns jogadores na quadra. Depois, joguei com outros.

Raulzinho, o lobisomem da NBA, ganha destaque no Wizards

Tem muita coisa que o técnico ainda não decidiu e muita coisa que pode mudar. Mas minha cabeça é entrar na minha sétima temporada confiante, com bastante agressividade. Tentar continuar meu estilo de jogo da temporada passada e melhorar cada vez mais para não deixar dúvidas na cabeça do técnico e conquistar meu espaço no time.

Mudanças após a saída de Russell Westbrook

O novo técnico tentou não comparar com o ano passado, porque somos um time completamente diferente. O Westbrook saindo muda muito o nosso estilo. Ele é um cara muito rápido, agressivo, o ritmo muito alto favorece ele, com muito contra-ataque. Para a gente, ano passado, funcionou. Esse ano, com um time não tão rápido, com jogadores talentosos, mas um jeito de jogar diferente, isso vai mudar. [N. do E.: o Washington Wizards teve o pace, ou ritmo de jogo, mais veloz da última temporada entre os 30 times da NBA.]

Vai ser um jogo um pouco mais cadenciado, não vamos acelerar tanto. Foi o que senti até agora do nosso técnico. Durante a temporada, as coisas mudam. A gente vai se adaptar ao estilo de cada jogador. Ainda buscamos este entrosamento, conhecer um ao outro dentro de quadra. Pode ser que, durante o ano, a gente mude, comece a jogar mais rápido.

Tempo para entrosamento e adaptação

Dez, 20 jogos, metade da temporada para entrar nesse ritmo. Apesar de ser uma temporada longa, cada jogo vale bastante. Ainda mais a gente, que vai estar brigando para entrar nos playoffs. Acho que é muito importante buscar esse entrosamento o mais rápido possível. A gente tem treinado muito, testado formações diferentes para ver o que vai funcionar melhor, mas não podemos botar pressão pelo nível mais alto no começo do campeonato.

Número de brasileiros na NBA

É uma pena o número de brasileiros estar cada vez menor. O basquete brasileiro teve um momento muito bom com Nenê, Varejão, Leandrinho, Tiago Splitter, essa geração em que muitos deles já se aposentaram. Acho que é difícil chegar a ter tantos brasileiros com tanto impacto na NBA, principalmente agora que o basquete só cresce.

A igualdade do basquete mundial está cada vez mais acirrada. A gente está competindo com muitos outros países. Tem muitos jogadores europeus que, querendo ou não, têm uma estrutura melhor no basquete, tem um campeonato com nível melhor do que o Brasil hoje. Então, acho que tudo isso influencia no crescimento dos jogadores, na experiência. A gente tem talento no Brasil, mas, às vezes, não tem o treinamento certo, não tem o caminho certo.

Espero que talentos novos no Brasil consigam encontrar esse caminho, como o Didi agora está começando. Primeira temporada dele na NBA. Espero que fique muitos anos. Espero que outros consigam alcançar isso e possam seguir os passos, como eu segui os passos do Leandrinho, Nenê, Varejão, e aprendi muito com eles também nos meus primeiros anos de seleção. Espero que eu possa influenciar as gerações novas a seguir esse sonho.

Contato com o Didi

Muito pouco. Coincidi com o Didi em Los Angeles, quando ele estava treinando para o draft. Eu estava lá para cuidar de uma lesão no tornozelo. Foi no ano do Mundial [2019]. A gente tem o mesmo agente, ele ficou comigo uns três ou quatro dias, mas como eu estava treinando e fazendo fisioterapia praticamente o dia inteiro, quase não o vi. Ele ficou no meu apartamento, mas quase não vi. Foi o contato mais próximo que a gente teve. Espero poder bater papo com ele, principalmente quando a gente for jogar contra o New Orleans.

Prognósticos para a temporada

Em termos de basquete, acho que vai ser uma temporada muito acirrada. Em anos passados, sempre tinha um ou dois times que todo mundo achava que ia chegar na final, ia ser campeão. No dia de hoje, é difícil você apontar quatro times que podem chegar. Do lado leste, Milwaukee vem muito forte. Brooklyn Nets vem forte, mas também tem esse ponto de interrogação, que é o Kyrie Irving. O Philadelphia tem esse grande elenco, mas também tem esse ponto de interrogação, que é o Ben Simmons.

O Lakers, que é um time com superestrelas, com mais estrelas da NBA, mas ninguém sabe como eles vão encaixar o jogo. E times que já vêm junto há anos, como o Utah Jazz, o Denver, até o Portland, que teve essa conversa do Lillard, se ficava, se saía. São times que podem chegar longe. Além disso, times como o Wizards, que são jovens, com muita gente querendo demonstrar que pode ser uma estrela na liga. Se um desses times encaixar, pode brigar.

Disputa do Play-in

Teve muito atleta pontuando negativo isso. Já é uma temporada estressante. Você joga 82 jogos para tentar entrar nos playoffs. Além disso, se você está dentro, você ainda tem chances de não entrar. Para o atleta, é difícil de a gente aceitar. Mas, se você for olhar o lado dos fãs, traz uma disputa a mais. Ano passado, a gente ficou em oitavo, não precisaria do play-in para entrar, mas teve que jogar. E não tinha muito o que reclamar, porque a temporada toda a gente achou que não ia conseguir ficar em oitavo. Tem o seu lado bom e o lado ruim, mas acho que para os fãs é legal.

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Globo Esporte

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