Diário de São Paulo
Siga-nos

Radicais, Lula e Bolsonaro enfrentam dificuldades em fazer candidatos a prefeito

Como tudo e como todos no tempo e na vida, também a política tem lá as suas boutades e os seus caprichos, e é isso o que se vê a envolver agora, nesses dias

o Globo
o Globo

Redação Publicado em 09/12/2019, às 00h00 - Atualizado às 11h14


Lula, radical à esquerda, e Bolsonaro, radical à direita, enfrentam o mesmo problema: estão com dificuldade em fazer os seus candidatos a prefeito

Como tudo e como todos no tempo e na vida, também a política tem lá as suas boutades e os seus caprichos, e é isso o que se vê a envolver agora, nesses dias atuais de extremismos, os dois caciques dos setores mais polarizados da sociedade brasileira. Bolsonaro e Lula, ironicamente, possuem nesse instante histórico um problema em comum. Qual é esse problema? Resposta: a séria dificuldade em encontrar candidatos viáveis para as eleições às prefeituras, que serão realizadas no ano que vem, em todo o País.

Para ambos, a questão pesa porque tais eleições são uma enorme e importante vitrine – além de pragmática máquina de campanha – em relação à eleição presidencial de 2022. Claro que alianças terão de ser feitas, e nelas é vital que o ex e o atual presidente da República sigam a seguinte e intricada estratégia: não basta o candidato de uma eventual coligação brilhar publicamente, é preciso que o povo saiba que ele brilha porque Lula ou Bolsonaro o impulsionam. Em uma sintonia mais fina: é essencial que a população absorva que determinado candidato deslancha porque Lula ou Bolsonaro o escolheram. Como já se disse, o ato final está lá em 2022. As eleições municipais de 2020 são apenas um rito que tem de ser cumprido no meio do caminho.

O resumo da ópera

Há cerca de um mês Lula foi solto pelo STF e uma de suas primeiras ordens ao PT foi no sentido de que o partido lance o maior número possível de candidaturas. A missão é, no entanto, bem mais árdua do que o próprio ex-presidente pensava. Antigos quadros da legenda, quando consultados, sem a menor cerimônia estão dizendo não. Além disso, há gente nova se oferecendo, mas aí não são nomes competitivos. E, finalmente, sobram políticos que dominam determinadas regiões e estão muito mais atentos a seus próprios interesses do que às determinações de Lula. Praça importante para esse jogo é, obviamente, São Paulo . Não sem razão, portanto, é pleno de lisusas que o PT cerca a ex-petista e ex-prefeita paulistana Marta Suplicy, hoje no MDB. Se os entedimentos com Marta não derem certo, Lula já mandou que insistam com Fernando Haddad , mas existe nessa hipótese um detalhe importante: Haddad já avisou que lhe é demais disputar uma terceira eleição no espaço de seis anos. Decodificando a sua fala criptografada: ele por enquanto não está acreditando muito na possibilidade de o PT vencer nas urnas em São Paulo.

Bolsonaro também olha, é claro, sobretudo para São Paulo. Quem pode se candidatar a prefeito? Os nomes são completamente desconhecidos, sabem deles somente o gueto bolsonarista. Uma alternativa é Edson Salomão, amigo pessoal do presidente e fundador do movimento Direita São Paulo. Ele quer? Ninguém sabe, Salomão ainda não se definiu. Outro nome seria o do deputado estadual Gil Diniz, que praticamente já se mostrou disposto a concorrer ao cargo de alcaide da maior cidade do País. Em Belo Horizonte, outra capital que tem de ser levada em consideração devido ao seu colégio eleitoral, Bolsonaro está com leve vantagem: é bem provável que o deputado estadual Bruno Egler seja o candidato do bolsonarismo, enquanto o PT segue no escuro: Patrus Ananias mantém-se esfinge. Já o Nordeste, o importante nordeste eleitoral, o nordeste que funciona como fator determinante de vitórias e derrotas, é região totalmente indefinida, nela não se vê nomes nem para o bolsonarismo nem para o lulismo.

Radicais, Lula e Bolsonaro enfrentam dificuldades em fazer candidatos a prefeito

Veio na semana passada uma boa notícica para Bolsonaro, mas que ainda exige comemoração pela metade: o TSE decidiu que aceitará assinaturas eletrônicas na composição de nomes para registro de novos partidos políticos, mas tal decisão terá ainda de ser regulamentada, fato que provavelmente não ocorrerá a tempo de Bolsonaro registrar a sua nova legenda, chamada Aliança pelo Brasil . Sem o registro, adeus eleições municipais. Ficou demonstrado, então, a grande ironia da qual se falou: quis o destino que os dois líderes radicais se vissem diante da mesma dificuldade em conseguir candidatos para 2020 — e é bem provável que tenham de abrir mão do aspecto qualitativo e apelar ao fator quantitativo. Resumo da ópera: sai perdendo, mais uma vez, a democracia.

iG

Compartilhe  

últimas notícias