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Quem tem que provar são o MP e a PF, diz Lula em evento em SP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (29) que o Ministério Público (MP) e a Polícia Federal (PF) têm de provar as acusações

Quem tem que provar são o MP e a PF, diz Lula em evento em SP
Quem tem que provar são o MP e a PF, diz Lula em evento em SP

Redação Publicado em 29/07/2016, às 00h00 - Atualizado às 22h59


Ex-presidente e outros 6 viraram réus acusados de tentar obstruir a Justiça.
Defesa diz que ele ‘jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos’.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (29) que o Ministério Público (MP) e a Polícia Federal (PF) têm de provar as acusações feitas contra ele. Ao participar do Seminário Nacional do Sistema Financeiro e Sociedade, na Zona Norte de São Paulo, ele começou seu discurso citando o fato de ter se tornado réu e, em seguida, falou sobre os imóveis atribuídos a ele e que são alvos de investigação da Lava Jato.

Lula tornou-se réu, segundo a Procuradoria, por tentativa de obstruir a Justiça ao tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O sítio em Atibaia e o apartamento em Guarujá não têm relação com a acusação aceita nesta sexta pela Justiça.

“Eu não quero falar dos meus problemas pessoais, para não transformá-los em problemas coletivos, mas enquanto estou aqui conversando com vocês eu fiquei sabendo que foi aceito uma denúncia contra mim de obstrução de Justiça. Vamos ver, eu não conheço”, disse nesta sexta. “Eu não ia tocar no assunto, mas eu já cansei. Eu não tenho que provar que eu tenho apartamento. Quem tem que provar é a imprensa que acusou, o Ministério Público que falou que eu tenho, a Policia Federal que diz que eu tenho.”

O ex-presidente acrescentou que “eles é que têm que apresentar documento de compra, pagamento de prestação, algum contrato assinado”. “Porque, se eu não tiver, em algum momento eles é que terão que me dar de presente uma chácara e um apartamento, e aí eu ganharei de graça, quem sabe essas coisas que eles dizem que eu tenho. É por isso que eu não manifesto, porque é eles que têm que provar, não sou eu quem tem que provar.”

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de evento no hotel Holiday Inn, na zona norte de São Paulo, na tarde desta sexta-feira (29) (Foto: Nelson Antoine/Frame/Estadão Conteúdo)O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de evento no hotel Holiday Inn, na zona norte de São Paulo, na tarde desta sexta-feira (29) (Foto: Nelson Antoine/Frame/Estadão Conteúdo)

Além do ex-presidente, também viraram réus o ex-senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), o ex-chefe de gabinete de Delcídio Diogo Ferreira, o banqueiro André Esteves, o advogado Edson Ribeiro, o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai. Eles são acusados de tentar obstruir a Justiça tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Defesa
É a primeira vez que Lula vira réu na Lava Jato. Por meio de nota, os advogados do ex-presidente da República afirmaram que o petista já esclareceu, em depoimento à Procuradoria Geral da República, que ele “jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos relativos à Lava Jato”.

Ainda de acordo com os defensores de Lula, “a acusação se baseia exclusivamente em delação premiada de réu confesso e sem credibilidade, que fez acordo com o Ministério Público Federal para ser transferido para prisão domiciliar” (leia ao final desta reportagem a íntegra da nota divulgada pela defesa do ex-presidente).

Denúncia
A denúncia acusa os sete de três crimes: embaraço à investigação de organização criminosa que prevê pena de três a oito anos; patrocínio infiel (quando advogado não defende corretamente interesses do cliente – os outros foram considerados coautores), que prevê pena de seis meses a três anos; e exploração de prestígio, que prevê pena de um a cinco anos.

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa do seminário Sistema Financeiro e Sociedade, que abre a Conferência Nacional dos Bancários durante a tarde desta sexta feira (29) no hotel Holiday Inn Anhembi, zona norte de São Paulo (Foto: Nelson Antoine/Frame/Estadão Conteúdo)O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa do seminário Sistema Financeiro e Sociedade, que abre a Conferência Nacional dos Bancários durante a tarde desta sexta feira (29) no hotel Holiday Inn Anhembi, zona norte de São Paulo (Foto: Nelson Antoine/Frame/Estadão Conteúdo)

    O magistrado da 10ª Vara Federal de Brasília entendeu que estão presentes elementos probatórios para início de uma ação penal. Ricardo Leite concedeu prazo de 20 dias para os sete acusados se manifestarem sobre a acusação e determinou a retirada do sigilo do processo.

    Depois que os advogados dos sete réus se manifestarem, terá início a fase de produção de provas e os interrogatórios de testemunhas de defesa e acusação. Concluída esta fase, o juiz decidirá se condena ou absolve os sete acusados de tentar obstruir o trabalho da Justiça.

    Quem tem que provar são o MP e a PF, diz Lula em evento em SP
    A denúncia foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) no começo deste ano, mas o ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava Jato na Corte, determinou que fosse enviada para a Justiça Federal de Brasília depois que Delcídio foi cassado no Senado e perdeu o foro privilegiado.

    Na ocasião em que Delcídio deixou de ser senador, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo que o processo fosse enviado para o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, por entender que havia conexão dos fatos com o esquema de corrupção que agia na Petrobras.

    Janot ponderou que, parte dos denunciados, como José Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai, e o próprio Cerveró já são alvos de processo no Paraná, portanto, o processo deveria ser enviado para Curitiba. A defesa dos acusados, contudo, contestou o pedido para que o processo ficasse sob a responsabilidade de Moro.

    Os advogados do banqueiro André Esteves, sócio do banco BTG Pactual, argumentaram que o suposto crime foi cometido em Brasília e, por isso, deveria ficar sob a jurisdição da Justiça do Distrito Federal.

    Já a defesa de Lula ponderou que o caso deveria ir para a Justiça Federal de São Paulo porque os fatos que originaram a denúncia ocorreram naquele estado.

    O ministro Teori Zavascki reconheceu que o que permitia que o inquérito seguisse no Supremo era o foro privilegiado de Delcídio. Mas, depois que ele foi cassado, o caso deveria continuar na primeira instância, frisou o ministro.

    Mas ele entendeu que o próprio Supremo já decidiu que não há a chamada “prevenção” para o que não se referir especificamente à corrupção na estatal. Segundo o ministro, a definição do juízo que deve tocar o caso deve ser feita conforme o local onde o crime foi cometido.

    Conforme o ministro, os delitos ocorreram no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília, “com preponderância desta última porque onde desempenhava o ex-parlamentar sua necessária atividade”.

    Teori Zavascki também frisou que foi em Brasília que o filho de Cerveró, Bernardo, gravou a conversa que deu origem à descoberta da trama.

    Leia a íntegra da nota da defesa de Lula:
    O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não recebeu citação relativa a processo que tramita perante a 10a. Vara Federal de Brasília (IPL n. 40755-27.2016.4.01.3400). Mas, quando isso ocorrer, apresentará sua defesa e, ao final, sua inocência será certamente reconhecida.

    Lula já esclareceu ao Procurador Geral da República, em depoimento, que jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos relativos à Lava Jato.

    A acusação se baseia exclusivamente em delação premiada de réu confesso e sem credibilidade – que fez acordo com o Ministério Público Federal para ser transferido para prisão domiciliar.

    Lula não se opõe a qualquer investigação, desde que realizada com a observância do devido processo legal e das garantias fundamentais.

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