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Quem deverá ser o vice de Bolsonaro?

Por Reinaldo Polito*

Quem deverá ser o vice de Bolsonaro?
Quem deverá ser o vice de Bolsonaro?

Redação Publicado em 02/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 14h01


Por Reinaldo Polito*

Quem deverá ser o vice de Bolsonaro?

Os eleitores indagam quem Bolsonaro irá escolher para ser seu vice. Há palpite de todo lado. Alguns comentam que ele está pensando em convidar uma mulher. Outros afirmam que irá recorrer a um político influente para ampliar seu campo eleitoral. E não são poucos aqueles que cravam o nome de Hamilton Mourão para acompanhá-lo novamente por mais quatro anos.

O presidente não descarta nenhuma hipótese. Acusado de misógino pela oposição, até que uma mulher na vice-presidência poderia ser boa opção para pôr de vez um basta nesse assunto. Mourão também pode ter chance, já que em todos esses anos de convivência puderam se conhecer muito bem.

Foram poucas as vezes em que o vice contrariou Bolsonaro. Em certas circunstâncias expôs opiniões diversas do presidente. Não chegou a ser visto como rebelde, nem como traidor, mas puxou a corda para o lado contrário. Há ainda outra questão: o General é chegado num microfone. Às vezes fala demais.

O Capitão se diz escolado nessa história de traição. Muitos parceiros de primeira hora, que se projetaram em cima do seu nome, acabaram por virar as costas e tentaram prejudicá-lo. Sem fazer muito esforço de memória, podemos citar Sérgio Moro, Alexandre Frota, Joice Hasselmann, Luciano Bivar, Santos Cruz, João Doria, Luiz Henrique Mandetta, e por aí vai.

Bem, por um ou outro motivo, Bolsonaro passou a dormir com um olho fechado e outro aberto.

A função do vice é ainda mais delicada. Por exemplo, Bolsonaro já recebeu 143 pedidos de impeachment nesses três anos de governo. Um recorde. Quando se comparam esses números com os de seus antecessores a diferença é abismal. Como os períodos são diferentes, o certo é fazer a média anual. Assim tivemos Bolsonaro com média anual de 48, Fernando Henrique com 3, Lula com 9, Dilma com 13 e Temer com 15. Ou seja, somando-se os quatro últimos presidentes, o resultado ainda fica distante dos números do atual mandatário.

O que os pedidos de impeachment têm a ver com o vice? Para que tenhamos noção da importância desse cargo, vamos analisar os requisitos que podem levar o presidente da República a sofrer processo de impedimento.

Para que o presidente seja alijado do cargo há necessidade da conjunção de vários fatores. O primeiro deles é o de provar que ele tenha cometido algum crime de responsabilidade. Talvez esse seja o fator mais simples de ser estabelecido, pois, embora Bolsonaro tome muito cuidado para não “sair das quatro linhas” da Constituição, não seria impossível que impusessem a ele algum deslize. Basta dizer que é considerado crime de responsabilidade, por exemplo, “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”.

Passada essa fase judicial, entra o julgamento político. Os deputados e senadores só se entusiasmariam a aprovar um pedido de impeachment se houvesse forte respaldo popular. As últimas manifestações promovidas por Bolsonaro demonstraram que uma parte considerável da população está ao seu lado, não contra.

Finalmente, os políticos interessados em afastar o presidente precisariam contar com a “cumplicidade” do vice. Se Itamar e Temer não tivessem dado uma mãozinha, talvez Collor e Dilma poderiam ter continuado no poder.

Esse é um dado relevante. Em todos os 143 casos de pedidos de impeachment contra Bolsonaro, em nenhum momento houve qualquer movimentação por parte de Mourão. Desde o princípio ele se mostrou leal ao presidente. Portanto, mesmo não declarando abertamente, Bolsonaro nunca descartou a possibilidade de continuar com o mesmo vice em uma eventual reeleição.

O sonho de consumo de qualquer presidente é ter no Palácio do Jaburu um Marco Maciel. Ele foi tido sempre como exemplo de um bom vice. Discreto, experiente, competente, bom articulador e muito fiel. Desde a época em que atuou como ministro da Casa Civil e ministro da Educação, nunca alterou seu comportamento. Durante os longos anos em que esteve na função de vice-presidente, jamais se ouviu uma única palavra que pudesse desaboná-lo.

Como ele já se foi, ao analisar os candidatos disponíveis conhecidos para ocupar o cargo, talvez o nome mais indicado ainda seja mesmo o de Hamilton Mourão. Já se ventilou também a hipótese de ele se candidatar ao Senado. Bolsonaro enfatizou várias vezes que para governar bem será preciso ter uma boa base política de sustentação. Sua presença como senador seria importante. Logo Bolsonaro terá de tomar a decisão. Saberemos, então, se o General continuará como vice do Capitão, exercendo as mesmas funções. Siga pelo Instagram @polito

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Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]
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