Diário de São Paulo
Siga-nos

Projeto colaborativo quer destrinchar trajetória da esgrima no país

O falecimento do russo Gennady Miakotnykh, técnico de esgrima do Pinheiros e da seleção brasileira, foi determinante para dois atletas colocarem em prática

Projeto colaborativo quer destrinchar trajetória da esgrima no país
Projeto colaborativo quer destrinchar trajetória da esgrima no país

Redação Publicado em 28/06/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h53


Iniciativa quer detalhar história e levar modalidade à universidade

O falecimento do russo Gennady Miakotnykh, técnico de esgrima do Pinheiros e da seleção brasileira, foi determinante para dois atletas colocarem em prática uma ideia que surgiu em 2011: contar a trajetória da modalidade no Brasil. A semente para o “Memória da Esgrima Brasileira”, uma enciclopédia on-line do esporte, foi plantada em Fernando Scavasin e Heitor Shimbo nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (México), após a conquista da medalha de bronze por equipes no florete masculino.Projeto colaborativo quer destrinchar trajetória da esgrima no país

“Algumas pessoas vieram falar que era a primeira medalha da história. Outras falaram que era a primeira no florete. E teve quem dissesse que não era uma coisa, nem outra. Afinal, a esgrima manteve o patamar ou cresceu? A história precisava ter a história contada”, recorda Scavasin à Agência Brasil, explicando como a morte de Miakotnykh, em março deste ano, fez o projeto sair do campo das ideias. “O Gennady foi meu técnico por 12 anos e faleceu de uma hora para outra. Para a gente, foi pesado. E perdemos toda a história dele”, conta.

O “Memória” foi lançado no último dia 20 e está disponível na página do Instituto Touché, fundado por Scavasin e Shimbo para difundir a modalidade. O acervo tem 16 categorias, como apostilas de treino, histórico de atletas e delegações brasileiras, locais de práticas e publicações científicas. A iniciativa é colaborativa e quem possuir conteúdo pode compartilhá-lo pelo próprio site.

Segundo Scavasin, cerca de 30 pessoas ligadas à esgrima – entre elas, um estatístico, um matemático, um geógrafo, um profissional da área de inteligência artificial e dois de tecnologia – colaboram com o projeto. “Pudemos resgatar, por exemplo, medalhistas da esgrima em Mundiais, delegações olímpicas e pan-americanas, campeões nacionais… A gente entende que cada pessoa da modalidade tem um pedacinho dessa memória e que precisamos somá-las para termos começo, meio e fim”, explica o atleta. “A Confederação Brasileira de Esgrima (CBE) ligou para a gente e marcou reunião pra ter o compartilhamento de documentos digitais e físicos e podermos puxar ainda mais a história”, completa.

Um dos desafios do projeto é desvendar o princípio da esgrima no Brasil. “Nos primórdios, a gente tem clubes como Flamengo, Vasco, Corinthians, São Paulo ou Palmeiras, que tiveram a modalidade e não tem mais. A gente não sabia disso. Não temos, hoje, uma pessoa que seja considerada o patrono da esgrima”, argumenta Scavasin.

De acordo com ele, o que mais chamou atenção na compilação do material foi o número de trabalhos acadêmicos voltados à esgrima, considerado baixo. “Encontramos 25. É próximo de zero. Ao mesmo tempo, achávamos que teriam só três, quatro…”, avalia, destacando entre as publicações nacionais as sobre esgrima em cadeira de rodas e técnicas de treinamento. “No exterior, tem um grupo grande de [trabalhos sobre] história e manuais de esgrima, posições técnicas, dinâmica de movimento. Já nas competições, o que a gente mais vê são livros de tática”, compara.

Para Scavasin, o crescimento da modalidade passa pelo conhecimento científico e, por isso, entende que compilar os relatos e trabalhos acadêmicos, de forma colaborativa, auxilia o processo. “A gente acredita que o projeto será fonte para publicações da esgrima e o acesso à universidade”, finaliza.

Mas, e quanto àquela medalha de 2011? Segundo o “Memória”, ela foi a primeira do florete masculino por equipes em Jogos Pan-Americanos. Quatro anos antes, na mesma arma, João Antônio de Albuquerque e Sousa foi bronze individual no Pan do Rio de Janeiro. Já o primeiro pódio da esgrima brasileira foi em 1951, em Buenos Aires (Argentina), com o bronze de Estevão Molnar, Frederico Taveira Serrão, Hugler Matt e Virgílio Damásio de Sá no sabre por equipes.

AGÊNCIA BRASIL
Compartilhe  

últimas notícias