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“Precisam aprender a lidar com negro”, diz músico vítima de racismo

"Acontece o tempo inteiro", é assim que o músico Pretinho da Serrinha , de 43 anos, define a situação que vivenciou, na última quinta-feira (22), num

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Redação Publicado em 23/10/2020, às 00h00 - Atualizado às 21h40


Pretinho da Serrinha denunciou descriminação em laboratório médico no RJ

“Acontece o tempo inteiro”, é assim que o músico Pretinho da Serrinha , de 43 anos, define a situação que vivenciou, na última quinta-feira (22), num laboratório em São Conrado. Ele procurou o local para fazer um PCR e conta ter se sentido descriminado por funcionárias, que foram ríspidas e fizeram questão de informar o preço quando ele ainda estava do lado de fora. O caso foi noticiado pelo colunista Ancelmo Gois, do GLOBO.

Nesta sexta-feira, Pretinho da Serrinha conversou com O GLOBO e contou mais detalhes sobre a situação. Ele relatou que foi atendido de maneira grosseira por funcionárias do Laboratório Granato. As atendentes queriam a todo tempo se certificar de que ele sabia que o PCR custava R$ 450 e que ali não era a clínica popular do mesmo grupo, que oferece o mesmo exame por um valor menor.

“Eu sabia onde eu estava, já tinha ido antes. E ales não falam assim com qualquer um. Se chegar uma pessoa branca, eles não vão falar assim”, diz o cantor, compositor e produtor musical, que reconheceu no tom das funcionárias a desconfiança de que ele não teria condições de pagar.

Para Pretinho, situações como a que viveu no laboratório, infelizmente, são comuns para a população negra. Apesar de não ter intenção de processar nenhum dos envolvidos no constrangimento, ele acredita que o desabafo talvez sirva de lição e desconstrua preconceitos.

“É uma questão de colocar pra fora uma coisa que acontece o tempo todo. As pessoas precisam aprender a lidar com negro, que negro também chega nos lugares, pode comprar, pode pagar”, afirma.

“Mas as pessoas têm essa mania de quando chega negro, não esperar. Já vêm querendo dizer que a gente não vai comprar, porque é mais caro. Não sei qual é o medo que eles tem. Mas qualquer justificativa não adianta. Para quem não passou por isso, é bem simples de compreender, mas pra gente que passa por isso todo dia, não dá pra entender muito, não”, completa o músico.

O outro lado

O GLOBO conversou com a médica Kátia Granato , responsável pela Policlínica Granato, que pertence ao mesmo grupo do laboratório. Ela explicou que os dois estabelecimentos oferecem o exame PCR a preços diferentes. A clínica, por ser popular, cobra R$ 280 .

No dia anterior à ida de Pretinho da Serrinha, houve uma confusão com dois clientes, que foram por engano ao Laboratório Granato, localizado a poucos metros da clínica, acreditando que pagariam o preço popular . Só teriam percebido a diferença nos valores na hora do pagamento, o que gerou desconforto.

“Os funcionários resolveram peguntar a todos os que chegavam qual era o valor do PCR que a pessoa estava procurando, porque poderia ser o da clínica popular”, conta Kátia.

A médica lamentou o fato de Pretinho ter se sentido descriminado no laboratório de sua família.

“Eu, se fosse ele, também poderia me sentir descriminada, porque existe mesmo muito preconceito no mundo e imagino pelo que ele deve passar. Mas lidamos há anos com medicina popular e nunca tivemos esse tipo de queixa”, diz a médica, que ainda pretende conversar pessoalmente com o músico.

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IG

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