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Por uma reforma política de verdade

Por Kleber Carrilho

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Redação Publicado em 18/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h48


Por Kleber Carrilho

Por uma reforma política de verdade

Neste momento, estou em Portugal, acompanhando as eleições autárquicas, que é como eles chamam aqui as eleições locais. E ver o dia a dia das campanhas, que terminam no próximo domingo, leva-me a pensar sobre o Brasil.

Mas como comparar um país com outro, sendo que o Brasil tem uma população 20 vezes maior do que Portugal? É claro que não quero levar receitas prontas, mas algumas observações são interessantes, que nos fazem notar que precisamos de muitas alterações na forma que fazemos eleições atualmente.

Em primeiro lugar, é necessário pensar nas eleições locais. A ideia de termos eleições nos municípios sempre da mesma forma, não importando o tamanho, precisa ser discutida. Afinal, uma cidade como São Paulo, que tem a população do tamanho da de Portugal, não pode ter uma única eleição. Precisamos, como eles têm aqui, de estruturas menores (as freguesias), para que as pessoas se sintam representadas e próximas de quem foi eleito. Não dá para ter 55 vereadores lá longe, uma equipe escolhida por um prefeito-presidente e quase nenhum contato real com as pessoas. Que tal começar definindo um número máximo de habitantes por unidade administrativa, mesmo que várias possam formar um município? Os atuais distritos ou bairros?

Outra coisa fundamental é repensar as eleições para deputados. Hoje, um candidato no Estado de São Paulo pode ser votado por 33 milhões de pessoas. Isso mesmo! Que maluquice é ter uma campanha que pode ter esse número enorme para representar! Não faz nenhum sentido! Precisamos urgentemente pensar em distritos, mesmo que seja com um modelo misto.

E penso nisso tudo porque, como profissional de comunicação, vejo que Portugal está longe de ter toda a profissionalização que houve nos últimos anos no Brasil. Fazem falta as estratégias nas redes sociais, a utilização eficiente dos grupos de WhatsApp e mesmo a qualidade da produção televisiva. Porém, sobram as coisas fundamentais da política: sola, suor e saliva, como diriam os líderes da velha guarda. Por terem estruturas muito menores, não existe candidato que não tenha que andar muito, com as altas temperaturas que estão fazendo por aqui, falando e tentando abraçar todos que aparecem nas ruas, mesmo que agora a pandemia obrigue que se evite um contato tão íntimo.

Isso sem falar de duas coisas importantes: o voto facultativo e a possibilidade de que movimentos políticos independentes apresentem candidatos, para não deixar todo o poder nas mãos dos partidos tradicionais.

Temos muito a discutir, e podemos observar algumas coisas interessantes por aqui. Mas uma coisa é certa: precisamos de uma reforma política de verdade no Brasil.

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*Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
Instagram: @KleberCarrilho
Facebook.com/KleberCarrilho
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