Diário de São Paulo
Siga-nos

Por mais “sinto muito”

Por Fernanda Trigueiro*

Fernanda Trigueiro
Fernanda Trigueiro

Redação Publicado em 29/04/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h33


Por Fernanda Trigueiro*

Por mais “sinto muito”

A “positividade tóxica” existe antes mesmo do termo ser criado. Friedrich Nietzsche, por exemplo, falava sobre isso. O grande filósofo no século XIX demonstrava a importância de manter os pés no chão. E já naquela época não escondia o ranço que tinha do tal “good vibes”. Com a pandemia, muito se falou disso. O planeta de pernas pro ar e pelas redes sociais encontrávamos postagens de pessoas que pareciam estar em completa alegria e paz.

Agradecer é essencial. Ser grato à vida, às pessoas e ao que temos. Mas o exagero de gratidão pode ser um sintoma de que algo está errado. Frejat já cantava que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero. Tudo em exagero não funciona. Não tem nada mais nocivo do que o pessimismo, mas ser otimista demais e sempre pode te colocar numa posição de alienado.

O mundo não é cor de rosa para ninguém. Quem vive a síndrome da Poliana pode querer, na verdade, estar fugindo do real. E quanto mais a gente foge, mais a gente se distancia do melhor caminho. É ruim pra si e ainda mais tóxico se tiver a intenção de colocar o outro ali dentro da bolha do “faz de conta”.

Quantas vezes passamos por uma situação de sofrimento e ouvimos um “vai passar” ou “vamos ver o lado bom”. A gente sabe que a pessoa quando fala essas coisas tem a melhor das intenções. Mas na tentativa de ajudar, o discurso pode soar como sermão ou lição de moral. E quem está ferido se sente ainda pior. Dor não se mede e não se compara. Cada um sabe da sua.

Na hora do “pé na bunda”, de uma demissão ou da perda de uma pessoa querida, quem vive aquilo não consegue ter a consciência que aquela situação não vai durar pra sempre e que o sofrimento lá na frente vai virar aprendizado. Eu acredito que o Universo realmente conspira pro bem, mas quem tem que perceber isso é o próprio sujeito com as experiências dele e no tempo dele. E para ajudar quem precisa cabe um “sinto muito”, um silêncio ou um abraço apertado. Ter empatia com o próximo é a melhor forma de acolher.

Precisamos aprender a ouvir sem julgar. Usar do bom senso e agir da forma que você gostaria que fizessem com você. Não podemos nos entregar para a dor, mas também não dá para negar o que sentimos. Sentir faz parte. Viver na total alegria ou na tristeza profunda é se enganar. A vida é saber lidar com os altos e baixos e é apenas vivendo que a gente se fortalece para quem sabe um dia encontrar o tal equilíbrio.

______________________

*Fernanda Trigueiro é uma jornalista apaixonada por pessoas e suas histórias.
Repórter de TV por opção, mas uma escritora por vocação. Vê a notícia além da manchete e dos números.

Compartilhe  

últimas notícias