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Bolsonaro provoca aglomeração de público convidado a usar verde e amarelo em inauguração de relógio da Ceagesp e diz que não vai privatizar entreposto

Centenas de pessoas vestidas de verde, azul e amarelo se aglomeraram - muitas delas sem máscara - para participar da inauguração da Torre do Relógio da

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Redação Publicado em 16/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 09h21


Do lado de fora, manifestantes contrários ao presidente pediam ‘Vacina Já’. Na semana passada, o presidente da Ceagesp, coronel da reserva da PM, enviou convites para que o público usasse as cores da bandeira do Brasil durante o evento. Governo estadual quer que o entreposto seja administrado por empresas privadas em outro endereço.

Funcionários da Ceagesp lotam local durante visita e pronunciamento de Bolsonaro em SP — Foto: Marina Pinhoni/G1

Funcionários da Ceagesp lotam local durante visita e pronunciamento de Bolsonaro em SP — Foto: Marina Pinhoni/G1

Centenas de pessoas vestidas de verde, azul e amarelo se aglomeraram – muitas delas sem máscara – para participar da inauguração da Torre do Relógio da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O presidente afirmou que não vai deixar que “ratos sucateiem” e “privatizem” o entreposto, em referência a projeto do governo estadual que tenta transferir a administração da Ceagesp para empresas privadas (leia mais abaixo).

Na semana passada, o novo presidente da Ceagesp escolhido por Bolsonaro, coronel da reserva da PM de São Paulo Ricardo Mello Araújo, enviou um convite a permissionários, funcionários, políticos e autoridades paulistas para que usassem as cores da bandeira brasileira durante a visita do presidente ao entreposto nesta terça, o que foi atendido por parte do público.

“Neste dia, use camisa ou camiseta com as cores da Bandeira Nacional: verde, amarelo, azul ou branco”, diz a mensagem de Araújo. Em nota, a Ceagesp afirmou na ocasião que a intenção do convite era de “representação da força” da entidade.

Do lado de fora da Ceagesp, um grupo de manifestantes contrários a Bolsonaro pediam “vacina já”. Um dos manifestante que estava na entrada do entreposto passou pelos apoiadores do presidente gritando “gado” e foi hostilizado. Ele foi retirado por policiais.

A Ceagesp é a maior central de abastecimento de frutas e verduras da América Latina e é administrada por uma empresa pública federal vinculada ao Ministério da Economia. No entanto, o governo estadual quer que o entreposto seja administrado por empresas privadas em outro endereço.

Multidão Bolsonaro — Foto: Marina Pinhoni/G1

Multidão Bolsonaro — Foto: Marina Pinhoni/G1

O entreposto ocupa uma área de 60 mil metros quadrados na Vila Leopoldina, uma região que teve alta valorização imobiliária nos últimos anos. A região também sofre com alagamentos e é alvo de reclamações de moradores de prédios, que se incomodam com o intenso trânsito de caminhões na área.

Em 2019, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o então secretário especial de Desestatização do governo Bolsonaro, Salim Mattar, assinaram um acordo para fechar a Ceagesp e transferir o entreposto para outro endereço. A promessa de Doria era entregar a nova sede da Ceagesp até 2024.

Durante a inauguração nesta terça, Bolsonaro, sem máscara e com uma criança fardada no colo, disse que está “desratizando o Brasil” e não vai deixar que a Ceagesp seja privatizada. Ele também elogiou Ricardo Mello Araújo, dizendo que sua gestão combaterá as “máfias” que atuam no entreposto.

“Aqui era um ninho de rato. Achacavam extorquiam os mais humildes, quem empurrava carrinho aqui dentro. Máfia de boxes, se segurança, de lixo […] Aqui tem que começar com trabalho de polícia. Porque tem muito bandido aqui dentro”, disse Bolsonaro.

“A Ceagesp aqui uma mudança, é um novo paradigma. E aqui, quando se fala em privatização, eu quero deixar bem claro. Enquanto eu for o presidente da República essa é a casa de vocês. Nenhum rato vai sucatear isso aqui pra privatizar pros seus amigos, não tem espaço pra isso aqui. Deixo bem claro”, completou, referindo-se indiretamente a Doria.

Em nota, o governo de São Paulo lembrou que Bolsonaro assinou decreto que inclui a Ceagesp no programa nacional de desestatização

“Bolsonaro deve estar se referindo a si mesmo e ao seu próprio governo. O presidente assinou no ano passado o decreto 10.045, que inclui a Ceagesp no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Governo Federal, conforme o site da União: https://www.ppi.gov.br/desestatizacao-da-ceagesp. O presidente precisa indicar aos órgãos de controle quem é esse ‘rato’ que está no Governo Federal e se beneficiaria da medida. Se não fizer isso, estará prevaricando”, afirma o texto.

Durante o discurso, o presidente também afirmou que vai colocar novamente em pauta o excludente de ilicitude, quando forem definidos os novos presidentes da Câmara e do Senado.

Bolsonaro e o presidente da Ceagesp, além de apoiadores, em reinauguração de relógio em SP — Foto: Marina Pinhoni/G1

Bolsonaro e o presidente da Ceagesp, além de apoiadores, em reinauguração de relógio em SP — Foto: Marina Pinhoni/G1

Relógio amarelo na Ceagesp — Foto: Marina Pinhoni/G1

Relógio amarelo na Ceagesp — Foto: Marina Pinhoni/G1

Presidente da Ceagesp

Ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) da PM, Ricardo Mello Araújo, de 49 anos, foi nomeado por Bolsonaro para o cargo na Ceagesp em outubro. A nomeação ocorreu em meio a discussões sobre a transferência do entreposto para outro endereço.

Nas redes sociais, Bolsonaro pediu, na época, apoio dos caminhoneiros e permissionários ao novo chefe do entreposto.

O coronel se aposentou em 2019. Em um vídeo dirigido aos funcionários da companhia, Mello Araújo lembrou sua trajetória na Polícia Militar e falou que vai “combater o crime” também na Ceagesp.

“Vamos combater fortemente a corrupção. Não aceito e não sou omisso. Como falei: eu vou atrás. A Ceagesp vai vencer. Vai dar lucro. Vai estar à altura que merece, que os antepassados construíram ao longo dos anos”, afirmou quando foi empossado.

Ceagesp está sob nova direção

Ceagesp está sob nova direção

Histórico

Criada em 1969, a Ceagesp completou 50 anos de funcionamento no ano passado. Ela é uma empresa pública federal, sob a forma de sociedade anônima. Mas nem sempre foi assim.

Nascida da fusão entre o Centro Estadual de Abastecimento (Ceasa) e a Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Cagesp), a Ceagesp foi do governo estadual de São Paulo até 1996. Naquele ano, devido uma dívida de R$ 180 milhões com o Banespa, o governo estadual anunciou que leiloaria a central na Bolsa de Valores. No entanto, não apareceu nenhum comprador.

A Ceagesp passou a ser federal em 1997, quando o patrimônio da empresa entrou como pagamento da dívida que o estado de São Paulo tinha com a União. No mesmo ano, o governo federal incluiu a empresa no Programa Nacional de Desestatização, com o objetivo de privatiza-la, mas isso nunca aconteceu.

Apesar da promessa anterior de transferir a posse da Ceagesp ao governo do estado, o governo de Bolsonaro não cumpriu a promessa e incluiu o entreposto no programa nacional de desestatização do governo federal e no programa de parcerias de investimentos da Presidência da República.

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G1 – Globo.

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