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PMs são investigados por atirar bala de borracha na boca de ambulante em SP

A Corregedoria da Polícia Militar (PM) de São Paulo apura a denúncias de agressões cometidas por ao menos três agentes que deram tiros de balas de borracha em

PMs são investigados por atirar bala de borracha na boca de ambulante em SP
PMs são investigados por atirar bala de borracha na boca de ambulante em SP

Redação Publicado em 22/06/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h30


Agentes alegam legítima defesa.

A Corregedoria da Polícia Militar (PM) de São Paulo apura a denúncias de agressões cometidas por ao menos três agentes que deram tiros de balas de borracha em dois irmãos, vendedores ambulantes, ferindo um deles na boca e na virilha e o outro no ombro durante abordagem.

Vídeos e fotos que circulam nas redes sociais mostram os policiais militares atirando, a discussão com os homens, e uma das vítimas sem dentes e a outra com buracos no ombro .

O caso ocorreu durante ação policial para coibir aglomeração de pessoas e denúncia de disparos de arma de fogo na madrugada da última sexta-feira (19), num baile funk, numa comunidade da Zona Sul da capital, segundo a corporação.

Os irmãos negam, porém, que estivessem ocorrendo baile funk. Disseram que estavam vendendo churrasco em frente da casa onde moram no Jabaquara após uma partida de futebol na região. E que essas pessoas estavam reunidas num sambão, enquanto eles estavam trabalhando distantes desse grupo com o carrinho de carnes.

Irmãos

Com o disparo de bala de borracha no rosto, feito pelos policiais militares, o irmão mais velho, de 31 anos, perdeu três dentes da parte frontal e inferior da boca. Ele ainda foi atingido na virilha por outro tiro de elastômero, nome técnico da munição.

“Portando uma espingarda calibre 12, efetuou disparos de elastômero em seu irmão, que ao ser atingido caiu ao solo e o declarante ao tentar defender eu irmão, foi atingido por um disparo na boca e posterior na sua região genital, que de pronto caiu ao solo também”, informa trecho do depoimento da vítima baleada por PMs na Corregedoria.

Procurado pela reportagem, o irmão mais velho contou que eles sempre vendem espetinhos de carnes na região, mas quando notaram a chegada das viaturas da PM decidiram guardar o carrinho de churrasco.

“Eles [PMs] queriam nos passar como errados. Aí jogaram bomba para dentro da minha casa. Tinha recém-nascido”, disse o vendedor. “Aí foi que ele tomou dois tiros no ombro… de borracha. Eu tomei um tiro porque vi meu irmão sendo agredido”.

O irmão mais novo dele, de 23 anos, foi ferido no ombro por duas balas de borracha.

“Foi atingido no ombro esquerdo por um disparo de elastômero desferido por um dos militares que estava a aproximadamente dois metros de distância do denunciante”, consta na Corregedoria da PM o que disse o outro irmão ferido por policiais.

“Eles jogaram bomba e tinha um monte de criança dentro da casa”, disse o irmão mais novo à reportagem.

Jovem desmaia após ser estrangulado por policial militar durante abordagem

Corregedoria

A Corregedoria da PM já analisa ao menos outros cinco vídeos que circulam desde o dia 12 de junho nas redes sociais e que mostram casos de violência policial durante abordagens.

Nesse caso mais recente que se tem conhecimento, os irmãos ainda acusam os agentes de jogarem bombas de gás lacrimogêneo na residência onde moram e de agredi-los com cassetetes, socos, algemá-los, prendê-los e ameaçá-los na delegacia.

Segundo o boletim de ocorrência do caso, registrado na Polícia Civil, os irmãos foram detidos porque desacataram os policiais e resistiram às prisões. Os PMs ainda contaram que só atiraram neles em legítima defesa.

“Visando preservar a integridade física dos policiais, ali presentes, […] efetuou dois disparos de elastômero […] com a intenção de cessar aquela agressão”, informa trecho do que os policiais militares falaram à Polícia Civil, de acordo com o boletim de ocorrência.

PMs

De acordo com os PMs, eles foram hostilizados por um grupo de cerca de 150 pessoas reunidas em frente a um bar, onde escutavam música alta, bebiam e dançavam.

Desde o início da pandemia de coronavírus, o governo paulista proíbe aglomerações de pessoas no estado como medida sanitária fundamental para se evitar o risco de contágio pela doença.

Os PMs queriam que os irmãos saíssem da rua onde estava ocorrendo a aglomeração, mas os vendedores disseram que não poderiam abandonar o equipamento de trabalho, uma máquina usada para fazer o churrasco.

A partir daí começaram as discussões e agressões envolvendo os policiais. Nas imagens dos vídeos é possível ver e ouvir disparos e bombas lançados pelos agentes, enquanto moradores dizem para parar porque tem crianças na comunidade.

Churrasqueira usada pelos irmãos que PM não queria que eles guardassem, segundo vítimas — Foto: Reprodução/Redes sociais

Churrasqueira usada pelos irmãos que PM não queria que eles guardassem, segundo vítimas — Foto: Reprodução/Redes sociais

No mesmo registro policial do caso, os PMs também são investigados por lesão corporal contra os irmãos.

“É possível falarmos de diversos crimes nas condutas dos policiais, como, por exemplo, lesão corporal grave ou gravíssima, a depender da extensão das lesões […], e abuso de autoridade, pelas ameaças proferidas aos irmãos após a ocorrência e pela conduta frente à residência”, disse ao G1 o advogado Diego Garcia, que orienta os irmãos.

Ele é membro da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, que acompanha o caso. Quem tiver informações sobre o caso ou outros casos suspeitos de violência policial, ou violações dos direitos humanos etc, pode denunciar de forma anônima nos canais da Rede no Facebook e Instagram.

Por meio de nota encaminhada à reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que os dois irmãos foram liberados após terem sido levados à delegacia. A pasta também comentou que a Corregedoria apura a conduta dos policiais.

“Foi instaurado um inquérito policial militar (IPM) para apurar as circunstâncias dos fatos. As oitivas tiveram início no dia 19 e a Corregedoria da PM acompanha”, informa trecho da nota da Segurança.

G1

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