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Pesquisadores da USP criam respirador 15 vezes mais barato

Uma equipe multidisciplinar da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (Poli-USP) projetou um ventilador pulmonar emergencial de baixo custo, que

Pesquisadores da USP criam respirador 15 vezes mais barato
Pesquisadores da USP criam respirador 15 vezes mais barato

Redação Publicado em 02/04/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h02


Protótipo ainda está em fase de desenvolvimento e testes

Uma equipe multidisciplinar da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (Poli-USP) projetou um ventilador pulmonar emergencial de baixo custo, que poderá servir para o atendimento de pacientes de covid-19. Batizado de Inspire, o protótipo tem mais duas vantagens: pode ficar pronto em menos de duas horas e é feito de peças que podem ser encontradas no país, ou seja, não necessita de componentes importados.

Os respiradores disponíveis no mercado custam, em média, R$ 15 mil, enquanto o valor do Inspire é de R$ 1 mil, aproximadamente. O modelo desenvolvido pelos pesquisadores da Poli-USP foi registrado com uma licença open source, o que significa que qualquer pessoa interessada pode acessar o passo a passo de manufatura e fabricá-lo. A exigência é de que se obtenha autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O professor Marcelo Knorich Zuffo, da Poli-USP, ressalta que o protótipo foi concebido para ser usado “em uma eventual condição catastrófica”, causada pela falta de ventiladores pulmonares comerciais. “Nosso projeto é de um ventilador de emergência”, ressalta o acadêmico, que divide a coordenação do projeto com o docente Raúl Gonzalez Lima, especialista em engenharia biomédica.

“Inclusive, a gente já está conversando com as autoridades para fazer uma delimitação bem clara sobre quais as circunstâncias em que esse produto deve ser usado”, acrescenta Zuffo.

O projeto está, atualmente, em fase de “integração e homologação”, com o sistema de inspiração e expiração já sendo testado, explica Zuffo. Agora a equipe também avança na validação química do padrão respiratório e mantém interlocução com o governo federal, para tentar emplacar parcerias que permitam a produção do ventilador em maior escala. A última reunião foi realizada na última terça-feira (31), com representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, do Ministério da Saúde e da Anvisa.

No total, cerca de 40 pessoas compõem a equipe do projeto. Os pesquisadores têm passado até 18 horas do seu dia desenvolvendo as atividades, iniciadas no dia 20 de março.

Zuffo comenta que a iniciativa foi possível porque os membros da equipe já detinham conhecimento sobre a montagem de ventiladores pulmonares industriais. “Como nós tínhamos esse know-how à disposição na universidade, resolvemos criar meios para que esse conhecimento dos professores fosse disponibilizado à sociedade”, diz. “A gente resolveu se mobilizar quando percebeu a dramaticidade dessa situação nos outros países. Temos relatos de que em Nova York não há ventiladores e, então, voluntários ficam apertando a bombinha para o paciente não morrer durante a noite.”

Segundo o coordenador, a equipe colocou no ar o site do projeto, para divulgá-lo entre membros da comunidade científica, e tem recebido um volume expressivo de contribuições. Lá, é possível acompanhar o diário de bordo do grupo, que informa cada uma das etapas atingidas. “A gente abriu o site para criar um mecanismo de comunicação entre professores e a comunidade desse movimento. E já estamos tendo contribuições concretas. Há muita gente baixando e já começou a vir modelo de algoritmo, desenho de projeto industrial”, afirma.

Zuffo conta ainda que a equipe se surpreendeu com a quantia de R$ 161 mil, arrecadada em uma vaquinha online criada para dar subsídio ao projeto. O resultado alcançado superou as expectativas dos pesquisadores, que imaginavam conseguir juntar em torno de R$ 20 mil. “Isso mostra que temos uma sociedade extremamente generosa, e a gente está tentando responder a essa generosidade da forma mais responsável e séria possível, a despeito da gravidade da situação”, finaliza o professor da USP.

ABr

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