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Pesquisadores da UFRRJ descobrem nova planta no Parque do Curió

A Ruellia capotyra (flor da mata, em tupi-guarani) é a planta mais recente descoberta pela equipe multidisciplinar de pesquisadores e alunos da Universidade

Pesquisadores da UFRRJ descobrem nova planta no Parque do Curió
Pesquisadores da UFRRJ descobrem nova planta no Parque do Curió

Redação Publicado em 21/06/2020, às 00h00 - Atualizado às 16h51


A Ruellia capotyra (flor da mata, em tupi-guarani) é a planta mais recente descoberta pela equipe multidisciplinar de pesquisadores e alunos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no Parque Natural Municipal do Curió, em Paracambi, região metropolitana do Rio de Janeiro. A equipe é coordenada pela professora e taxonomista Denise Braz, do Departamento de Botânica da instituição. A planta teve sua descoberta confirmada pela revista científica Systematic Botany. As novas espécies só são reconhecidas após sua publicação em uma revista científica especializada.Pesquisadores da UFRRJ descobrem nova planta no Parque do Curió

O primeiro achado do grupo foi a espécie Justicia paracambi

O primeiro achado do grupo foi a espécie Justicia paracambi – Divulgação Departamento de Botânica/UFRRJ

Desde 2007, Denise e sua equipe têm realizado pesquisas de campo, no Parque do Curió, dedicadas ao estudo da flora local, com foco nas plantas pertencentes à família Acanthaceae que lá ocorrem. O primeiro achado do grupo foi a espécie Justicia paracambi. Batizada em homenagem à região, a planta teve sua descoberta reconhecida pela revista Phytotaxa, em 2015.

A taxonomia é uma das ciências responsáveis por desvendar a riqueza de espécies existentes em território brasileiro, considerado um dos mais biodiversos do planeta. Especializados em reconhecer, classificar e nomear os organismos, os taxonomistas se empenham na busca por animais, fungos ou plantas que ainda não foram registrados pela ciência. O grupo de Denise Braz se dedica à descoberta e classificação da flora.

Taxonomia

Denise Braz contou hoje (21) à Agência Brasil que a importância do trabalho da taxonomia é, justamente, o conhecimento das espécies da flora, quais as suas características, a que grupo pertencem. “É o trabalho mais básico. A partir daí, sendo a espécie conhecida, ela pode servir a todos os outros estudos possíveis”. A professora ressaltou que essas descobertas reforçam a elevada diversidade vegetal do país, considerada recentemente a mais alta em todo o mundo.

“Essa riqueza vegetal se transversa em riqueza de possíveis fármacos, medicamentos que a gente possa extrair dessa espécie, a importância dessa espécie no ambiente. Ela serve a algum animal? Tem algum animal que depende dela? Qual é o papel dela no ambiente, no controle e na existência de toda aquela fitossociologia que ali há?”. Essas são algumas resostas que podem servir a partir da descoberta de uma nova espécie vegetal.

Professora Denise Braz coletando observações de campo.

Professora Denise Braz coletando observações de campo. – Divulgação Departamento de Botânica/UFRRJ

Denise salientou também a importância das espécies descobertas para a implementação de políticas públicas. O Parque do Curió está localizado próximo da capital fluminense e apresenta uma floresta bem preservada, com espécie já descrita também por outra pesquisadora. “É uma área com uma riqueza vegetal muito grande. Já detectamos que é uma das maiores riquezas do estado e essa área deve ser preservada, porque abriga espécies ameaçadas que têm área de ocorrência muito restrita e já foram categorizadas como ameaçadas. A gente precisa preservar essa nossa riqueza que é um patrimônio do país, na verdade”, indicou a especialista.

Banco de dados

Denise Braz destacou também que a flor da mata, devido à sua beleza, pode ser explorada também como planta ornamental. A maioria das plantas cultivadas no jardim da UFRRJ veio desde a época dos colonizadores. “Temos milhares de espécies brasileiras que podem servir a esse uso. Então, são vários usos promissores”. Deixou claro que o conhecimento da espécie é o primeiro passo para abrir todo esse leque de outros conhecimentos.

Após a coleta, as duas espécies descobertas pelo grupo de pesquisa foram registradas no Herbário do Departamento de Botânica da UFRRJ, ou RBR, como é reconhecido internacionalmente. Fundado em 1916, o herbário tem coleção de mais de 50.000 amostras vegetais desidratadas (exsicatas) que servem de referência sobre a vegetação e flora da região do Rio de Janeiro. Atualmente, além do Parque Natural Municipal do Curió, o RBR também possui projetos de pesquisas em outras áreas como a Reserva Biológica de Tinguá, o Parque Nacional do Itatiaia e o Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

Os taxonomistas da UFRRJ participaram recentemente de parceria entre o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que resultou na produção do maior banco de dados da flora brasileira na internet, o Flora do Brasil Online 2020. Construído com o apoio de diferentes pesquisadores e instituições de pesquisa, o sistema reúne informações-chave sobre 48.369 espécies de fungos, plantas e algas reconhecidas por taxonomistas brasileiros e estrangeiros em pesquisas de campo por todo o país. “A gente está servindo de exemplo para outros países, seguindo as metas globais para conservação da biodiversidade biológica”. Denise afirmou que na parte dos vegetais, o Brasil tem dado exemplo ao mundo.

AGENCIA BRASIL 

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