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PARECIA UM FILME DE TERROR

Por Rodrigo Sayeg*

PARECIA UM FILME DE TERROR
PARECIA UM FILME DE TERROR

Redação Publicado em 12/04/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h08


Por Rodrigo Sayeg*

PARECIA UM FILME DE TERROR

Esses dias foi reportado uma crise coletiva de ansiedade, na sexta-feira, dia 8 de abril que ocorreu na Escola Estadual de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães, no bairro de Casa Amarela em Recife.

26 crianças da referida escola estadual tiveram em um só momento esta crise de ansiedade, durante época sensível como o período de provas.

Um dos pais, ao ir socorrer seu filho, descreveu a cena como se fosse um filme de terror.

Assim, diante do choque dessas cenas essa coluna decidiu parar novamente para discutir a questão da saúde mental.

E antes de mais nada, saúde mental é um tema sério. O que essas crianças passaram não foi birra, moda ou muito menos uma tentativa de fugir da prova. Estamos aqui tratando de patologias psíquicas que são reconhecidas e listadas no Código Internacional de Doenças. Dentre elas, temos a ansiedade, o estresse, a depressão, entre inúmeras outras.

Outra preliminar importante é que essa coluna busca apenas conscientizar você caro leitor. Tecer breves comentários e afirmar que precisamos acolher essas pessoas, especialmente as que se encontram em sua infância, pois talvez este seja o melhor tratamento possível.

Então vamos lá. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a ansiedade afeta 18,6 milhões de brasileiros. Ainda segundo a Instituição, a Covid-19 contribuiu para que esses transtornos mentais se agravassem diante do isolamento, da constante pressão por sobrevivência e outros fatores. No mesmo período, o número de suicídios aumentou exponencialmente, como já discutido em colunas passadas, diante deste cenário sem futuro que fomos levados a crer.

Ocorre que, estes transtornos, que têm tratamento, ainda são encarados com desconfiança e julgamentos que desqualificam quem se queixa de sintomas de ansiedade e depressão. Isto é o primeiro ponto que temos que erradicar. Conforme afirmou Igor Lemos em reportagem ao G1:

“Algumas pessoas acham que se resolve na base da porrada, mas a geração atual precisa de acolhimento. Essas pessoas buscam ajuda quando o sofrimento se torna insuportável, debilitante, estressante, uma bola de neve”.

Caro leitor, ainda vivemos uma pandemia, a qual ameaçou nossas vidas, jeito de existir, nossas comunidades, nossa família, nosso sustento, enfim, tudo que temos de mais precioso nessa terra. A maioria de nós, sofreu não somente fisicamente quanto emocionalmente os impactos desta doença. Não venham agora falar que se trata de um escândalo, uma tentativa de fugir de obrigações impostas, ou de fraqueza.

É uma vergonha nossa sociedade ignorar o sofrimento destas crianças, especialmente quando um resfriado comum ou uma conjuntivite, doenças controladas sem impactos de grande magnitude, dão direito ao famoso atestado médico e direito a ausência do trabalho ou das obrigações.

E tal vergonha é exacerba no momento em que, de um lado temos o relatório apresentado em 2017, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a depressão como uma das maiores causas de incapacidade para o trabalho do mundo; sendo que categorizada como a doença do século, o transtorno depressivo afeta mais de 5% da população brasileira.

De outro, temos o fato de que o INSS ainda não reconhece voluntariamente a concessão de auxílio-doença acidentário, sendo que as pessoas são obrigadas a discutir os detalhes de sua doença perante a Justiça, citando-se aqui o nobre trabalho da 16ª Câmara de Direito Público do TJSP, que assegurou ao trabalhador acometido de depressão o seu direito, no processo n. 1011485-16.2019.8.26.0292.

Caros Leitores, estamos aqui falando da moléstia do século, que fulmina a alegria, o psíquico e até mesmo a vontade de viver das pessoas. Desta forma, é nossa função como sociedade acolher essas pessoas e exigir do Estado que as acolham também, dando-lhes dignidade para que enfrentem essas doenças e possam efetivamente buscarem sua própria felicidade. Não há cabimento deixarmos as pessoas viverem esse filme de terror, muito menos abandoná-las neste tormento.

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