Diário de São Paulo
Siga-nos

Papa Francisco assina encíclica sobre a fraternidade, apesar de acusações de sexismo

O Papa Francisco assinou a encíclica “Fratelli tutti” neste sábado (3) na cripta da Basílica de São Francisco de Assis, onde se encontra o túmulo do santo

Papa Francisco assina encíclica sobre a fraternidade, apesar de acusações de sexismo
Papa Francisco assina encíclica sobre a fraternidade, apesar de acusações de sexismo

Redação Publicado em 03/10/2020, às 00h00 - Atualizado às 19h47


O título ‘Fratelli tutti’, baseado em uma citação de São Francisco, é considerado sexista por grupos de mulheres que buscam igualdade de gênero na Igreja Católica.

O Papa Francisco assinou a encíclica “Fratelli tutti” neste sábado (3) na cripta da Basílica de São Francisco de Assis, onde se encontra o túmulo do santo padroeiro da Itália e patrono dos animais, logo após a celebração da missa solene. Por causa da pandemia, participaram da cerimônia apenas alguns frades e freiras sem a presença de fiéis. A nova carta papal, a terceira do seu pontificado, é dedicada a fraternidade entre os povos num mundo em conflito acentuado pelo Covid-19. Mas o título do texto foi acusado de excluir as mulheres.

Papa Francisco manda um beijo ao chegar para sua audiência na Praça de São Pedro — Foto: Vicenzo Pinto/ AFP

Papa Francisco manda um beijo ao chegar para sua audiência na Praça de São Pedro — Foto: Vicenzo Pinto/ AFP

O título “Fratelli tutti”, baseado em uma citação de São Francisco, permanece em italiano. Somente o conteúdo foi traduzido em vários idiomas. O texto da encíclica completa será divulgado no domingo (4), dia da festa de São Francisco de Assis.

Neste sábado, durante a sóbria cerimônia, o Papa não pronunciou a homilia e não falou da encíclica. Logo após a assinatura do documento, ele foi aplaudido por alguns religiosos. Depois dos aplausos, Francisco, descontraído, pediu a três assistentes que se aproximassem ao seu lado no altar.

No entanto, teólogas, acadêmicas e grupos de mulheres que lutam por direitos iguais expressaram forte perplexidade já antes da encíclica ser publicada. Segundo organizações católicas femininas, o uso da palavra “irmãos” no título, sem mencionar a equivalente “irmãs”, ressalta a posição marginal da mulher na Igreja Católica. O movimento progressista Nós Somos Igreja (International Movement We Are Church) definiu o título da carta pontifícia como “sexista”.

“Esta é uma encíclica importante sobre justiça social para nosso mundo pós-Covid. No entanto, infelizmente, o papa Francisco está minando sua mensagem importante ao escolher o título sexista de ‘Fratelli tutti’”
— escreveu Colm Holmes, presidente da We Are Church International.

Holmes lembrou que quando o Papa Francisco foi eleito há sete anos suas primeiras palavras para milhões de fiéis pronunciadas na sacada da Basílica de São Pedro foram: “Irmãos e irmãs, boa noite!” (Fratelli e sorelle, buonasera! em italiano)

“As palavras foram recebidas com grande alegria, especialmente pelas muitas mulheres presentes. Então, por que ele agora volta para um antiquado “Fratelli tutti” que, em 2020, certamente não inclui “irmãs”?”, comentou o presidente do movimento.

Organizações de mulheres católicas escreveram ao sumo pontífice expressando sua “profunda preocupação” com o título de sua próxima encíclica. Embora as signatárias da carta aberta enfatizassem seu apreço pelos ensinamentos do papa, ressaltaram que um título exclusivo de gênero pode ser um “obstáculo sério”.

A carta aberta, postada no site do Conselho de Mulheres Católicas, foi endossada por 30 organizações de todo o mundo, incluindo a Associação de Mulheres Católicas Alemãs, que tem mais de 400 mil membros. As católicas argumentam que “o substantivo masculino distanciará muitos em um momento em que as mulheres em muitos idiomas e culturas diferentes sofrem por ouvir que o masculino é entendido em um sentido genérico”.

Vaticano responde as críticas

O diretor do Dicastério para a Comunicação, Andrea Tornielli, publicou um editorial no Vatican News – portal de notícias oficial do Vaticano – no qual explicou que “visto que é uma citação de São Francisco, o Papa obviamente não a modificou”. Mas “seria absurdo pensar que o título, em sua formulação, contenha alguma intenção de excluir dos destinatários mais da metade dos seres humanos, ou seja, as mulheres”.

O Padre Enzo Fortunato, diretor da sala de imprensa e do Sagrado Convento de Assis escreveu um editorial na revista San Francesco ressaltando que: “Entre outras coisas, o próprio São Francisco também chamou sua amiga mais próxima de “frade Jacoba”, removendo portanto, toda dúvida e incerteza às polêmicas estéreis ”.

9 de setembro - O papa Francisco foi visto de máscara em público, pela primeira vez, nesta quarta-feira (9), acessório que ele removeu rapidamente antes de sair do carro que o transportava para a audiência geral, no pátio de San Damaso, Vaticano. Segundo informações da agência AFP, depois de tirar a máscara, o papa evitou apertar mãos e beijar as crianças — Foto: Vincenzo Pinto/AFP

9 de setembro – O papa Francisco foi visto de máscara em público, pela primeira vez, nesta quarta-feira (9), acessório que ele removeu rapidamente antes de sair do carro que o transportava para a audiência geral, no pátio de San Damaso, Vaticano. Segundo informações da agência AFP, depois de tirar a máscara, o papa evitou apertar mãos e beijar as crianças — Foto: Vincenzo Pinto/AFP

Papa Francisco e as mulheres

Em janeiro de 2020, o Papa Francisco pela primeira vez designou uma mulher para ocupar um cargo de alto nível no Vaticano. Trata-se da advogada laica Francesca Di Giovanni, que atualmente desempenha função de vice-ministra da Secretaria de Estado da Santa Sé, órgão equivalente ao governo central do Estado. Ela tem ampla experiência em questões relacionadas a migrantes e refugiados, direito internacional humanitário e direito internacional privado.

Em abril deste ano, o Papa Francisco criou uma comissão para refletir sobre o a possibilidade de instituir o diaconado feminino. A comissão internacional tem cinco mulheres, incluindo as teólogas francesa Anne-Marie Pelletier e suíça Barbara Hallensleben. A ordenação de mulheres diáconos é um debate controverso dentro da Igreja Católica. Diáconos podem proferir o sermão na missa, celebrar batismos, casamentos e funerais. Atualmente, apenas homens podem ser ordenados.

Em 7 de agosto deste ano, o Papa Francisco nomeou seis mulheres como especialistas leigas no Conselho para a Economia, cujo objetivo é supervisionar as estruturas e atividades administrativas e financeiras da Santa Sé. Nunca antes foram designadas mulheres para este corpo de 15 membros (incluindo oito cardeais ou bispos), criado em 2014 por Jorge Mario Bergoglio.

.

.

.

Por G1

Compartilhe  

últimas notícias