Antes do presidente Jair Bolsonaro confirmar a repatriação dos brasileiros que moravam em Wuhan, cidade da China que é o epicentro da epidemia do coronavírus,
Redação Publicado em 15/02/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h22
Antes do presidente Jair Bolsonaro confirmar a repatriação dos brasileiros que moravam em Wuhan, cidade da China que é o epicentro da epidemia do coronavírus, eles conviviam com o medo e a apreensão de não conseguirem fugir da doença. Agora, é um grupo de 50 estudantes nigerianos que passa pelo mesmo problema e se vê abandonado a própria sorte, sem qualquer auxílio das autoridades e cada vez mais isolados.
“A cada dia que passa, as chances de evacuação diminuem. Essa total falta de suporte e apoio nos faz ter a sensação de que estamos sendo abandonados pelo nosso governo”, lamenta Victor Ikechukwu Vincent, de 26 anos, em entrevista à rede CNN. Estudante de geociência na Universidade da China desde setembro de 2018, ele disse que recebeu cerca de R$ 12,4 mil do embaixador nigeriano na China no dia 6, mas que a situação começa a ficar preocupante.
“O dinheiro, segundo o embaixador, era para auxiliar na compra de alimentos e remédios. No mais, tudo permanece do mesmo jeito que estava quando o isolamento de Wuhan começou, há cerca de três semana. Nós não temos indicações claras de como e quando seremos evacuados, onde será a quarentena e se ela sequer acontecerá”, afirma Vincent.
Questionado sobre a situação dos colegas, ele afirma que muitos já estão começando a perder as esperanças em um resgate e que o confinamento nos apartamento só piora o sentimento de isolamento: “na primeira semana, você até entende que não tenha sido evacuado por uma questão de tempo, de logística ou algo assim. O que não dá para entender é o motivo de outros países conseguirem resgatar seus cidadãos, menos a Nigéria. Por que não recebemos nenhum tipo de apoio?”.
Segundo ele, os momentos de maior tristeza acontecem quando colegas de outras nacionalidades são retirados e retornam aos seus países de origem. O último grupo a deixar o local era de Myanmar. Antes de ir, eles passaram em seu dormitório para se despedir a deixar o pouco de comida que ainda lhes restava: “me deram os vegetais frescos que não precisariam mais”.
Vincent diz que vem tentando entrar em contato com as autoridades da Nigéria desde o início do processo, pedindo pela evacuação ou ao menos auxílio para a obtenção de itens básicos para a sobrevivência durante o isolamento, mas todas as solicitações foram ignoradas até o momento.
No último dia 31, o grupo de estudantes recebeu o que até agora é o único contato feito pelo governo. Em uma carta, a embaixada da Nigéria dava informações sobre cuidados médicos e avisava sobre a importância de permanecer dentro dos dormitórios e utilizar máscaras. Sobre uma possível evacuação? Nenhuma palavra.
Além dos alunos, que estão espalhados em ao menos três universidades, a comunidade nigeriana na província de Hubei conta ainda com professores e empresários. Um deles, Deji Idowu, fez associação com o surto de Ebola que levou pânico ao continente africano recentemente: “deixou as pessoas com medo. Muita gente ainda tem na memória as imagens daquela tragédia, o que só aumenta a sensação de pavor”.
IG
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