O São Paulo era o melhor time do país há 15 anos. O então diretor de marketing era Julio Casares. Em aparições um tanto histriônicas, marca de vários daqueles
Redação Publicado em 26/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h32
O São Paulo era o melhor time do país há 15 anos. O então diretor de marketing era Julio Casares. Em aparições um tanto histriônicas, marca de vários daqueles dirigentes, Casares surfou com eficiência a onda dos bons resultados e, num tempo em que o profissionalismo ainda engatinhava no futebol brasileiro – hoje até caminha, mas de olhos vendados –, apresentou novidades, de parcerias com o Pernalonga a pedaços do gramado vendidos.
Um de seus hits era prever que o São Paulo teria, num futuro próximo, a maior torcida em território nacional. Casares, provavelmente, jamais acreditou nisso, mas à época fazia parte do show e, de certa forma, movimentava a comunidade.
Agora presidente, ele tem uma missão mais nobre e importante do que promover o exponencial aumento da torcida do São Paulo: impedir que ela diminua, não pelos frustrantes resultados em campo, mas pela constante ameaça de violência sob a qual vivem os que se aventuram a frequentar o estádio e não fazem parte da facção organizada.
Se na última segunda-feira, dia em que comemorou 92 anos de gloriosa existência, o São Paulo pode festejar a derrota da tentativa golpista de retomar a reeleição e sufocar ainda mais qualquer tentativa de se fazer oposição, o que num conceito mais amplo pode-se chamar de democracia, é também obrigação debater os episódios recentes de agressões física, verbal e psicológica praticados por torcedores organizados contra os demais. Todos são-paulinos.
O futebol tem se mostrado uma ilha de conservadorismo. Ações por igualdade, respeito e liberdade não passam de marketing de rede social. Há, isoladamente, aqui e ali, gente que, de fato, se mobiliza por um ambiente onde todos mais possam ser e se vestir como quiserem.
Recentemente, a organizada, incomodada com o “Trikas”, uma inocente brincadeira de internet, verbalizou o que pensa: quem usar brinco, pintar o cabelo ou alargar a orelha não pode fazer parte da facção. O preconceito, ao contrário do que indica o comunicado, atinge também quem está do portão para fora, como mostra a oportuna reportagem assinada pelo jornalista Arthur Sandes, no UOL, na qual torcedores comuns relatam casos de agressão e intimidação.
Quando o clube lançou uma lindíssima camisa cor-de-rosa em campanha pela prevenção e combate ao câncer de mama, rapazes que a vestiam eram ameaçados no trajeto para o estádio.
Como se não bastasse a resiliência diante de consecutivas gestões temerárias, irresponsáveis e amadoras, o são-paulino que insiste em ir ao estádio agora precisa se enquadrar nos moldes de comportamento determinados por um grupo citado em investigação pelo atentado com bomba contra o ônibus que conduzia os jogadores da própria equipe.
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