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Nunes libera R$ 400 mil para compra de fuzis pela GCM

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), publicou no Diário Oficial da última sexta-feira (30) a liberação de uma emenda parlamentar no valor de R$ 400

Nunes libera R$ 400 mil para compra de fuzis pela GCM
Nunes libera R$ 400 mil para compra de fuzis pela GCM

Redação Publicado em 03/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h50


Para especialistas, o armamento pesado é próprio de confrontos e não tem relação com a função comunitária e patrimonial que a GCM tem na Constituição Federal.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), publicou no Diário Oficial da última sexta-feira (30) a liberação de uma emenda parlamentar no valor de R$ 400 mil destinada à compra de 20 fuzis e 10 carabinas para a Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Segundo a GCM, o processo de compra dessas armas deve demorar cerca de um mês e os policiais terão mais 15 dias de treinamento para o uso dos equipamentos.

Ao justificar a liberação da verba, Nunes disse que a emenda parlamentar do Delegado Palumbo (MDB), mesmo partido do prefeito, “é para que a Guarda Civil tenha total condição de continuar dando atendimento à população de São Paulo”.

“Nós estamos falando de uma cidade de 12,5 milhões de habitantes, uma cidade maior que muitos estados, e a visão da Prefeitura de São Paulo tem que ser de acordo com a responsabilidade que é a sua população”, afirmou o prefeito na sexta (30).

Levantamento feito pelo G1 em fevereiro deste ano revela que a Guarda Municipal usa armas de fogo em 19 capitais do Brasil. Em nove dessas cidades, a corporação começou a usar o equipamento há menos de 10 anos. É o caso, por exemplo, de Maceió e Fortaleza, que permitem as armas desde 2018. Em apenas quatro capitais, a corporação não maneja o equipamento: Macapá, Manaus, Recife e Rio de Janeiro.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), no Memorial da América Latina. — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), no Memorial da América Latina. — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Críticas

A decisão do prefeito de autorizar esse tipo de armamento para guardas civis causou estranhamento entre os especialistas em segurança pública.

“Causa muito estranhamento o uso desse tipo de arma pela GCM, porque ele é característico de unidades muito bem treinadas da Polícia Militar e da Civil. Mesmo dentro dessas corporações, não é usado em ronda extensiva. São usadas por unidades de enfrentamento ao crime, não de prevenção, como é o papel constitucional das GCMs no Brasil”, disse Ivan Marques, integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Carros elétricos da GCM de São Paulo na frente do prédio da Prefeitura de SP, no viaduto do Chá, no Centro. — Foto: Divulgação/Leon Rodrigues/Secom/PMSP
Carros elétricos da GCM de São Paulo na frente do prédio da Prefeitura de SP, no viaduto do Chá, no Centro. — Foto: Divulgação/Leon Rodrigues/Secom/PMSP

Segundo Marques, o uso de fuzis e carabinas por GCMs pode causar uma “falsa sensação de segurança e de que as coisas vão melhorar” e coloca em risco o próprio guarda municipal que porta esse tipo de arma.

“Com uso de armamento desse porte, a mensagem que passa é que a GCM vai partir para um papel de enfrentamento. Mesmo que isso aconteça, ela vai estar em desvantagem. O que só coloca em risco a vida do agente e desfigura totalmente a função primordial da guarda para a cidade, que é de prevenção e mediação de conflitos. Se isso se confirmar há um desvirtuamento e estaremos dando muitos passos atrás na cidade”, declarou.

Para a advogada Isabel Figueiredo, ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Pública, o uso de fuzis pela GCM não tem conexão com o papel constitucional da GCM na Segurança Pública.

“Olhando as últimas operações que a GMC de São Paulo tem participado, como o apoio à limpeza da Cracolândia, a remoção de moradores em áreas de risco ou a segurança de áreas pública, o uso de fuzil não tem nenhuma serventia. Não se entra na Cracolândia usando arma longa ou se faz controle de multidões. É um instrumento de mera ostentação, que não tem nenhuma conexão com o papel constitucional que a GCM tem, de polícia comunitária mais próxima da população na mediação de conflitos”, afirmou.

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G1

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