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Número de alunos transferidos para a rede pública em SP cresce 44,4% e inadimplência em faculdades já é a maior da história

A crise financeira decorrente da pandemia de coronavírus tem afetado a educação de milhares de alunos no estado de São Paulo que não conseguiram mais arcar

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Redação Publicado em 21/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h04


De março a dezembro de 2020, 15.615 alunos deixaram as escolas particulares de todo o estado de SP e se matricularam na rede pública, de acordo com governo estadual. Já a inadimplência de alunos do ensino superior subiu 29,9% em 2020 em relação a 2019, segundo Instituto Semesp.

A crise financeira decorrente da pandemia de coronavírus tem afetado a educação de milhares de alunos no estado de São Paulo que não conseguiram mais arcar com as mensalidades de escolas e faculdades particulares, aumentando o número de transferências de alunos da rede privada para a pública e a inadimplência de mensalidades em instituições de ensino superior.

O número de transferências de alunos de escolas privadas para públicas cresceu 44,4% em 2020, de acordo com a Secretaria Estadual de Educação.

De março a dezembro de 2020, 15.615 alunos deixaram as escolas particulares de todo o estado e se matricularam em escolas públicas. Foram 4.804 alunos a mais do que no mesmo período de 2019 (10.811).

Um desses alunos é o filho da professora da rede municipal de ensino Lygia de Lima Medeiros, de 41 anos. Ela transferiu o filho de 15 anos de uma escola particular para uma da rede estadual.

“Transferi por não ter gostado da sobrecarga de atividades da escola dele, além da questão financeira também, que pesou bastante. No começo ele estava receoso, mas aceitou a mudança porque não tinha muito jeito de continuar. No final, ele está gostando”, afirmou.

Lygia perdeu renda durante a pandemia e não teve como arcar com as mensalidades.

“Ano passado eu peguei uma substituição e por isso ganhava R$ 300 a mais, mas perdi muito no que se refere ao poder de compra, por causa do aumento de preços”, conta.

Inadimplência

Dentre os alunos que já estão na faculdade, a perda de renda impacta de forma ainda mais negativa, já que nem sempre é possível a transferência para a rede pública, e os alunos, sem meios de pagar as mensalidades, desistem de estudar, temporária ou definitivamente.

A taxa de inadimplência no ensino superior privado no estado de São Paulo foi de 10,1% no primeiro semestre de 2020, valor 47,7% maior que no mesmo período de 2019, de acordo com um levantamento do Instituto Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil.

Em todo o país, a taxa foi de 11,8% no primeiro semestre de 2020, o que representa uma alta de 29,9% em todo o país em comparação ao mesmo período de 2019. É o maior patamar da história, de acordo com o Instituto Semesp.

Os principais motivos para a inadimplência apontados pelos estudantes foram a redução de renda do aluno ou da família e a perda de renda do aluno ou da família por conta da redução de salários e desemprego, ambas reflexos da pandemia de Covid-19, segundo a Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp).

A falta de renda para o pagamento de mensalidades também impactou na taxa de evasão no ensino superior privado, ou seja, na desistência temporária ou definitiva dos cursos. Em todo o estado de São Paulo, a evasão ficou em 11,2% no primeiro semestre de 2020, número 18,7% maior que no mesmo período de 2019, de acordo com o Instituto Semesp.

Foi o caso da estudante Priscila Junqueira Colombari, de 21 anos, que evadiu no terceiro semestre porque não conseguiu quitar as mensalidades do curso de pedagogia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Ela calcula que sua dívida atualmente chega a R$ 14 mil.

“Estou devendo para a minha faculdade, pois fiquei desempregada durante a pandemia e até agora não consegui quitar. Por conta disso não pude me matricular nesse semestre. Eu trabalhava como estagiária na minha área mesmo, mas perdi o emprego logo que começou a quarentena, entre março e abril do ano passado”, afirma.

A quarentena impactou na renda não só de Priscila, mas também do pai dela, que é corretor de imóveis e perdeu vendas durante o isolamento social. A estudante ainda tentou fazer bicos como vendedora em um shopping, mas voltou a perder o trabalho com as restrições de funcionamento do Plano SP.

“Eu trabalhava no shopping, mas com contrato intermitente, ou seja, só recebia quando ia trabalhar. Desde que fechou tudo, eu não tenho recebido mais. Mês que vem não terei salário. Me sinto um pouco frustrada.”

O ingresso de novos alunos nas faculdades particulares também caiu. No estado de São Paulo, o número de novos alunos registrado no segundo semestre de 2020 foi menor que em 2019, apresentando uma queda de 18,1%, puxada pelo ensino presencial (queda de 31,2%).

A maior queda foi sentida na região metropolitana de São Paulo, que apresentou um número de ingressos 18,6% menor no 2º semestre. Os dados são do Instituto Semesp.

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Fonte: G1 – Globo.

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