Um ex-guarda de 94 anos do campo de concentração nazista de Sutthof, na Polônia, é julgado a partir desta terça-feira (6) em Münster, na Alemanha, pela
Redação Publicado em 06/11/2018, às 00h00 - Atualizado às 14h23
Um ex-guarda de 94 anos do campo de concentração nazista de Sutthof, na Polônia, é julgado a partir desta terça-feira (6) em Münster, na Alemanha, pela cumplicidade em centenas de assassinatos, um caso com um peso simbólico e moral.
O alemão, residente em Münster, é acusado de ter servido entre junho de 1942 e setembro de 1944 nesse campo, situado a 40 km de Gdansk. A procuradoria não divulgou a identidade do acusado, que, segundo o jornal “Die Welt”, seria um paisagista aposentado chamado Johann.
“Ele tinha entre 18 e 20 anos no momento dos fatos. Como vigilante, custodiou o campo, as cercas, as torres de vigilância” enquanto centenas de pessoas “morreram por gás, fuziladas ou de fome”, afirmou à AFP o procurador de Dortmund, Andreas Brendel.
“O acusado sabia de todos os métodos para matar e por isso foi cúmplice do assassinato de centenas de pessoas”, embora não participasse diretamente, informa a ata de acusação.
Segundo o “Die Welt”, o nonagenário negou à polícia, em agosto de 2017, ter estado a par das atrocidades cometidas no campo e afirmou que os soldados também padeciam da escassez de alimentos.
Em Stutthof, primeiro campo de concentração nazista estabelecido fora do território alemão no final de 1939 e um dos últimos a ser liberado pelos aliados, em maio de 1945. Segundo o museu Stutthof de Sztutowo, 65 mil dos cerca de 110 mil deportados morreram.
Controlado pelas SS e auxiliares ucranianos, primeiro serviu para a detenção de prisioneiros de guerra e opositores polacos, noruegueses e dinamarqueses, antes de que os judeus dos países bálticos e da Polônia, sobretudo mulheres, fossem deportados a partir de 1944 no contexto da “solução final” nazista.
Desde a sua libertação, menos de uma centena de funcionários do campo, dos mais de 2.000, acertou as contas com a justiça, segundo o museu.
As audiências acontecerão “em um dia, durante duas horas no máximo”, para que o acusado possa estar “em boa forma física”, segundo o procurador, também responsável por investigações de crimes do nacional-socialismo na Renânia do Norte de Westfália.
Ele será julgado até janeiro no mínimo por um tribunal para menores, já que tinha menos de 21 anos na época.
Um segundo ex-guarda das SS, de 93 anos, pode ser julgado, mas ainda está sendo avaliado se ele é apto para comparecer ou não aos tribunais.
O acusado enfrenta uma pena máxima de 15 anos de prisão. Para Brendel, a pena pouco importa, trata-se principalmente de “uma questão jurídica e moral”.
“A Alemanha deve a familiares e às vítimas dos crimes do nacional-socialismo que se investiguem, ainda hoje, os fatos e perseguir esses delitos”, disse o procurador.
Nos últimos anos, a justiça alemã condenou vários antigos integrantes da SS por cumplicidade em assassinatos: John Demjanjuk, Reinhold Hanning, Hubert Zafke e Oskar Gröning.
Todos eram muito idosos e ocuparam cargos subalternos durante a guerra. Nenhum deles chegou a ser preso por seu estado de saúde. Gröning morreu pouco antes de ser preso.
Desde 2011, uma nova jurisprudência permite abrir diligências por “cumplicidade de assassinato” contra aqueles que participaram no funcionamento dos campos.
Até então, eles somente eram processados suspeitos diretamente envolvidos nos assassinatos dos deportados.
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