Um mês após o acidente que afetou uma das linhas de produção da Refinaria de Paulínia (Replan), a maior da Petrobras no país, ainda são muitas as questões que
Redação Publicado em 20/09/2018, às 00h00 - Atualizado às 11h38
Um mês após o acidente que afetou uma das linhas de produção da Refinaria de Paulínia (Replan), a maior da Petrobras no país, ainda são muitas as questões que cercam o acidente ocorrido em 20 de agosto. Para saber sobre os riscos existentes nesse tipo de estrutura e as precauções necessárias, o G1conversou com uma especialista em explosões.
Professor de engenharia química e coordenador do Laboratório de Análise de Risco Industrial e Segurança Ambiental (L4ris4) da Unicamp, Sávio Souza Venâncio Vianna lembra que não existe “risco zero” nesse campo de atuação, e minimiza sobre o temor de novos acidentes na Replan, principalmente para quem mora e trabalha no entorno.
“Hoje ninguém está exposto a risco maior do que já esteve”, diz.
Apesar da repercussão causada pela explosão, e os impactos gerados com a redução da capacidade produtiva da refinaria, Vianna analisa o acidente por uma outro aspecto. “Talvez que o que a gente está discutindo aqui seja um reflexo do investimento que existe em prevenção, e que anos atrás poderia ser pior”, defende.
“Uma refinaria tem todos os ingredientes para uma tragédia, mas você não vê incidentes o tempo todo”, argumenta.
Simulando uma explosão: ‘Onda de sobrepressão em quatro instantes de tempo numa área de processo’ — Foto: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)/Unicamp
Segundo o professor, que atua com “simulações de explosões”, esse tipo de recurso faz parte dos investimentos em segurança da Petrobras em refinarias como a Replan. São levados em conta, além dos equipamentos e estrutura, cada tipo de material envolvido em uma linha de produção.
Gás natural, gasolina, etanol, óleo diesel, cada um tem uma característica e uma capacidade reativa a explosão, o que gera dados e cenários diferentes no trabalho de precaução.
“Cada combustível tem uma prioridade diferente, e nós fazemos o estudo de cada um para adequar a análise, ter um estudo mais refinado”, explica Tatiele Ferreira, que desenvolveu sua tese de doutorado com o professor Sávio na área.
Simulação de explosão em área de processamento químico em um instante de tempo simulado com o software desenvolvido pela FEQ — Foto: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)/Unicamp
Sávio e Tatiele trabalham no desenvolvimento de um software 100% nacional, desenvolvido na Unicamp, que realiza essas simulações.
“Esse tipo de modelagem que desenvolvemos aqui leva em conta isso. Até por que um acidente numa área que forma gás é diferente que no craqueamento da refinaria.”
Na avaliação dos profissionais, o trabalho com gases é o mais “perigoso”. “Quando acontece um acidente com combustível líquido, ele vai incendiar e formar o que chamamos de ‘incêndio em poça’. É ‘menos ruim’, já que fica confinado, queimando”, explica Sávio.
Professor Sávio Vianna, da Unicamp, é especialista em explosões — Foto: Fernando Evans/G1
E os riscos de explosão ou acidentes em uma refinaria não estão relacionados apenas ao material que é refinado. Há muita pressão e outros materiais perigosos envolvidos no processo, como o hidrogênio, “muito mais reativo” que o metano, destaca o professor.
Tatiele Ferreira auxiliou no desenvolvimento da ferramenta da Unicamp que simula explosões — Foto: Fernando Evans/G1
“Existem dois tipos de mecanismo de explosão. A deflagração e a detonação. O mais comum em áreas de processo é a deflagração, o outro é mais severo. A diferença é a velocidade que a chama se propaga. Na detonação, a chama avança na velocidade do som, ou acima. Na deflagração, abaixo da velocidade do som”, diz.
O engenheiro químico completa: Quando ocorre a explosão, o ‘bang’, a onda de choque, chega primeiro que a chama. Na detonação, as coisas se confundem. E o hidrogênio detona!”
Área afetada pela explosão na refinaria Replan, em Paulínia. — Foto: Arte/G1
Maior refinaria da Petrobras no Brasil, a Replan começou a ser construída em 1969 e foi inaugurada em 1972. Sua capacidade produtiva com 100% da produção é de 434 mil barris por dia. Após o acidente, a planta opera com 50% da capacidade.
Em uma unidade dessas dimensões, investimento em segurança e prevenções são constantes, e a refinaria é monitorada por órgãos reguladores, como a ANP e a Cetesb, por exemplo.
“Em primeiro lugar, é desenvolvido um plano de análise de risco, qualitativa e quantitativa, para conhecer os riscos. A explosão tem uma contribuição para o risco, e a Petrobras tem amplo conhecimento disso”, destaca o professor.
No entanto, sistemas para análise de riscos e eventuais explosões como o desenvolvido na Unicamp não eram disponíveis na época.
“Quando a refinaria foi concebida não tinha uma tecnologia dessas, mas ela (Replan) se adequa. Os planos precisam ser renovados de tempo em tempo, por segurança. Até por força de lei, a Petrobras investe muito em pesquisa e desenvolvimento”, argumenta.
Morador registrou fogo na Replan, em Paulínia no dia 20 de agosto. — Foto: Reprodução/TV Globo
Como não teve acesso aos dados que provocaram o acidente na Replan, Vianna acredita que a Petrobras ainda esteja tentando “entender” ou “descobrir” os motivos que levaram um dos setores da refinaria a explodir e incendiar antes de retomar 100% da produção.
“Enquanto não se souber ao certo o que provocou isso, não tem porque retomar. Não é só substituir as peças. É como se o seu carro desse problema antes de uma longa viagem. Você precisa entender o que aconteceu com ele, para não correr novos riscos”, compara Vianna.
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