por Danilo Talanskas
Publicado em 08/11/2022, às 09h43
Todos nós sempre tivemos pontos a melhorar em nossas trilhas profissionais e a literaturaa respeito é farta. Por esta razão, resolvi olhar pelo meu próprio retrovisor e identificar as pedras de tropeço que possam estar à sua frente, para que você possa removê-las. São na maioria das vezes autoimpostas, e se referem às diversas formas que você se relaciona profissionalmente. Estão ligadas à natureza humana e independem de tecnologia, idade, gênero e experiência. Podem sempre aparecer. Vamos lá:
1 - Ver os seus pares como concorrentes.
Quando você olha muito para os lados, pode perder o foco do que está na frente. Ficar constantemente medindo o nível acadêmico, qualificações e entrega de seus pares, faz com que você perca também o foco em você mesmo, pois o padrão passa a ser uma outra pessoa e não a sua própria capacidade e o seu potencial.
Nessa situação acontece outro fenômeno: seus colegas sentem isso de uma forma ou de outra e uma barreira acaba sendo erguida. Por outro lado, muito se pergunta sobre os segredos de ser um "team player" e como se chega lá. O início é muito simples; o desejo sincero de ajudar os seus pares. O caminho você vai encontrar, pois esse desejo sincero é o grande impulso.
Justamente quando você passa a se preocupar pelos pares e não com eles, é que se cria um clima de confiança e quanto mais membros do time forem assim, melhor a harmonia, melhor os resultados. Nesse momento é que começam a ser forjados e identificados os futuros líderes, uma vez que começam a ser respeitados antes de se tornarem gestores ou serem promovidos.
Tenho a certeza de que todos já passaram a experiência oposta: a de ter como nova gestão, alguém que era do grupo, mas com muito foco em sua própria carreira, sendo um "rolo compressor" para todo o resto. A liderança já começa com falta de engajamento.
Vem à minha mente um especialista de vendas que dava apoio a uma linha específica de produtos, em uma companhia de tecnologia. Nunca o vi sem um sorriso nos lábios. Em muitos casos você enxerga a capacidade das pessoas, mas no caso dele se via o grande prazer em fazer isso e de apoiar o os membros do mesmo time, fossem quais fossem as suas dificuldades. Sua carreira progrediu rapidamente. Foi o diretor regional para o Brasil e hoje é responsável por uma unidade de negócios para as Américas, trabalhando no exterior.
Não havia barreiras para o Maurício, pois ele tinha algo muito difícil de se alcançar. Era genuíno no que fazia. Uma vez que você decide por esse caminho, não adianta fazê-lo como uma "lição de casa". É preciso autenticidade e seus pares precisam não só ver, mas sentir essa atitude.
Quando você tira essa pedra de tropeço em ver seus pares como concorrentes, você vai perceber o oposto: estes serão os impulsionadores de sua carreira.
2 - Ignorar a força da assertividade
Há uma variação muito grande entre as pessoas que são mais silenciosas e se expressam pouco em reuniões e aquelas que falam bastante. As culturas das companhias e até mesmo os países de origem fazem uma grande diferença na expectativa de como se portar nessas ocasiões.
Gosto da palavra assertividade, pois quando alguém é muito reservado, não se sabe se é timidez, se não tem convicção ou, se é a "sabedoria" que aguarda para se expressar no momento certo. Por outro lado, quando alguém fala bastante, é preciso prestar muita atenção no conteúdo para se medir se a qualidade é constante. Na minha observação, a pessoa assertiva é aquela que fala a coisa certa na hora certa e isso é um grande desafio.
Tive um colega de time que cuidava de várias regiões da América Latina, enquanto eu era responsável pelo Brasil. Cubano, naturalizado americano, tinha uma participação incrível nas reuniões e eu procurava observá-lo muito bem, pois estava tentando passar do espectro dos que falam menos e me aproximar mais do estilo dele.
O Larry (Laureano), foi uma das poucas pessoas que conheci que falava bastante e com muita assertividade e era bem respeitado por isso. Não há nada de errado com uma personalidade expansiva e comunicativa. O importante, é a assertividade. O perigo é confundir a ânsia de participar e marcar a sua presença, com a demonstração de um "show" sem muito conteúdo. Por outro lado, a missão de quem fala pouco é muito pesada, pois quando se manifesta, suas impressões devem ter um impacto maior do que o normal.
Em uma ocasião, quando presidia outra companhia, o diretor financeiro trouxe três analistas para fazer uma apresentação para todo o staff diretivo. Eram dois jovens e uma moça. Os três portaram-se muito bem com o Power Point e mostraram os números com muita desenvoltura, embora a moça fosse um pouco mais tímida.
As perguntas foram sendo respondidas por todos, mas conforme se tornavam mais profundas e complexas, a moça foi ficando sozinha dando todas as respostas. A primeira impressão da pessoa retraída foi substituída por sua assertividade e no final da reunião, ganhou um claro destaque entre os três. Um desses caprichos do destino fez com que a Ana Paula se tornasse minha nora e mãe de uma linda neta, mas naquela reunião foi a primeira vez que a vi.
Desenvolver a assertividade é um grande desafio, mas pode ser o diferencial tanto se você tiver um estilo mais retraído ou se for alguém expansivo. No final, é a qualidade do que você fala e o impacto na apresentação ou na reunião o que realmente importa.
3 - Ser um "tampão" das carreiras de sua equipe
Quem faz gestão tem três dimensões para administrar: os resultados, as pessoas e as carreiras de cada um. Muita gente faz bem as duas primeiras, o que já é um desafio. Infelizmente você vai encontrar um número elevado de líderes que foca só na primeira: entrega dos resultados e ponto final.
Note que cuidar muito bem dos objetivos e manter a equipe motivada, faz com que você se concentre muito no presente: as dificuldades operacionais, as arestas entre pessoas, fazer "coaching" com os que precisam de ajuda...e por aí vai.
Separar a gestão de carreira da gestãode pessoas, faz com que sua atenção se volte para algo muito precioso, que é o futuro. Você vai encontrar um número muito reduzido de pessoas que se satisfaz muito tempo apenas com o presente. Quando você mexe com o futuro de alguém, traz outros componentes emocionais no engajamento: esperança, desafios, visão ampla e autossuperação. Na realidade, a esperança no futuro fortalece a resiliência para os desafios do presente.
Por essa razão, esse aspecto faz parte intrínseca do papel de liderança. Independente se a companhia tem ou não processos de gestão sólidos, de abrir ou não novas oportunidades para promoções, de investir ou não em treinamento e desenvolvimento. Incrível quantos se escondem atrás da ausência desse personagem inglês que todos chamam de "Budget". Sabe-se bem que você pode ter muito dinheiro para motivar um filho, mas se ele não tiver o sonho e o desejo, não chega a lugar nenhum. O oposto, entretanto, acontece com muita frequência.
Alguém cumprindo o papel apenas do título de gerente que está no cartão de visita, poderá ter dificuldade em ajudar a construir a carreira de cada um de seu grupo, mas se incorporar a missão de liderança, vai encontrar maneiras de fazê-lo. Tive um gestor que ao reconhecer o meu potencial para uma determinada posição, junto com essa visão, me trouxe a realidade do quanto faltava para eu chegar lá. Cheguei a ficar em dúvida se ele havia despertado em mim apenas um sonho impossível, ou se estava mesmo falando sério.
Suas cobranças, correções, paciência de ensinar, a calma nos momentos em que minha "corda" estava prestes a se romper, tudo isso por dois anos a fio até a oportunidade chegar, provaram que ele estava falando sério. Por essa razão, o Sérgio teve uma influência tão grande em minha carreira. E mais... fez isso com cada membro do time!
Passei a ter o mesmo objetivo durante toda a minha jornada. Vi o meu papel de ser o "propulsor" de carreiras de todos que trabalharam comigo. Hoje, um número enorme de ex-colaboradores são CEO's ou estão em muitas posições de destaque. Alguns alçaram vôos muito mais altos do que eu e são líderes globais em suas responsabilidades. Outros, simplesmente foram felizes no que fizeram. As conquistas se devem todas ao mérito próprio de cada um. Apenas abri as portas, não segurando o potencial quando passaram por mim.
No final, estas são as recompensas que o tempo traz. Não consigo lembrar o que exatamente faziam no dia a dia, mas, hoje ficou a amizade e a tremenda satisfação de vê-los onde estão!
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