O excesso de tempo em frente a telas é considerado um dos principais fatores para o aumento do sedentarismo e do ganho de peso entre os jovens. Um estudo,
Redação Publicado em 27/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h41
O excesso de tempo em frente a telas é considerado um dos principais fatores para o aumento do sedentarismo e do ganho de peso entre os jovens. Um estudo, desenvolvido na Universidade de Helsinque, na Finlândia, procurou entender se é possível reduzir os efeitos adversos desse comportamento entre pré-adolescentes e adolescentes. Segundo os pesquisadores, seis horas ou mais de lazer ativo por semana podem diminuir as chances de ganho de peso em adolescentes por causa do excesso de tempo mediado pela tecnologia, com celular, tablets, computadores e TV.
Ao longo de três anos, os autores do estudo acompanharam cerca de 4,7 mil jovens, com objetivo de investigar se hábitos sedentários aumentam o risco de ganho de peso acima do peso em adolescentes. A pesquisa ainda buscava entender até que ponto a prática de atividades físicas no tempo livre poderia reduzir esse impacto. Os participantes, que, no início da pesquisa, tinham 11 anos, responderam questionários sobre uso de eletrônicos e atividades físicas nos momentos de lazer e tiveram o seu Índice de Massa Corporal (IMC) verificado.
Para o pediatra e médico do esporte Marcelo Riccio Facio, essa é uma pesquisa muito bem conduzida, que conseguiu estabelecer uma associação de causa e efeito entre o sedentarismo decorrente do uso de eletrônicos e obesidade. Pediatria do esporte do Laboratório de Performance Humana, da Casa de Saúde São José, Marcelo comenta que essa relação entre o excesso de telas e o ganho de peso já é conhecida entre adultos. Contudo, a pesquisa delimita que isso se dá também entre os mais jovens: as crianças que passavam mais tempo sedentárias foram as que estiveram mais acima do peso. Os pesquisadores categorizaram a prática de atividades no momento de lazer em três níveis: 0 a 5 horas (baixo), 6 a 8 horas (moderado) e maior que 9 horas (alto) por semana.
– Os pesquisadores informam que ainda não havia um trabalho que mostrasse isso dessa forma e tentaram estudar essa associação de forma prospectiva e longitudinal. Eles conseguiram mostrar onde gira a chave. A pesquisa identificou que seis horas semanais de atividades físicas de lazer reduzem esse risco – declara o pediatra e médico do esporte.
Mestre em Ciências da Saúde, com ênfase em fisiologia do exercício, o educador físico Thiago Ferreira observa que, ao associar o sedentarismo e o risco de excesso de peso entre crianças e adolescentes, a pesquisa deixa claro que as atividades físicas no momento de lazer são capazes ajudar no enfrentamento de um dos grandes problemas de saúde pública da atualidade: a pandemia de obesidade infantil. Master trainer nacional da Rede de Academia Bodytech, Thiago argumenta que o estudo não traz recomendações sobre intensidade dos exercícios, porém deixa claro que trocar o tempo livre em frente às telas por atividades físicas permite diminuir as chances de esses meninos e meninas tornarem-se obesos em um curto prazo.
– O que importa é se mexer, diminuir o tempo sentado ou deitado em frente à TV, tablet ou celular. Essa é a principal mensagem do estudo. O tempo sentado pode aumentar o risco não só de aumentar o peso, mas também do aparecimento de doenças, como as cardiovasculares, associadas à falta de movimento – afirma Thiago.
O pediatra lembra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o uso de tecnologia não deve ultrapassar duas horas diárias, sem considerar o tempo de telas para atividades escolares. Além disso, para além das atividades no momento de lazer, a OMS indica ainda a prática de 60 minutos de exercícios físicos por dia entre crianças e adolescentes. Marcelo pondera que o contato com a tecnologia e os eletrônicos é inevitável e que esses avanços vêm transformando as profissões, inclusive. Por isso, não se trata de uma questão de proibir, mas de seguir essas recomendações, como a proposta pela pesquisa para a inclusão de lazer ativo, para reduzir os efeitos do sedentarismo em crianças e adolescentes.
– A criança é ativa por natureza, mas, se ela não tiver estímulo, buscará o caminho mais fácil. Os videogames e jogos online, por exemplo, são muito atrativos. Mas, quando a gente imagina o momento de lazer de criança e adolescente, pensa em brincadeiras na praça, andar de bicicleta ou skate ou jogos com irmãos e amigos. É preciso buscar outras saídas e os pais devem estimular isso. Se quem cuida, não incentivar essas atividades, fica mais fácil para a criança e o adolescente aderirem a comportamentos sedentários – constata o pediatra.
Segundo o profissional de Educação Física e fisiologista do exercício, o comportamento sedentário estimulado pelo excesso de telas passou a inspirar ainda mais atenção com a pandemia de Covid-19, já que as pessoas começaram a se movimentar menos no dia a dia. Entretanto, é preciso incluir mais atividades físicas na rotina para evitar que o comportamento sedentário favoreça o ganho de peso e cause outros prejuízos na saúde.
– Quando a pessoa está acima do peso, seu corpo está inflamado e ela tende a ter outros tipos de doenças. A obesidade é uma caixinha de surpresas. Junto com ela podem vir outros problemas, como hipertensão, diabetes e alguns tipos de câncer. Imagine só a criança e o adolescente com esse histórico negativo em saúde. Eles podem se tornar adultos com comportamentos sedentários e problemas de saúde. Para uma vida mais saudável e longa, é preciso estar em equilíbrio em todas as esferas. É preciso ter mais movimento, sono de qualidade, dieta balanceada e cuidar da saúde mental, através de atividades como esportes, meditação e yoga – comenta o profissional de Educação Física.
Marcelo comenta que, mesmo no curto prazo, é possível notar os impactos do sedentarismo. Crianças e adolescentes, ao serem menos expostos às atividades físicas, podem apresentar um movimento motor inadequado e não desfrutar de outros benefícios associados a essa prática, como interação social e relaxamento. O pediatra ainda acrescenta que é importante ficar atento à alimentação e ao consumo de alimentos ultraprocessados. Não à toa, os pesquisadores do estudo finlandês também estabeleceram associação do sedentarismo e do excesso de peso com outras variáveis, como alimentação e o sono.
– Se a criança está em casa, ela pode ficar beliscando. Esse hábito é péssimo. Os jogos eletrônicos também podem gerar ansiedade e prejuízo ao sono, e a criança tende a comer mais. Se tiver em casa uma pera e uma barra de chocolate, a criança vai comer a barra de chocolate. Dessa maneira, são oferecidos a ela inatividade e consumo inapropriado de alimentos – alerta o médico.
Quando meninos e meninas ainda são crianças, fica mais fácil envolvê-los em uma brincadeira ou atividade física. Com a chegada da adolescência, parece mais difícil despertar o interesse deles. Marcelo reconhece que manter os adolescentes mais ativos fisicamente pode ser um desafio maior do que quando ainda são criança. Além disso, é com 11 anos que se completa a alfabetização motora, segundo o pediatra.
Por isso, Marcelo recomenda que esse hábito seja estimulado desde a infância. Dessa maneira, se o jovem não desenvolve habilidades para atividades físicas, que inclua força, flexibilidade, agilidade, velocidade, equilíbrio e resistência muscular, pode acabar perdendo o interesse e se afastar. No entanto, ao descobrir as atividades que podem despertar o interesse do adolescente, é possível envolvê-lo em um lazer mais ativo. Para isso, os pais devem dar exemplo e praticarem exercícios também.
Fontes: Marcelo Riccio Facio é pediatra e médico do esporte. Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é coordenador da pediatria do esporte do Laboratório de Performance Humana, da Casa de Saúde São José.
Thiago Ferreira é profissional de Educação Física e mestre em Ciências da Saúde na fisiologia do exercício. É coordenador do curso de Educação Física da FMU, coordenador e professor dos cursos de pós-graduação da FMU (SP) e da Estácio e master trainer nacional da Rede de Academia Bodytech.
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Fontes: Ge – Globo Esporte.
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