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Nos braços de Sampaoli

Jorge Sampaoli chegou para fechar com o Santos e dizem por aí que ele já anda buscando por um bom estúdio de tatuagem na agradável cidade do litoral paulista.

Nos braços de Sampaoli
Nos braços de Sampaoli

Redação Publicado em 17/12/2018, às 00h00 - Atualizado às 15h34


Jorge Sampaoli chegou para fechar com o Santos e dizem por aí que ele já anda buscando por um bom estúdio de tatuagem na agradável cidade do litoral paulista. Quem observa as fotos do técnico argentino quando ainda comandava a seleção do Chile, durante a Copa de 2014 e sem nenhuma tatuagem, por exemplo, logo percebe que num curto período de tempo o treinador cobriu os braços com desenhos. E muitos garantem que a influência para essa transformação foi Arturo Vidal e todas suas tatuagens.

Samapoli já possuía algumas, todas discretas, mas de alguns anos pra cá ele decidiu prestar homenagem a bandas icônicas do rock argentino. O braço direito é um espaço reservado a um dos maiores grupos do gênero no país vizinho: Patricio Rey (PR) y sus Redonditos de Ricota, ou Los Redondos , formada por Indio Solari a mediados da década de 80 e de fácil referência nos estádios por lá.

É justamente o desenho vinculado ao segundo – e talvez principal – disco da banda, Oktubre (1986), com um homem de braço erguido segurando uma corrente, o tema preferido das torcidas argentinas na hora de pintar as bandeiras que surgem amarradas nos alambrados. E também foi este o desenho escolhido por Sampaoli para o antebraço direito, acompanhado ainda pelo nome do referido disco em vermelho.

A banda tem uma legião de fãs, do tipo torcedores mesmo. Tamanha era a convocatória nos shows que um deles, em Olavarría no ano de 1997, foi proibido de acontecer pelo prefeito da cidade localizada na província de Buenos Aires. Ele alegou que o município não tinha capacidade para receber o público dos Redondos, além dos antecedentes violentos vinculados às apresentações do grupo em outras cidades do interior. Sempre que tocava, a banda precisava encontrar um lugar fora dos limites da capital Buenos Aires, onde também era mal vista. A escolha era por cidades mais afastadas, e que acabavam convulsionadas pela chegada dos fãs do rock estilo transgressor promovido pelos Redondos.

Los Redondos também se dizem detentores do recorde do POGO MAS GRANDE DEL MUNDO. Pogo é como eles chamam a roda de bate cabeça por lá. É um ritual quase religioso, assim que toca a música Ji Ji Ji, faixa 7 do disco Oktubre, a imensa ronda se abre e o público vai ao delírio chocando corpos uns contra os outros.

Já o braço esquerdo, além do PR vermelho em referência a Patrício Rey, foi reservado espaço para outra banda tradicional no cenário local: Callejeros. E da música Creo vem outra referência marcada na pele do treinador santista: “Creo que educar es combatir, y el silencio no es mi idioma.”

Porém, assim como Los Redondos, os Callejeros também já não existem mais. O grupo se desfez pouco tempos depois de uma tragédia que abalou a Argentina no final de ano de 2004, quando um incêndio provocado pelo uso de sinalizadores matou 194 jovens que foram à casa de shows Cromañón para ver uma apresentação do grupo (essa história já foi assunto no blog aqui). Seus integrantes foram considerados culpados e presos.

Entre tantos rabiscos e desenhos, um precisou ser coberto. O técnico levava uma frase de Che Guevara tatuada no braço esquerdo, mas ela tinha um erro ortográfico em espanhol: “No se vive celebrando victorias, si no superando derrotas.” Este si no deveria ter sido escrito todo junto: sino. Então Sampaoli cobriu o erro com uma grande tatuagem da banda Don Osvaldo, formada pelo ex-vocalista dos CallejerosPato Fontanet, amigo pessoal de Sampaoli.

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Javier Ortiz@Bujacocesto

Apoteósico: a Jorge Sampaoli, entrenador del Sevilla, le hicieron un tatuaje con gambazo. Es “sino”, no “si no”

Enfim, a questão é que o Santos trouxe uma ótima opção para o comando do time. Sampaoli pode até ter deixado uma má impressão na Copa do Mundo dirigindo a Argentina, mas sem dúvida é um técnico de bons trabalhos realizados e representa uma novidade no mercado nacional de treinadores tão viciado nos mesmos nomes de sempre. Desembarca também trazendo essa vontade de se provar, talvez em busca de recuperar o espaço perdido depois do mundial da Rússia, animado para uma recolocação no mercado.

Numa escala pouco simplista, podemos imaginar a escola de treinadores argentinos em uma linha com dois extremos bem marcados: Bilardo em uma ponta e Menotti na outra. Essa linha segue uma escala degrade para os dois lados e com todos os outros treinadores inseridos nela, cada um mais próximo da ideologia com a qual se identifica. E ao longo dela, alguns treinadores conseguiram fincar marcos importantes graças à evolução própria e trabalho, como é o caso de Marcelo Bielsa. E é ali, bem próximo aos treinadores ditos dessa escola bielsista, que está Sampaoli.

Bom, ali ou em algum estúdio de tatuagem de Santos.

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