Por Kleber Carrilho
Redação Publicado em 29/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h13
Por Kleber Carrilho
Este é o meu centésimo artigo no Diário de S. Paulo. Isso mesmo! Há mais de 100 semanas, com algumas pequenas interrupções, coloco aqui algumas linhas, com ideias, análises e previsões sobre o ambiente político.
Nos conteúdos que escrevi nesses dois anos, que já poderiam ser reunidos em um livro, a pessoa mais citada, sem dúvida, foi o presidente Jair Bolsonaro. Por isso, acredito que tenho o dever de explicar a presença tão constante. Afinal, como um homem tão comum pode estar nos meus textos tantas vezes?
Alguém poderia me responder que o motivo é claro: ele é o presidente da República, e eu falo sobre política.
Mas não é tão simples assim. Bolsonaro exerce um papel de referência para mim. Isso porque ele é o personagem principal de um movimento que vi nascendo e, mesmo que não pudesse fazer nada sozinho, talvez eu tenha entrado na onda da maioria e acreditado que a crítica barata, a não-política, o voto no palhaço Tiririca eram só movimentos isolados, um pequeno conjunto de ondas que não atacariam diretamente a democracia.
Naquele momento, eu já era professor universitário, já falava com jovens e, como tal, já influenciava. E não fiz muito mais do que observar com interesse científico. Também nas manifestações de 2013, que chocavam o ovo da serpente, reconheço que não tive a interpretação correta, como muitos democratas não tiveram.
Em vez de tentar “pegar pela mão”, explicar os valores democráticos, a importância das instituições e os fundamentos da política, entendi que aquele era somente um paralelo nacional de tantos movimentos que as redes sociais digitais tinham despertado pelo mundo.
Hoje, ao ver o resultado de tudo isso sendo representado por Jair Bolsonaro na cadeira da Presidência da República, tenho, sim, um sentimento de culpa. E talvez esteja aí uma das explicações para as inúmeras vezes em que ele esteve nos textos. Com certeza, muito mais do que deveria.
Portanto, é hora de, mais do que trazer essa culpa para cá, levá-la para a terapia. E esperar que os próximos cem artigos tenham temas e personagens muito mais interessantes.
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